José Neres, especial para o Facetubes.
O texto de hoje é uma singela homenagem ao 140⁰ ano do nascimento da escritora Laura Rosa. Ela nasceu no dia 1⁰ de outubro de 1884 e faleceu ao 92 anos, em 1976.
Foi a primeira mulher a ingressar nos quadros de sócios efetivos da Academia Maranhense de Letras e deixou para a posteridade um consistente trabalho em prosa e em versos.
Infelizmente seu nome caiu no esquecimento, bem como sua obra. Mas, aos poucos, um trabalho de resgate de sua produção tem sido feito por alguns pesquisadores.
LAURA ROSA - VIOLETA DO CAMPO
José Neres
Ei, preste muita atenção,
Que uma história vou contar,
Mas não se assuste não,
Pois serei breve ao falar
De uma mulher com missão
De uma flor se tornar.
A história não vou contar
Com começo, meio e fim.
Sou tonto, só sei narrar
O que está dentro de mim…
Do coração vou tirar
O não, o talvez e o sim.
Em São Luís ela nasceu
Dia primeiro do mês
De um outubro todo seu
Bem caloroso talvez,
Mas seu pai não conheceu,
Pois ele apenas a fez.
Cecília da Conceição
Era sua mãe amada.
Parda, de bom coração,
Era por todos estimada.
Por não saber dizer não,
Acabou sendo enganada.
Mil oitocentos e oitenta
E quatro era aquele ano
Que Cecília apresenta -
Envolta em um limpo pano -
A menina friorenta
A este nosso mundo insano.
Sem presença do pai,
Um dia foi batizada
Como Laura Rosa e vai
Ser pela madrinha educada
De casa quase não sai
Sem ser bem acompanhada.
Dona Lucy, a madrinha,
E o padrinho Antenor
Cuidaram da menininha
Com todo carinho e amor,
Fizeram-na uma rainha
Num espaço de favor.
De estatura pequenina
Com a tez amorenada,
Laura Rosa era uma mina
De poesia acumulada,
Foi nossa musa divina
De história não contada.
Com a madrinha aprendeu
Muito bem inglês falar
A todos surpreendeu
Por gostar de estudar.
Tinha um sonho todo seu:
Professora se formar.
Encontrou em Antônio Lobo
Um querido professor
Que ensinava com arroubo
De ilustre educador
Que além de ser homem probo
Ensinava com amor.
Ainda quase menina
Muitas aulas recebeu
Do professor Almir Nina,
Grande mestre do Liceu,
Por quem teve grande estima
E com quem muito aprendeu.
Ela escrevia poesia
Bem recheada de encanto
Sob o sol ou maresia
Com sorrisos ou com pranto.
Um nome adotou um dia:
De Violeta do Campo.
Foi por esse novo nome
Que ficou mais conhecida.
Versos que o povo consome…
Um dia foi bastante lida.
Depois de uma treva insone,
Acabou sendo esquecida.
Foi contista de primeira,
Mas não escrevia às pressas,
Com competência certeira
Publicou suas “Promessas”,
Obra boa e verdadeira
Que não teve outras remessas.
Nesse livro pouco estudado,
Nossa grande Laura Rosa
Mostra como ser tratado
Um sutil texto em prosa.
Livro bem elaborado
Em escrita tão formosa!
Um dia subiu-lhe à pele
Sonho de ser imortal.
Entrou para a AML
Pela porta principal.
Ao discurso não repele,
Cumprindo todo o ritual.
Foi recebida com festa
Por Nascimento Morais
Então presidente desta
Casa de ilustres mortais.
A Academia era modesta
Como nos tempos atuais.
A Cadeira vinte e seis
Ela esse dia fundou
Fez tudo de uma só vez
Um sonho realizou
Não por falta ou escassez
De fãs se imortalizou.
Escolheu como patrono
Seu ilustre professor
Que fizera seu outono
De modo devastador
Que da Casa ficou dono
E seu eterno protetor.
Colaborou em jornais,
E em revistas também.
Poetou sobre animais,
Sobre coisas do além,
Ganhou aplausos demais,
Recebeu pouco vintém.
Logo depois de formada
Professora Normalista
Foi por muitos convidada
Como douta cientista
Para palestra marcada,
Pois era especialista.
Na palestra fez um passeio
Por países e culturas
Discutindo sem receio
Sobre as pequenas criaturas
Que deixam das mães o seio
Sempre cheio de ternura.
Tal palestra virou obra
Intitulada “As Crianças”,
Onde Laura se desdobra
Para trazer esperanças,
Onde nossa autora cobra
Ensino de confiança.
Mas grande mistério há
Sobre sua produção:
De seus “Castelos no ar”
Não temos informação.
É preciso pesquisar
Sobre essa publicação.
Breve folha a fenecer
Foi fonte de inspiração
Para um soneto nascer
Depois ganhar projeção
Seu “Esqueleto” foi ser
Sua maior criação.
Esse “Esqueleto de folha”
É um soneto perfeito.
Bela página de recolha
Escrita com muito jeito.
Uma excelente escolha,
Bons versos de bom efeito.
Professora concursada,
Foi em Caxias morar.
Lá foi idolatrada
E fez dali seu lugar.
Fixou sua morada,
Compôs ao som do luar.
Além de ser professora,
De ensinar tanto menino,
De escola foi diretora, -
Pra educar tinha tino -
Laura também foi inspetora
Do sistema de ensino.
Nas letras, fez quase tudo…
Entre os símbolos e a forma,
Preferiu o conteúdo.
Sua obra segue a norma,
Mas precisa de estudo,
Pois a nós muito informa.
Os versos de Laura Rosa,
Habitam além do tempo
E também sua prosa
Servirá como um alento.
Sua obra caprichosa
Esbanja tanto talento.
Vida de noventa e dois
Anos teve nossa Laura.
Teve um antes e um depois,
Sempre de forma bem clara
Mas nosso tempo lhe impôs
O que o tempo não declara.
Ficou bom tempo esquecida
Solta no limbo da história.
Bem raras vezes foi lida
Ou citada sua glória,
Teve ausência imerecida.
Que falta ao povo? Memória!
Seus textos estão espalhados
Por revistas e jornais
Do seu e de outros estados.
Alguns, parece, jamais
Serão recuperados,
Isso é triste. Nada mais!
Porém, é digno de nota
Todo um árduo trabalho
De busca da Islene Mota,
Do vate Wybson Carvalho,
Da grande Diomar da Motta -
Honrados guias nesse atalho.
Também Miriam Angelim,
E Denise Salazar
Têm pesquisado enfim
Os modos de divulgar
Todo dia até o fim
A Laura em todo lugar.
Por aqui já vou parando,
Eu satisfeito já fico,
Se há alguém escutando
Sobre a autora que indico
Eu rouco estou já ficando,
Dizem que com tudo intico.
Agora, antes de partir,
Peço apenas um favor:
Não deixem Laura sumir
Como se fosse um vapor.
De água a breve se diluir
No ano de Nosso Senhor.
Já faz cento e quarenta anos
Que Laura Rosa nasceu
Numa fábrica de enganos
Que tantos fios teceu
Para traçar longos planos -
Um dela, um seu e um meu.
Com meus botões acredito
Que a homenagem maior
Que a vocês eu solicito
É ler a Laura sem dó
Olhando para o infinito,
Nem que seja um verso só.
Só me resta agradecer
Por tanta luz, tanto encanto
Por poder ler e reler
A Violeta do Campo -
Mulher de muito saber
E de quem gosto tanto.
São Luís, 28 de setembro de 2024.
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