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editor-sênior, jornalista Mhario Lincoln
Educação SEMANA NAURO

Antonio Oliveira pontua a poesia de Machado como uma reflexão densa sobre a condição humana e o papel do poeta

Portanto, abaixo, os excertos do texto realista de Antonio Oliveira.

07/08/2024 08h45 Atualizada há 1 mês
Por: Mhario Lincoln Fonte: Editoria do Facetubes/Antonio Oliveira
Foto raríssima: Nauro (segundo, da esquerda para a direita) com Manoel Lopes, Bernardo Tajra, Fernando Moreira, Lago Burnett, Cadmo Silva e Domingos Vieira Filho
Foto raríssima: Nauro (segundo, da esquerda para a direita) com Manoel Lopes, Bernardo Tajra, Fernando Moreira, Lago Burnett, Cadmo Silva e Domingos Vieira Filho

 

Essa foto foto acima mostra esse grupo de intelectuais maranhenses por ocasião da entrega do premio "Cidade de São Luís", onde Nauro Machado concorreu com seu livro de estreia "Campo sem Base", em 1957. (Álbum da família de Nauro).

NOTA DO EDITOR: A análise da obra de Nauro Machado, um dos maiores expoentes da poesia brasileira, revela uma profunda angústia existencial e uma busca incessante pelo sentido da vida e da criação poética. Como Antonio Oliveira bem pontua, a poesia de Machado é marcada por uma reflexão densa sobre a condição humana e o papel do poeta. Logo na abertura desse texto (reeditado com excertos escolhidos pelda redação do Facetubes) Oliveira mostra a visão de Machado sobre a poesia, "como uma atividade visceral, quase artesanal", onde o poeta, como um ser profundamente imerso na realidade de sua própria existência, expõe as suas dores e anseios. Quem lê Nauro sabe muito bem que ele expressa uma profunda insatisfação com a existência material, ansiando por uma conexão mais profunda com o universo. A angústia de "nascer para habitar no coração do universo e não nesta casa onde o verme resiste até mesmo no último para/fuso de meus ossos" reflete um desejo de transcendência que é frustrado pela realidade mundana. Este sentimento é intensificado na afirmação de que "nasci para ser salvo deste sonho de existir, querendo entanto - existir," evidenciando a contradição inerente à sua busca por significado.
Para dar maior consistência à análise, podemos traçar um paralelo com a obra do poeta francês Charles Baudelaire, conhecido por sua angústia e visão sombria da existência, especialmente em "Les Fleurs du Mal" (As Flores do Mal). 
Assim como Nauro Machado, Baudelaire explorou o conflito entre a aspiração por uma existência elevada e a realidade degradante da vida cotidiana. Em "O Albatroz," por exemplo, Baudelaire compara o poeta a uma ave majestosa, destinada ao céu, mas que, quando presa à terra, é ridicularizada e incapaz de se mover com graça. Essa imagem ressoa com a sensação de Machado de estar deslocado em um mundo que não lhe pertence.
Portanto, abaixo, os excertos do texto realista de Antonio Oliveira.

 

Nauro Machado: A serpente do Vocábulo*
*Antonio Oliveira.

Poderíamos iniciar estas linhas sobre o poeta Nauro Machado com as palavras inaugurais do Gênesis, ou com estes versos do autor de "Geremias Sem Chorar", como dístico:
"1. Que é Poesia?
uma lira cercada de palavras por todos os lados
2. Que é Poeta?
um homem que trabalha o seu poema com o suor de seu rosto. Um homem que tem fome como qualquer outro homem". Mas preferimos à trasladada mensagem poética do escritor de "Martim Cererê" qualquer poema do mestre de "Campo Sem Base", como, por exemplo, este "Retreta", de "Noite Ambulatória":
"Antes de pedra um pai me houvera feito ou numa cisterna - ao eu nascer - me atirassem para existir no sonho de incognoscíveis águas, pois nasci para habitar no coração do universo e não nesta casa onde o verme resiste até mesmo no último para/fuso de meus ossos".
"Nasci para ser salvo deste sonho de existir, querendo entanto - existir, inda para a morte eu vá e seja duro e inteiriço, como o derradeiro torpedo desfechado das praias da minha consciência, sem a esperança dos deuses sobre-humanos coabitando na saudação de todas as auroras."
Nauro Machado está quase presente no poema, acima transcrito, do poeta paulista, separado por grafemas numerais. Ainda com esta circunstância: a de que trabalha a sua Poesia dentro de uma Ilha, talvez a mais bela e a de maiores tradições poéticas: a Ilha de São Luís do Maranhão.
E labora os seus poemas com o fecundo suor do seu rosto, sem passar fome física, é verdade (benditos sejam os deuses!) mas doido de forme de Beleza, sedento de Amor, isso sim. Curtindo imensamente a sua constante Solidão.
Desde o volume "Do Frustrado Órfico" (1963), que já Antônio Olinto o colocara no seu exato lugar, isto é, entre os melhores poetas do Brasil de hoje, independente de geração ou idade.
Há tempos, numa de suas primeiras críticas sobre Nauro Machado, Antônio Olinto descobriu a violência em sua poesia. Escreveu, então, nosso adido cultural em Londres: 
"De nenhum poeta sei no mundo de hoje que tenha violência mais autentica do que a desse maranhense chamado Nauro Machado, que descobri, há alguns anos, num concurso de Poesia e que é, para mim, o ápice da poesia brasileira pós Jorge de Lima."
Acentuou também Olinto o seu surrealismo ou ultra-surrealismo "porque não mais se trata daquela pura e lúdica liberdade expressional de que, na pintura, Chagall é o grande símbolo, mas também, de um profundo e denso expressionismo: o de quem sabe que o fim das coisas, das pessoas e dos gestos, está próximo. Talvez só restem as palavras e só nelas possamos insuflar um pouco de eternidade." E descobre nele, por isso, "o signo do escolhido para sofrer pelos outros."
Deste seu "Segunda Comúnhão", sobre o qual escreveu Adonias Filho que, nele o poeta "não reafirma apenas a vocação porque estrutura o poema e o verso de forma definitiva", li e reli com encantamento todas as suas produções. Tenho, contudo, preferência por alguns deles, como, por exemplo, este "Prece Inversa": "Eu busco Alguém / eu quero a forma / que me preserve / além de mím / contanto minha com o mesmo olhar que eu tenho agora / para as manhãs / para esta noite!". 
"Taquicardia": "Há vinte e nove anos que eu ouço os grilos/sobre o silêncio da minha matéria / Cresci com eles os rios e as campinas, / sabendolhes o gosto das manhãs / Há vinte e nove anos que eu ouço em mim / a natureza como um coração". 
"Origem", "Os Meninos": "Délcio era tão verde / como o Deus recém" / Cristo está tão verde que de nós se perde que de nós se perde/ junto a Délcio além". 
"O Suborno": "Paz, tento-te na idéia, em si um porto"; "A Condenação", "Subtração", "Dentre o Alimento" e, finalmente, "No Velório de uma Menina do Povo" e mesmo este "Uma Canção Para John Kennedy", talvez sabendo a algo de circunstancial ou tribunício, no entantò belíssimo, com esta amarga indagação inicial que o poeta vem fazendo a si mesmo a cada instante, no percurso diuturno das vinte-e-quatro estações agônicas do Horto de sua Solidão: "Que pode fazer o homem contra a solidão do homem?"
Em seguida surge-nos este "Zoologia da Alma", livro amigo, onde, entre outros magnos poemas, se encontra a whitmania na "Canção Vizinha": "Quando eu fui criança quis saber o caminho dos peitos maternos quando eu fui carne quis saber o caminho dos regos entreabertos / quando eu for crucificado, direi amém a tudo quanto fui".
Este "Poema ao Meu Próximo", também do mesmo livro, equivale a um capítulo de Ezequiel, de Jeremias ou de Jó.
Nele explode este imenso grito de dor que bem poderia ter partido dos lábios contorcidos dessas monumentais figuras humanas da Bíblia ou de um gemido de Camilo Castelo Branco:... "maldito seja o desfeito / mundo dos que vivem sós".
Por último, deixamos de falar, mas não propositadamente, acerca de "Noite Ambulatória" onde cintilam poemas tão importantes como "Nebulosidade". ("Morrei, ò carne! Onde o sonho dorme... E que esta alma, em mim sonho enorme,/ sonhe outro mundo onde nascermos) e "Misserere" ("Morte, ò mãe que espanca todos os filhos de mulher!", por merecerem referência à parte, de "Noite Ambulatória". (...)".

 

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*SIOGE: 50 anos de nascimento de Nauro Machado

2 comentários
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Joizacawpy Há 1 mês São luís Onde se lê eim, leia-se sim. Onde se lê vita, leia-se visita.
Joizacawpy Há 1 mês São luís nascer para habitar o coração do universo... o poeta em verdade é eim visceral, a poesia que vita poema só ressoar bem sob o pedestal da verdade. Que verdade? A verdade do sentir é a coragem de desnudar a alma, se assim não for melhor não escrever se quer uma linha. A verdade do que vem de dentro para o externo é incomparável...
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