Dino de Alcântara*
Passada a Semana de Arte Moderna, em fevereiro de 1922, no Teatro Municipal de São Paulo, as ideias plantadas pelos modernistas começaram no mesmo ano a ecoar em outras cidades. No Rio, por conta da tradição e da Academia Brasileira de Letras, essas ideias revolucionárias encontraram pouco eco.
Coelho Neto, grande romancista, por exemplo, resistiu às ideias dos futuristas, sendo denominado de Passadista, em contraposição aos Futuristas, tendo como líderes, não só os paulistas, mas gente da tradição, como Graça Aranha, que chegou a dizer (em 1924): “Se a Academia não se renova, morra a Academia".
Travando esse debate na Confeitaria Colombo, no final de 1925 – Humberto de Campos, já membro da ABL, e o senador Magalhães de Almeida, que seria governador do Maranhão entre 1926 e 1930, discutiam se eram a favor do Passadismo ou do Futurismo.
O escritor e imortal da ABL se colocou, por razões óbvias, a favor dos passadistas, por conta do seu padrinho Coelho Neto. O senador codoense, ao contrário, disse que não era passadista. Ao que Humberto, curioso que era, indagou se estava diante de um futurista, como os “bicudos” de São Paulo. O político disse que também não.
E Humberto, com os olhos firmes no seu padrinho político:
– Então, comandante: o senhor não é passadista, não é futurista. O que é então?
Magalhães de Almeida, ante um sisudo cronista da vida brasileira, sorveu um bom gole do delicioso café e debulhou:
– Nem passadista, nem futurista. Sou presencista!
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(*) Dino de Alcântara, convidado da Academia Poética Brasileira.
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