*Mhario Lincoln
Sempre gostei de ler Elvandro Burity. Seja em prosa, verso ou reflexões curtas. Foi um dos 10 primeiros nomes escolhidos para compor a, então, planeada, Academia Poética Brasileira. Esse carioca, ex-marinheiro, hoje, Duque, Comendador, recebedor da Medalha de Ouro da República Francesa, membro das grandes academias nacionais e internacionais, como a francesa "Divine Académie Française des Arts Lettres et Culture", onde tem o título de “Ambassadeur” para o Rio de Janeiro e dezenas de outras importantes comendas. É meu confrade também no Círculo de Embaixadores Universais da Paz. É o vice-presidente regional da APB, na seccional do Rio de Janeiro.
Mas nada disso teria valor não fosse a maneira direta e autêntica como expressa suas ideias através de suas crônicas, poesias e textos. Por isso, escolhi dele, o poema "Escrever uma poesia é..." para resenhar hoje e, assim, também homenageá-lo merecidamente!
Elvandro, de forma simples e direta, magma essencial de sua maneira de ser, convida a mergulhou profundamente na sua alma de poeta, revelando o ato de criação literária como uma experiência "íntima e quase sagrada".
Se não, vejamos: na primeira estrofe, quando o poeta diz "Externar por palavras até o inconfessável... / É sentir, curtir e passar para o papel / um sentimento, mesmo que seja / vago, efêmero ou sufocador". Um verdadeiro Ode à Libertação, sem dúvida.
Já na segunda estrofe, "Viajar no tempo... / Floreando com letras a vida / Deixando o silêncio do coração falar...", o poema conduz a um estado de devaneio, onde o tempo deixa de ser linear e a vida ganha uma nova dimensão através das palavras. É nesse espaço elvandriano que a poesia floresce: o passado, presente e futuro dão-se um "nó de marinheiro", permitindo que as emoções mais íntimas encontrem sua voz. Assim, a expressão "Deixando o silêncio do coração falar..." mostra tanta força existencial, como se Burity dissesse que, muitas vezes, o que não é dito em palavras ressoa com mais intensidade dentro da alma.
Lendo Elvandro Burity força-me a trazer para a mesma mesa a visão do filósofo Gaston Bachelard, que via na "imaginação poética" um poder transformador, capaz de libertar o espírito. Bachelard nos lembra que "a palavra poética é uma palavra de luz e de liberdade". Essa citação se alinha perfeitamente ao sentimento expresso no poema, onde a poesia se torna uma ferramenta de emancipação interior, iluminando os recantos mais obscuros do ser.
Parabéns, pois, confrade Elvandro Burity pela beleza e imersão das palavras, como pela essência da condição humana — aquela que busca incessantemente significado, beleza e, acima de tudo, a verdade de si mesma.
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O POEMA
Elvandro Burity
O poema Escrever uma poesia é...
Externar por palavras até o inconfessável...
É sentir, curtir e passar para o papel
um sentimento, mesmo que seja
vago, efêmero ou sufocador.
Escrever uma poesia é...
Viajar no tempo...
Floreando com letras a vida
Deixando o silêncio do coração falar...
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*Mhario Lincoln é presidente da Academia Poética Brasileira.
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