*Mhario Lincoln
Na verdade, o livro “Poesias da Terra Ardente”, a meu ver, é uma grande catarse poética, usada, no caso, como uma verdadeira expressão de afetos, pois é através da catarse poética, enquanto expressão literária, que é oferecida uma perspectiva única sobre a relação entre a criação artística e a experiência pessoal do autor.
Um exemplo emblemático desse conceito no século XX é a obra de Sylvia Plath, particularmente seu livro "Ariel": uma coleção de poemas que reflete a profundidade emocional e o tumulto interno de Plath. A autora utiliza a poesia como um meio de catarse, abordando questões pessoais complexas e sentimentos intensos com uma linguagem crua e poderosa.
Por essa razão, a importância da catarse poética está no papel duplo como meio de processamento emocional e como uma forma de gratidão. Além disso, a própria escrita poética permite que o autor externalize e compreenda suas experiências, aliviando o peso de problemas pessoais e ao mesmo tempo celebrando a vida e os relacionamentos significativos.
Esse processo não é meramente um exercício de desabafo, mas um gesto profundo de reconhecimento e apreciação pela própria existência e pelas conexões humanas. Desta forma, a literatura, quando usada para expressar afetos e ternuras, cria um espaço onde o autor pode explorar e compartilhar sua visão do mundo.
Mesmo em poemas longos e complexos, Luiz Carton, esse poeta cartásico consegue passar para o leitor uma integração da alma e da mente do autor com aqueles que ama e admira. E isso, a mim me pareceu crucial para o equilíbrio da vida e para a criação desta obra significativa.
E dentre essa vastidão de catarses poéticas, que integra o livro "Poesias da Terra Ardente", tomei a liberdade de fixar-me em um poema de grande expressão e universalidade. Trata-se de “Amor Etéreo”, uma obra-prima dentro de outra obra prima. Extrapola uma simples produção lírica, porque esparge um sentimento único de ‘Prece’. Uma prece ao amor e ao anjo da guarda, com indescritível pureza.
O poema é uma demonstração excepcional de respeito, amor e bondade, explorando temas universais que acendem à inquietude humana. A seguir, tomo a liberdade de esmiuçar cada verso, detalhadamente, considerando a essência do poema e sua comparação com outras obras literárias e filosóficas que compartilham de uma sensibilidade similar.
Verso I: "Meu amor por você é eterno, com certeza! Nesta ou em outra vida, ao inverso, /Basta você me chamar, nem que adormeça /No mundo dos mortos ou no meu verso!"
O poema começa com uma declaração de amor eterno, estabelecendo um tom de continuidade e transcendência. A noção de amor que persiste através das vidas e além da morte reflete uma crença em uma conexão duradoura, independentemente das circunstâncias. A ideia de que o amor pode se manifestar através da poesia e da eternidade é uma expressão de devoção que transcende o tempo e o espaço.
Verso II: "Amor, será bom você ter um anjo? Pensa! Basta chamar meu nome como senha! Saiba que, quando eu não estiver aqui, /E você precisar de um ombro para chorar, /De qualquer mundo dimensional eu venha, /Flutuando de qualquer estrela ou universo, vou pousar bem junto de você e ficar, /Com minha mão na tua testa, vou orar."
Nesse verso, Caron explora a figura do anjo como um guia protetor e consolador. A metáfora do anjo que pode vir de qualquer dimensão ou estrela, reforça a ideia de que o amor e a proteção transcendem as limitações físicas e espaciais. A imagem do anjo que repousa a mão na testa e ora é uma representação visual e emocional poderosa do cuidado e da presença constante.
(...)
Verso IV: "Sentindo calafrios no frio do inverno,/ Vou agir e tua casa se aquecerá com velas, /Onde passas, muitas flores perfumam as ruas. /No fogo do teu coração, arde a lenha, /Sem ausência do amor deste homem terno, E para todo o sempre será primavera."
Aqui, o eu lírico promete aquecer e decorar o ambiente da pessoa amada, mesmo em tempos difíceis. O simbolismo das velas e das flores representa o calor e a beleza que o amor proporciona, contrastando com o frio do inverno. A transformação contínua do inverno para a primavera sugere uma constante renovação e a presença do amor como um elemento vital e perene.
Verso V: "Amor, será bom você ter um anjo? /Pensa! /Basta que me chame e nunca se esqueça. /Clame meu nome, grite, não esmoreça."
A insistência na necessidade de invocar o nome do eu lírico reitera a ideia de que o amor e a proteção estão sempre disponíveis, desde que sejam solicitados.
Verso VI: "À noite, clame meu nome nas preces tuas. /Nos dias mais atribulados, estarei contigo. /Clame meu nome, mesmo em murmúrios, /Porque sou teu anjo mais amoroso /Dos que habitam os mundos antigos. Como um beija-flor nas folhas de antúrios, /Seres alados, etéreos, espírito generoso."
Este verso destaca a disponibilidade e a presença constante do eu lírico em momentos de necessidade. A imagem do beija-flor é uma metáfora para a leveza e a delicadeza da proteção oferecida. O uso de “seres alados” e “espírito generoso” reforça a ideia de que o eu lírico transcende as limitações físicas e espirituais.
(...)
Verso VIII: "Nas horas de males terríveis, cheios de dores, clame meu nome bem alto, num grito, /Que venho ao teu leito, deitar a teu lado, untar teu corpo com óleos de flores, /Massagear-te as chagas num lento rito, Dom dos anjos que por Deus foi dado, /Para nesta vida cuidar dos seus amores."
Aqui, a imagem do cuidado físico e espiritual é representada através de rituais de cura e conforto. A utilização de óleos e massagens simboliza um cuidado profundo e um desejo de aliviar o sofrimento, mostrando a dedicação total do eu lírico ao bem-estar da pessoa amada.
Verso IX: "Amor, com certeza será bom você ter um anjo? /Pensa! /Basta que me chame ainda que anoiteça, /Ou no ocaso, ou na claridade bem forte."
A reafirmação da disponibilidade do eu lírico em todos os momentos, independentemente da luz ou escuridão, reforça a ideia de uma presença constante e incondicional.
Verso X: "Clame meu nome num sussurro, mansinho, /Que pego nas mãos tua alma sem corpo, /E te apresento a todos teus anjos de morte. /Alço voo derradeiro, no peito te aninho, /Te levo ao meu mundo onde nada está morto, /Não há dores e males que aos seres importe."
Neste verso, é explicita a visão transcendental, onde o eu lírico guia a alma amada para um reino livre de dor e sofrimento. A imagem do voo e do "aninho" sugere uma passagem suave e cheia de carinho para o além.
Verso XI: "Amor, Deus quer você como um anjo? /Agradeça! /Não mais me chame, pois antes que alvoreça, /No tempo da nova vida, você será meu anjo de luz!"
O poema termina com uma visão de transformação e gratidão, onde a pessoa amada se torna um anjo de luz em uma nova vida. A conclusão sugere um ciclo contínuo de amor e proteção que transcende a vida terrena. Assim, estou deveras emocionado ao escrever este texto.
Mesmo porque, muitos outros textos chegam a minha cabeça na mesma velocidade da luz. Desta forma, caro Luiz Caron, é inevitável não comparar "Amor Etéreo", com uma das inúmeras preces de Santo Agostinho.
"Senhor, dá-me a serenidade para aceitar as coisas que não posso mudar, coragem para mudar as coisas que posso e sabedoria para saber a diferença."
A prece de Santo Agostinho também oferece uma perspectiva sobre a serenidade e a sabedoria que se alinha com a ideia de proteção e conforto do seu poema, amigo Caron. Ambos os textos exploram a ideia de uma presença divina e de um amor que transcende as limitações humanas.
Desta forma, meu agradecimento fundamental ao meu amigo Reinaldo dos Santos que gentilmente me ofereceu o livro "Poesias da Terra Ardente" para ler. E claro, fui tomado, de imediato, por essa vontade incontrolável de falar algo sobre essa obra de profunda beleza e universalidade, oferecendo "cartas pessoais" e "preces", as quais transcendem quaisquer que sejam limitações do tempo e do espaço.
Agora, só resta compartilhar o poema com todos.
Curitiba, 10.09.2024
Mhario Lincoln,
Presidente da Academia Poética Brasileira.
AMOR ETÉREO
Setembro, 13 de 2016 - Luiz Caron
(I)
Meu amor por você é eterno, com certeza!
Nesta ou em outra vida, ao inverso,
Basta você me chamar, nem que adormeça
No mundo dos mortos ou no meu verso!
(II)
Amor, será bom você ter um anjo? Pensa!
Basta chamar meu nome como senha!
Saiba que, quando eu não estiver aquí,
E você precisar de um ombro para chorar,
De qualquer mundo dimensional eu venha,
Flutuando de qualquer estrela ou universo,
vou pousar bem junto de você e ficar,
Com minha mão na tua testa, vou orar.
(III)
Amor, será bom você ter um anjo? Pensa!
Basta chamar meu nome como senha!
(IV)
Sentindo calafrios no frío do inverno,
Vou agir e tua casa se aquecerá com velas,
Onde passas, muitas flores perfumam as ruas.
No fogo do teu coração, arde a lenha,
Sem ausência do amor deste homem terno,
E para todo o sempre será primavera.
(V)
Amor, será bom você ter um anjo?
Pensa!
Basta que me chame e nunca se esqueça.
clame meu nome, grite, não esmoreça.
(VI)
À noite, clame meu nome nas preces tuas.
Nos dias mais atribulados, estarei contigo.
Clame meu nome, mesmo em murmúros,
Porque sou teu anjo mais amoroso
Dos que habitam os mundos antigos.
Como um beija-flor nas folhas de anturíos,
Seres alados, etéreos, espírito generoso.
(VII)
Amor, será bom você ter um anjo?
Pensa!
Basta que me chame para que eu apareça.
(VIII)
Nas horas de males teríveis, cheios de dores,
clame meu nome bem alto, num grito,
Que venho ao teu leito, deitar a teu lado,
untar teu corpo com óleos de flores,
Massagear-te as chagas num lento rito,
Dom dos anjos que por Deus foi dado,
Para nesta vida cuidar dos seus amores.
(IX)
Amor, com certeza será bom você ter um anjo?
Pensa!
Basta que me chame ainda que anoiteça,
Ou no ocaso, ou na claridade bem forte.
(X)
Clame meu nome num sussurro, mansinho,
Que pego nas mãos tua alma sem corpo,
E te apresento a todos teus anjos de morte.
Alço voo derradeiro, no peito te aninho,
Te levo ao meu mundo onde nada está morto,
Não há dores e males que aos seres importe.
(XI)
Amor, Deus quer você como um anjo?
Agradeça!
Não mais me chame,
pois antes que alvoreça,
No tempo da nova vida,
você será meu anjo de luz!
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