Numa triste quinta-feira, 1º de abril de 2021, o Brasil perdeu uma de suas vozes mais poéticas e emblemáticas do Carnaval e da cultura brasileira, o escritor, poeta, dramaturgo e carnavalesco Olinto Simões. Aos 74 anos, Olinto deixou um legado profundo na cena cultural nacional e, em especial, em Curitiba, onde se consolidou como um dos principais nomes do Carnaval da cidade, participando da organização e corpo de jurados dos desfiles de escolas de samba por mais de duas décadas.
Carioca de nascimento, Olinto foi adotado pelo coração curitibano. Em 2017, ao receber o título de Cidadão Honorário de Curitiba, na Câmara Municipal, proferiu palavras que resumem sua ligação com a cidade: “Nós nascemos onde nossa mãe está, naquele momento. Nasci carioca. Mas aos 25 anos escolhi uma cidade para morar e crescer. Essa cidade foi Curitiba. E hoje, muitos anos depois, recebo minha verdadeira certidão de nascimento. Sou agora Cidadão de Curitiba.”
Simões sempre foi mais do que um simples escritor ou carnavalesco. Ele se conectou profundamente com as raízes da ancestralidade afro-brasileira, como fica claro no livro "Afrocuritibanos: Crônicas, Manifestos e Pensamentos Azeviche", onde ele trouxe à tona questões existenciais, espirituais e filosóficas que ecoam pensamentos ancestrais de origem africana e contemporânea.
Em seu prefácio, Olinto expressa uma reverência à natureza e à essência espiritual das coisas, evocando termos da cultura iorubá como 'Oriki' e 'Motumbá'. Ele enaltece a criação, desde Olorum (a supremacia) até os elementos mais simples da Terra.
Sua visão do mundo, uma celebração ao ciclo da vida e à modernidade da matéria, encontra ecos na filosofia estoica, especialmente nas ideias de Marco Aurélio , que defende que todas as coisas estão interligadas em um ciclo universal.
Assim como os estoicos acreditavam que o homem deveria estar em harmonia com a natureza e aceitar o curso da vida, Olinto vê na natureza uma conexão espiritual e um ciclo perfeito, ressaltando o aprendizado em momentos de escuridão – uma metáfora profunda para os desafios da vida .
Sua busca por uma 'Consciência Sem Cor' e 'Consciência Isonômica', conceitos que buscam a equidade e a justiça para além das aparências, também ressoam com a filosofia de Immanuel Kant , que via a humanidade como um fim em si mesmo, defendendo que todos os seres humanos têm valor intrínseco, independentemente de suas características físicas.
O pensamento de Olinto Simões não apenas revelava um homem profundamente espiritual, mas também alguém com uma visão filosófica engajada, buscando o entendimento da vida através das lentes do respeito à ancestralidade e à natureza. Para ele, a vida era um ciclo de aprendizado, onde até a escuridão oferecia luz.
Sua despedida não poderia ter sido mais simbólica: "Antes do sol nascer vamos todos embora…", escreveu ele, antecipando a transitoriedade da vida, mas com a certeza de que as memórias, os ensinamentos e os aprendizados permanecerão, iluminando o caminho para os que ficam.
Ele morreu na madrugada de 1 de abril de 2021. Por isso, ainda acredito que Olinto nos está pregando uma "grande mentira".
Vídeo-Bônus (Exclusivo):
Tácito Garros, advogado e Apresentador de TV dos mais aplaudidos, esteve em Curitiba e entrevistou Olinto Simões. (7 de ago. de 2019)
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