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Novo texto de Eloy Melonio, "QUEM NÃO CONTA NÃO PERDE A CONTA"

"Nas esquinas da vida, precisamos tomar decisões rápidas e sábias. Algumas vezes, é “tudo ou nada”. EM

Mhario Lincoln
Por: Mhario Lincoln Fonte: Eloy Melonio
04/08/2024 às 11h45
Novo texto de Eloy Melonio, "QUEM NÃO CONTA NÃO PERDE A CONTA"
Autor: Eloy Melonio

 

 Eloi Melonio*

Para não dizerem que não falei dos números, ei-los aqui. Não são muitos, e sabem contar.

Obedecendo à tradição, vamos começar pelo começo. Ou seja, pela criação do mundo, como está no Gênesis. Porque, até então — se é que havia “então” nessa época —, tudo era apenas um vazio. Na criação, 1 Ser onipotente criou “o céu e a terra”. Até a referência bíblica é original: Gênesis 1:1, pois revela que Deus mandou ver, criando isso, aquilo e aquilo mais. Inicialmente, 1 de cada espécie: 1 dia, 1 homem, 1 mulher. E logo 1 estava cercado de alguns parceiros. Mas manteve sua originalidade: 1 é e sempre será 1. O primeiro da fila, impondo até hoje essa tradição. Por isso, talvez, só exista 1 rei, 1 presidente, 1 papa, 1 pai e 1 mãe. Mesmo assim, há quem diga que “1 é pouco”. Ou que “mais vale 1 na mão que dois voando”. Vascaíno confesso, revigoro-me sempre que ouço o hino do nosso maior rival: “1 vez Flamengo, sempre Flamengo”.

E, aqui, abro um espaço para o 0 (zero). Porque o 1 não admite ninguém antes dele. Já o 0, num contexto positivo, é bem-vindo à direita de qualquer número. Na camisa do Rei Pelé, puro orgulho à direita do 1. Mas, sozinho, ou à esquerda, é uma negação. Um candidato com 0 voto é um "zeracreditado". Concorda comigo? Se é assim, fuja do 0 à esquerda como a língua francesa “foge dos neologismos”. Sinceramente, tem coisa mais chata do que 0x0 num jogo de futebol? Agora, um “zerado” voltando à estaca 0 dá uma boa piada de “stand-up comedy”, não dá? Felizmente, nem tudo está perdido para quem compra um carro 0km.

“Um, dois/ feijão com arroz.” Ah, que saudade das parlendas que deixavam a cabeça das crianças fervilhando! Pois é, 2 também lembra as "duplas", que são indubitavelmente um verdadeiro show. No futebol, os inesquecíveis Pelé e Coutinho (Santos F.C./1960/69). Na música, tantas que não ouso listar aqui. Na dança de salão, por causa da sincronia, 2 tem de ser 2 — indo e voltando. Elis Regina entendia desse bailado: “Te convidei pra dançar/ A tua voz me acalmava/ São dois pra lá, dois pra cá” (Dois pra lá, dois pra cá). Na citação de Quintana, uma triste constatação: “Quando alguém pergunta a um autor o que este quis dizer, é porque um dos dois é burro”. Essa construção numérico-lexical nos lembra que Jesus não hesitou entre os 2 ladrões crucificados com ele. Levou consigo o crente Dimas, hoje santo oficial pelo Vaticano. O outro — ah, coitado! —, acho que esse vive penando por aí, com as 2 pernas pro ar.

Original do texto.

“ABACAXI, 3 é 10.” Juro que essa eu vi. Não comprei porque a banca ficava à margem de uma avenida. Para um gaúcho, essa promoção seria “trilegal”. Numa só noite, o apóstolo Pedro viu a profecia de seu mestre se confirmar 3 vezes. Das muitas coisas que nos escapam, 3 nunca voltam: a flecha lançada, a palavra pronunciada e a oportunidade perdida. A propósito, essa lição foi literalmente vivida por Pedro. Para o Cristianismo, 3 é o número da perfeição, pois representa a “trindade”. Mas, para um boêmio carioca, apenas um jeito de viver a vida: samba, cerveja e futebol. Quem foi o louco que disse que 3 é demais?

“Dois mais dois?” — eu perguntava a um coleguinha. “4” — respondia ele. E eu fechava a operação: “Aqui teu retrato!” (foto ou desenho de pessoa muito feia). E haja risadas! Na escola, nunca fui 4-olhos, mas tinha inveja de quem usava óculos. Hoje, com os meus, vejo melhor as letras do que os números.

Se temos 5 dedos em cada mão e em cada pé, qual deles é o mais útil? Resposta difícil, eu sei. Fiquei assustado quando vi um peladeiro de praia que caía muito. Disseram-me que era por que lhe faltava um dedo no pé esquerdo. Advinhe qual? Se pensou no “mindinho”, parabéns! Gol de placa! E, assim o 5 fica ali, "vai e volta" no meio do caminho entre 1 e 9. Não se pode depreciar nenhum dos nossos sentidos, assim como nenhum dos 5 dedos do pé ou da mão. Se faltar um deles, a coisa fica tão feia quanto o “mindinho” do nosso peladeiro.

Posso estar errado, mas nem todos os números são perfeitos como o 6, uma constatação mais matemática do que religiosa ou filosófica. Aquela coisa do “ser ou não ser” não combina com o 6. Porque o 6 simplesmente é. Os números perfeitos são iguais à soma de seus divisores. E, assim, 6 pode ser dividido por 1, 2 e 3, e a soma desses números é o próprio 6. Experimente fazer isso com o 7, o 8 ou o 9. Sextou! Pois é, o sexto dia da semana vive louco para tomar o lugar do sétimo. Será que isso tá “seistinho”?

No refrão de “Samba da Gávea”, o carioca Wanderley Monteiro revela: “No jogo tem 4, tem 8, tem coringa/ Tem dama, tem rei e tem valete/ Mas a carta que me fascina/ É aquela que tem o número 7”. É, meus amigos, o samba ainda nem era sombra do que é hoje e Pitágoras já dizia que o 7 é “sagrado, perfeito e poderoso”. Quantos são os “pecados capitais”? E as cores do arco-íris? Mas o 7 também traz tristes lembranças. Copa de 2014 (2+0+1+4=?). Alemanha 7 a 1 no Brasil. Só em pensar nisso, meu coração bate 7 vezes mais rápido. Nosso consolo está no 7 da camisa de Garrincha. E nas 7 quedas do Rio Paraná que formam as Cachoeiras do Iguaçu (RS), uma das 7 maravilhas do mundo natural. Se no seu jogo tá faltando o 7, talvez seja a hora de pular 7 ondas na praia da Consolo, mesmo antes do Ano Novo.

Nas esquinas da vida, precisamos tomar decisões rápidas e sábias. Algumas vezes, é “tudo ou nada”. Outras, “8 ou oitenta”. Diante dessa determinação do 8, reparto com você este provérbio japonês: “Caia sete vezes; levante-se oito”. Se não conseguir, é porque seu espírito de fanho é apenas um pobre “8-tado”.

 

Você ainda lembra da prova dos 9? É cheio(a) de 9-horas quando quer impressionar os outros? Se “um é pouco, dois é bom e três é demais”, o que dizer do 9? Sei lá! Talvez o  9 tem tanta coisa para nos revelar que não vale a pena ficar correndo atrás das borboletas.

Confesso que os números não são meu jogo predileto. São frios e metidos a besta. Prefiro as cartas quentes das letras. Por isso tento parafrasear os versos do Wanderley Monteiro: “Na crônica tem palavras, tem números, tem ideias/ Tem humor, tem ironia, tem sarcasmo/ Mas o que me move, afinal/ É este fascínio por sua jogada lexical”.

___

Eloy Melonio é professor, escritor, letrista e poeta.

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Maria LilicaHá 10 meses São Luís Não podia esquecer das cartas que não mentem jamais. Alguém já colocou Taró pra você. Qual a sua religião, Eloy?
Prof. MarcosHá 10 meses Araióses MaAgora entendo porque meu professor de Matemática no Colégio São Luís me falava que Matemática dá poesia. Brilhante texto caro Eloy Melonio. Axé.
Licianny Freitas DinizHá 10 meses Brasília DFProf Elói. É grande sua história. Um texto a altura do Brasil.
MARCELO Faiad, professor e ator. Há 10 meses Rio de Janeiro Um texto pra lá de bom. E por falar em trilegal, gostei desse texto original. Bacana. Supernacana como a gente fala por aqui, em nossas gírias dos anos 70.
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