Acreditei, porém, fiquei estupefato quando recebi o convite para minha primeira participação no exemplar do Parnaso Poético, o qual eu conheci através do meu grande amigo e incentivador Daniel Maurício que foi o articulador entre mim e os célebres amigos e coordenadores Silvana Mello e Osmarosman.
- Precisamos de um poeta parnasiano e você tem esse perfil - Disse meu amigo exemplar. Com estas palavras despertou-me um artista que mal eu lembrava, atrofiado por desuso. Por alguns momentos pensei, os parnasianos ainda existem? Pouco conhecidos como o cachorro-vinagre, os poetas lutam para vencer a extinção. Será que também ressurgirão os operadores de telégrafo e instaladores de PX? Difícil, mesmo não apresentando mudanças concomitantes com a ciência e filosofia mundial dinâmica, a conservadora poesia mantém-se ativa e além de conservar cria novos admiradores que entre textos chulos e neologismos de mensagens em redes sociais, absorvem o sentido transmitido pela representação literária sintética, mas de conteúdo infinito para os crédulos na sensibilidade humana, jamais substituída pela inteligência artificial.
Aceitei o convite e entrei numa caverna que nem Júlio Verne sabia que existia; lá havia mais amantes da quarta arte do que eu imaginava, num espaço fechado, mas, aconchegante, onde a liberdade de expressão impera e a censura baseia-se no bom senso e não em normas impostas para padronizar pensamentos e opiniões.
Por que demorei tanto para seguir aquela trilha que outrora abandonei por não presumir o belo destino final?
Onde encontrei a paz, faço amizades constantemente e mostro meu interior sem contar quantos me ouvirão ou quantos serão comunicados através dos meios rápidos de comunicação vigentes. Não sei e não me importo se haverá retorno financeiro ou elogios em massa. Quero apenas contemplar um espaço humano onde não há hierarquia, classe social, competição ou repressão.
Não há manual a ser seguido ou estilo pré-determinado; são permitidas mudanças de gêneros, inclusão e mescla de conteúdos e a unanimidade detém-se à crença do poder ilimitado da arte esposada.
O que mudará com o passar dos anos será a praticidade, antes a lenta escrita a nanquim, hoje o computador que me permite correções rápidas sem uso de corretivo físico; antes o correio convencional ainda lento, hoje o correio eletrônico de maior alcance e celeridade; antes a apresentação a um público conciso presente, hoje a quem estiver interessado independente das coordenadas geográficas em que se encontre; antes um arauto sem formação específica munido apenas de seu talento em despertar no próximo uma sensação mais complexa que os órgãos dos sentidos captam e que provocam reações sinápticas inesperadas, como arrepios, lágrimas, gritos, volúpia, e hoje, os mesmos artistas concluem que a sensibilidade humana não sofre mutações transgênicas com o passar dos anos, e mantém a esperança de ver seus descendentes no mesmo caminho que dois amigos percorreram quando adolescentes, competiram, separaram-se por mudança de cidades e reencontraram-se através da literatura que compartilham e cujo itinerário nunca se fechou ao desgarrado poeta hoje militante e realizado.
Edgardo
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