Renata Barcellos (BarcellArtes)
Atualmente, temos acompanhado pesquisas sobre o uso e os impactos dos modelos de inteligência artificial (IA) sobre a formação acadêmica e o mercado de trabalho. Por exemplo, o ChatGPT e o que traz de positivo e negativo para o desenvolvimento intelectual, o emprego e, consequentemente, os salários. É preciso compreender que essas ferramentas foram criadas pelo HOMEM. Ele precisa utilizá-las de modo adequado. Segundo pesquisas, mais de 50% dos brasileiros usam a IA seja na vida acadêmica seja na profissional.
Outra pesquisa recente no universo do trabalho on-line, nos Estados Unidos, foi constatada uma queda de mais de 5% na sua remuneração desde o lançamento do ChatGPT. Esse estudo traz conclusões importantes: não somente a IA reduz a oferta de emprego como também diminui o valor do trabalho mais qualificado. Outro aspecto: a velocidade com que a IA reduziu empregos e salários dos mais qualificados. Mais um fato interessante: os que utilizaram o ChatGPT como assistente melhoraram em cerca de 40% a qualidade de seus relatórios, comparados aos que não o utilizaram.
Dessa forma, o HOMEM precisa ser mais veloz e inteligente do que a máquina criada por ele. É preciso dominar as possibilidades de uso dessas ferramentas. E sobretudo o conteúdo a ser validado ou não.
As pesquisas mostram que os trabalhadores cujo ofício é analisar textos como dados, tabelas, gráficos... são muito menos atingidos por estes avanços devido à exigência de uma análise mais sofisticada, pela reflexão, estabelecimento de relações... Para isso, a máquina ainda não atingiu este grau de refinamento das informações. O HOMEM deve analisar os produtos resultados dessas ferramentas.
No Colégio Estadual José Leite Lopes (NAVE RJ), realizamos duas experiências com o uso dessas ferramentas com autores da Segunda Fase do Modernismo. Constatamos até o momento que não é eficaz para a elaboração (muitas vezes) de certos gêneros textuais como crônica e manifesto. E não domínio do conteúdo. Por vezes, Drummond aparecia com outra naturalidade. E também não como o autor mas citado em comandos nos quais se solicitava como o autor X reescreveria a obra Y no formato de crônica... Exemplos de produção textual pelo ChatGPT (MICROCONTO) de Drummond sobre a tragédia, no Rio Grande do Sul:
MICROCONTO 1: Céu cinzento, chuva implacável. Águas da barragem rompida avançam rápidas, levando tudo em seu caminho. Gritos de desespero ecoam pelas ruas inundadas. Famílias inteiras arrastadas pela correnteza, sem chance de salvação. Lama e destroços recobrem a paisagem devastada. Dor e luto se espalham pela comunidade enlutada. Uma tragédia que deixará marcas indeléveis nessa terra”.
MICROCONTO 2: “Na pequena cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, o fogo consumiu mais que um prédio. Era noite de festa, música e juventude. De repente, o pânico se espalhou como chamas invisíveis. Gritos abafados, portas trancadas. Lá fora, pais esperavam notícias que nunca desejariam ouvir. O céu, outrora estrelado, foi coberto pela fumaça densa e pelo silêncio do luto. Nessa noite, o Brasil inteiro chorou, percebendo que a tragédia não conhece fronteiras, e que a dor de uns é a dor de todos”.
Depois, propomos a elaboração de um produto com base na IA para a apresentação das obras da Segunda Fase do Modernismo Brasileiro: Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Rachel de Queiroz, Jorge Amado, Erico Verissimo, Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles e Vinicius de Moraes. Os alunos do terceiro ano do Ensino Médio, do Colégio Estadual José Leite Lopes produziram:
a imagem dos autores como se estivessem na atualidade como uso do ChatGPT como a do escritor Joel Rufino dos Santos.
b texto elaborado por esta ferramenta com o seguinte comando: PROMPT: me escreva um texto no estilo de escrita de Lima Barreto
O Labirinto da Burocracia
“No escuro e abafado escritório da repartição pública, Sebastião Cardoso, de semblante cansado e olhar perdido, passava os olhos pelas colunas de números e palavras que já não faziam sentido. Lutara arduamente para conquistar aquele posto, mas a vitória havia se transformado em amargura, seus sonhos de fazer a diferença dissipados no labirinto de carimbos e assinaturas que sufocavam qualquer iniciativa. Lembrava-se das palavras de sua mãe, que acreditava que estudo e trabalho honesto eram as chaves para um futuro melhor, mas agora, questionava o que significava realmente "ser alguém". Seria apenas vestir um terno e sentar-se atrás de uma mesa cheia de papéis inúteis? O ciclo vicioso continuaria, ele sabia, e ele, uma peça desgastada na burocracia impiedosa, seguiria em frente, sem a certeza de encontrar a paz que tanto almejava”.
c- Retextualização: parágrafo em imagem
PROMPT: transforme o parágrafo em uma imagem visual
d-Elaboração de texto como se fosse a escritora Djamila Ribeiro
PROMPT: um texto filosófico de Djamila Ribeiro/ Fonte: ChatGPT
Título: O Lugar de Fala e a Centralidade das Vozes Marginalizadas
“Quando falamos em lugar de fala, não estamos negando a capacidade de outros grupos de se expressarem, mas sublinhando a importância de se reconhecer que experiências de vida diferentes proporcionam perspectivas distintas. É uma chamada à responsabilidade de quem ocupa lugares de privilégio para que reconheçam suas próprias limitações e se disponham a ouvir e aprender com as vivências de quem ocupa lugares de opressão. Esse conceito também nos desafia a reconsiderar quem tem autoridade para falar sobre determinadas questões. Por muito tempo, a produção de conhecimento foi dominada por uma visão eurocêntrica, masculina e branca, que se apresentava como universal. No entanto, a experiência de vida e o conhecimento produzidos por grupos marginalizados oferecem insights valiosos e imprescindíveis para uma compreensão mais completa e justa do mundo. Portanto, o lugar de fala é um convite para a construção de um espaço democrático onde todas as vozes possam ser ouvidas e consideradas”.
Através dessas experiências, podemos constatar a criatividade dos alunos para o comando (PROMPT) e se o resultado está condizente com o solicitado. É preciso conscientização da parte de todos de que as ferramentas são para consulta não para apropriação daquele resultado como acabado e nada a se fazer ou verificar sua veracidade. Temos participado de capacitações e, por vezes, quem ministra apresenta as ferramentas como sendo para realizar as atividades e otimizar o tempo do profissional para outras demandas. É preciso ser crítico. Não receber algo como pronto e não realizar ajustes... O HOMEM É (POR ESSÊNCIA) UM SER PENSANTE. Não atrofiemos nossos neurônios, “TICO E TECO” precisam estar sempre na ATIVA. “REFLETIR É PRECISO”. Leia, pense, debata, pesquise e, JAMAIS, SE ALIENE!!! Seja resiliente!!!