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"AS CORES DO SWING", Livro de Augusto Pellegrini. Capítulo 20 – O pós-swing – Parte 2

Augusto Pellegrini é membro-efetivo da Academia Poética Brasileira.

03/09/2024 10h16
Por: Mhario Lincoln Fonte: Augusto Pellegrini
Pellegrine/Jazz/Arte:MHL
Pellegrine/Jazz/Arte:MHL

Livro de Augusto Pellegrini

 

Ex-integrante da orquestra de Hines, o cantor Billy Eckstine formou uma banda semelhante em 1944, fundindo elementos de swing com a harmonia do bebop e aproveitando sua própria característica como cantor. Eckstine contratou a cantora Sarah Vaughan, uma espécie de seu alter ego feminino, para vocalizar o bebop com perfeição e dar um colorido diferente à orquestração. Na sua formação, Eckstine contou com músicos do primeiro escalão do jazz – caso dos trompetistas Dizzy Gillespie, Fats Navarro e Miles Davis, dos saxofonistas Charlie Parker, Gene Ammons, Dexter Gordon e Leo Parker e do baterista Art Blakey.


Quando a orquestra de Billy Eckstine se desfez em 1947, Dizzy Gillespie, que acumulava as funções de músico e arranjador, utilizou a base do grupo para formar a sua própria orquestra, deixando de lado pouco a pouco o compasso peculiar do swing e a intelectualidade do bebop e criando uma verdadeira big band, que iria a marcar o jazz orquestrado dali pra frente.


A orquestra de Dizzy Gillespie começara a ser montada e formatada no verão de 1945, exatamente quando o presidente Truman alertava os japoneses que, caso não houvesse uma rendição incondicional, uma potente bomba atômica seria utilizada contra as suas principais cidades (o que veio a acontecer em Hiroshima e Nagasaki).


A orquestra conduzida por Gillespie utilizou um simbolismo decorrente deste infausto acontecimento com a inclusão no repertório de algumas músicas que continham um fraseado irriquieto e uma mensagem embutida e mística, como “Things To Come” (“Coisas que irão acontecer”), de Gillespie, e “Apocalypse In Jazz” (“Apocalipse no Jazz”), de Gil Fuller.


Mais tarde, Gillespie deixou este impressionismo e o bebop de lado e se concentrou em músicas com temas mais alegres e extrovertidos, fazendo jus ao seu temperamento. No final da década de 1940, Gillespie liderou um movimento da música afro-cubana, incluindo a salsa no seu repertório, com a gravação de diversas músicas, como “Manteca”, “Tin Tin Deo” e “Con Alma”.


O modelo free do jazz orquestrado de Gillespie, cheio de nuances futuristas serviu de base para as experiências de outras orquestras, cuja concepção jazzística era diametralmente oposta à do swing.


Esta transição deu origem a um outro estilo, conhecido como progressive jazz, que dava um verniz erudito ao swing, e fazia com que ele perdesse de vez a sua característica dançante. O progressive jazz teve entre os seus cultores alguns dos mais importantes nomes da música de orquestra, todos com fortes conotações vanguardistas e intelectualizadas.


Claude Thornhill, por exemplo, colocava o seu piano numa atmosfera intimista – caso da fantástica música “Portrait Of A Guinea Farm” – servindo de inspiração para as futuras incursões de Miles Davis na Miles Davis’ Capitol Orchestra, já no final dos anos 1940.
Elliot Lawrence inovou com arranjos feitos sob encomenda por Gerry Mulligan, Tiny Kahn e Johnny Mandel, que produziam uma música orquestral forte e cheia de dissonâncias, indo desembarcar no west coast jazz.


Boyd Raeburn organizou uma orquestra para tocar um jazz erudito, moderno e cheio de firulas, semelhante ao executado pelo também inovador Stan Kenton. Um bom exemplo do seu trabalho personalista são as obras “March Of The Boyds”, “Little Boyd Blues” e “Boyd Meets Stravinsky”.
Stan Kenton foi possivelmente a marca registrada deste estilo. Auxiliado pelos arranjos de Pete Rugolo, ele se notabilizou ao fazer uma vigorosa fusão entre o jazz e a música erudita contemporânea e exerceu uma profunda influência sobre muitos músicos. Suas peças “Artistry In Rhythm” e “Intermission Riff” são verdadeiras obras sinfônicas.


Mas as orquestras não viviam apenas dos sons exóticos do progressive jazz.


No início dos anos 1950, a orquestra de Count Basie, na época mais influente do que as de Duke Ellington ou Benny Goodman, se manteve em alta incentivando seus músicos a experimentarem o que eles chamavam de “Basie clacissism”, que levava o som orquestral de volta às origens do blues, dominado pelo seu piano econômico, e permitia lânguidos solos instrumentais entrecortados por intervenções agressivas dos naipes de metais.


É interessante notar que quando Basie direcionou a sua música para essa espécie de swing lento e cheio de blues, o qual recebeu o nome de kansas city style, outras orquestras tentaram executar o mesmo trabalho sem, no entanto, conseguirem utilizar o blues como elemento estrutural básico com a mesma perfeição.


Por consequência, o trabalho destas orquestras acabou soando mais experimental e modernista. Podemos citar como exemplo a orquestra do trompetista “estratosférico” Maynard Ferguson, que surgiu em 1953 saído da orquestra de Stan Kenton. Ferguson contava com os arranjos dos saxofonistas Jimmy Giuffre e Bill Holman, do trompetista Ernie Wilkins e do trombonista Slide Hampton, todos eminentes inovadores, mas era no som do seu trompete – no qual ele emitia registros altíssimos – que residia toda a sonoridade da orquestra.

3 comentários
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alcina maria silva azevedoHá 3 dias Campinas- SPSou uma das admiradoras do escritor e músico Augusto Pellegrino. Um ser humano dedicado à boa música e grande estudioso do swing. Parabéns grande mestre!
Carmen Regina DiasHá 3 dias CascavelPágina magnífica do nosso Facetubes. Amo Jazz. E aqui, tem História, realidade, nomes que eu nem conhecia. Em cada parágrafo, uma ambrosia musical. Eckstine contou com músicos do primeiro escalão do jazz – caso dos trompetistas Dizzy Gillespie, Fats Navarro e Miles Davis, dos saxofonistas Charlie Parker, Gene Ammons, Dexter Gordon e Leo Parker e do baterista Art Blakey. O que despertou o desejo de ler o livro do Confrade Augusto Pellegrini. Suprema honra.
ANTONIO GUIMARÃES DE OLIVEIRA Há 3 dias São Luís Um dos grandes do jazz. Excelente!
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