*Redação do Facetubes
Sócrates, uma das figuras mais emblemáticas da filosofia ocidental, foi condenado à morte em 399 a.C. A acusação formal contra ele incluía a corrupção da juventude ateniense e a introdução de novos deuses. No entanto, o verdadeiro motivo de sua condenação é mais complexo e está profundamente enraizado nas dinâmicas sociais e políticas de Atenas. Você, leitor, sabia disso?
Perspectivas a Favor e Contra Sócrates
Entre os defensores de Sócrates, encontramos Platão, um de seus discípulos mais notáveis, que escreveu em "Apologia de Sócrates": "Sócrates é o homem mais sábio, porque sabe que nada sabe." Platão defendia que Sócrates, através de sua dialética e busca incessante pela verdade, estava contribuindo para o bem da sociedade, desafiando as crenças estabelecidas e incentivando um pensamento mais crítico e reflexivo.
Por outro lado, havia figuras como Anito, um dos acusadores de Sócrates, que representava a elite política e econômica de Atenas. Segundo Xenofonte em suas "Memoráveis", Anito considerava Sócrates uma ameaça à ordem pública e à estabilidade da cidade-estado: "Sócrates, com suas perguntas, mina o respeito pelos valores tradicionais e pela autoridade, incitando os jovens a questionarem tudo."
A Frase Marcante de Sócrates
Uma das frases mais emblemáticas de Sócrates, que pode ter contribuído significativamente para sua condenação, foi dita durante seu julgamento: "A vida não examinada não vale a pena ser vivida." (Apologia de Sócrates, 38a). Esta afirmação é a essência da filosofia socrática; a importância da introspecção e do questionamento contínuo. No contexto de uma sociedade que valorizava a estabilidade e a tradição, tal ideia era vista como subversiva e perigosa.
A Reação do Povo Ateniense
A falta de reação do povo diante da condenação de Sócrates pode ser atribuída a vários fatores. Primeiro, o clima político da época era de instabilidade e medo. Atenas havia recentemente passado pela Guerra do Peloponeso e enfrentava desafios internos significativos. Sócrates, com suas críticas incisivas às instituições democráticas e sua associação com figuras controversas, como Alcibíades, alienou muitos cidadãos.
Adicionalmente, a estrutura democrática de Atenas permitia que cidadãos comuns participassem do julgamento, e muitos podem ter sido influenciados pela retórica dos acusadores e pela pressão social. Conforme apontado por I. F. Stone em "O Julgamento de Sócrates", "Sócrates era visto por muitos como um provocador que desestabilizava os valores e a moralidade tradicionais, representando uma ameaça ao status quo."
Em suma, a condenação de Sócrates é um evento complexo que reflete as tensões entre inovação filosófica e conservadorismo social. A falta de reação do povo pode ser entendida como uma manifestação de medo e desejo de estabilidade em tempos tumultuados, combinados com a influência poderosa dos acusadores sobre a opinião pública.
Enfim, Sócrates passou sua vida evitando a política ativa, buscando evitar tanto cometer injustiças quanto um fim prematuro. Ironicamente, acabou envolvido em um julgamento de caráter eminentemente político. Esta situação ilustra a máxima de que tudo no mundo é política, quer gostemos disso ou não. Platão relatou que Sócrates afirmou ser o verdadeiro político, em contraste com figuras como Péricles ou Alcibíades, pois se dedicava ao bem das almas dos cidadãos. Esta visão revela duas concepções distintas de política: a dos políticos profissionais, empírica e realista, e a dos filósofos, idealista e racional.
Enquanto Maquiavel exemplifica a primeira abordagem, Sócrates, Platão e Thomas Morus representam a segunda. Para o político profissional, os fins justificam os meios; para o filósofo, os meios e os fins devem estar integrados, sem contradições. Historicamente, a visão prática do político tende a prevalecer, pois se desenrola no presente, enquanto a perspectiva do filósofo é voltada para um futuro que ele próprio não verá, mas que eventualmente pode se concretizar.
Os acusadores de Sócrates foram esquecidos pela história, sendo lembrados apenas devido ao julgamento de sua vítima. Sócrates, apesar de não ter deixado nada escrito, teve seus ensinamentos preservados e estudados por 25 séculos, evidenciando seu impacto duradouro na humanidade.
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