CORRE MENINA LÁ VEM ALMA PENADA.
Soraya Fialho Felix
Todas férias ia com meus pais passar no sítio, eu amava isso.
O sítio era encantador um verdadeiro paraíso, localizado no município de Paço do Lumiar.
Me soltava naquele lugar brincando com crianças que moravam ali, desbravando a mata, tomando banho de rio, subindo em árvores aproveitando tudo que a natureza proporcionava naquele lugar.
Mas, segundo a lenda e para meu desespero, aquela pitoresca cidadezinha era mal assombrada. E não eram só as crianças que me contavam, as pessoas que trabalhavam no sítio se aproveitavam do medo que eu tinha das tenebrosas estórias e se divertiam me assombrando. Diziam que toda quinta feira, a meia noite saía uma alma penada do cemitério, que dava gritos tão alto que, quem escutava fazia xixi na cama.
Deus sabe como tinha medo das noites de quintas feiras, pulava para a cama dos meus pais e não tinha quem me tirasse de lá. Ao meio dia, o currupira (como é chamado aqui), assoviava e quem escutasse ficava encantado entrava na mata e nunca mais voltava, nesse horário me agarrava no colo de meu pai e só saía lá pelas duas da tarde.
A cidade não tinha luz elétrica, a energia alimentada por grupo gerador, era ligado às dezoito horas e desligado às vinte e uma horas, daí meu pai arrodeava a casa com lampiões a gás.
A criançada toda noite decia para a pracinha e faziam o teste das almas que dormiam na igreja. Até hoje não sei porque eu ia. As crianças faziam a fila, todos com um talinho na mão para meter na fechadura da porta da igreja, se o talinho caísse para dentro elas abriam a porta e puxavam o eleito para dentro.
Chegou minha vez, tremia de pavor, meti o talinho e creio eu, por causa da tremedeira o talinho caiu para dentro.Todo mundo saiu correndo, subi a ladeira para chegar ao sítio chorando aos berros chamando pelo meu pai, que já estava no portão. Pulei nos braços dele.
- Filha, você está toda xixada! Já lhe falei que não quero mais ver você ouvindo essa bobagens de alma penada, isso não existe minha *cacuca...
- Existe sim pai, eu vi. Quase me levaram.
Até hoje tenho medo.
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*Apelido dado por meu pai.