Redação e pesquisa do Facetubes
O universo de Batman transcende o próprio herói, e a cada nova obra cinematográfica ou televisiva que emerge, fica claro que a verdadeira estrela é Gotham. Este ponto de vista se materializa em uma das maiores ironias da cultura pop: Batman não precisa estar presente para que seus inimigos e aliados roubem a cena e prosperem. A Warner Bros. tem explorado isso com maestria, entregando ao público uma série de narrativas que, embora orbitando o homem-morcego, dão aos vilões e personagens secundários de Gotham um protagonismo inesperado.
O mais recente exemplo desse fenômeno é Joker: Folie à Deux, que revisita o icônico Coringa e introduz Harley Quinn em uma jornada que, embora fragmentada do cânone tradicional, mergulha no psicológico e no caos dos personagens. Paralelamente, a série The Penguin se destaca na plataforma Max, demonstrando que mesmo vilões outrora considerados secundários, como Oswald Cobblepot, têm profundidade suficiente para carregar uma história. Essa expansão do universo de Gotham para além de Batman revela uma ousadia dos estúdios em explorar o tecido complexo de personagens que compõem essa cidade sombria.
O fascínio por Gotham é quase tão antigo quanto o próprio herói. Há mais de 85 anos, as histórias de Batman cativam o público, e como aponta o ilustrador e escritor David Rubín, "a mitologia de Batman e Gotham é tão bem estruturada que pode ser desconstruída e recriada inúmeras vezes, sem perder sua essência." Rubín, que recentemente lançou uma versão de Joker: The World ambientada em Madrid, destaca que é essa maleabilidade narrativa que permite a coexistência de versões tão diferentes como a animação divertida da Harley Quinn e a profundidade psicológica do Joker de Todd Phillips.
Gotham, como ressalta o roteirista David Macho, é um personagem em si, um lugar onde o escuro e o mórbido se tornam cenários para o desenvolvimento de monstros e vilões. "A cidade é uma metáfora do que há de mais sombrio na humanidade", comenta Macho, acrescentando que enquanto Metrópolis é pura luz e esperança, Gotham prospera na ambiguidade moral. Talvez seja esse contraste que torna suas histórias tão envolventes, atraindo públicos de todas as idades e gerações.
A capacidade de Gotham de se reinventar continuamente reflete um movimento maior dentro da indústria cinematográfica e televisiva: a necessidade de franquias que possam abraçar diferentes gêneros e narrativas. Batman e seus vilões oferecem exatamente isso. Seja na forma de uma série infantil, como Batwheels, ou em uma adaptação mais sombria como Pennyworth, sobre a juventude do mordomo Alfred, há uma universalidade na abordagem desses personagens que garante sua relevância no cinema e na televisão, geração após geração.
Apesar dos tropeços ocasionais – como o fracasso comercial de Mulher-Gato (2004) –, as histórias de Gotham continuam a conquistar públicos, com sucessos constantes em séries como Titãs e Batwoman, que sobreviveram por várias temporadas.
E o legado de Batman continua forte nas bilheterias. Desde 1989, quando a “Batmania” tomou conta do mundo com o filme de Tim Burton, os filmes de Batman têm arrecadado bilhões de dólares. Mesmo o controverso Joker de Phillips quase igualou a arrecadação de O Cavaleiro das Trevas Ressurge, de Christopher Nolan, que continua sendo o filme mais lucrativo sobre o herói.
Para muitos, Batman pode parecer, paradoxalmente, o elemento menos interessante do seu próprio universo. Como destaca Rubín, "os vilões do Batman são tão carismáticos e complexos que frequentemente eclipsam o herói. Talvez seja por isso que essas histórias, que se concentram nos antagonistas, ressoem tanto com o público." E não apenas os vilões: os personagens coadjuvantes de Gotham, como Batgirl e Robin, também têm ganhado suas próprias narrativas, com novos projetos anunciados constantemente.
O que talvez mais impressiona é a capacidade de adaptação dessas histórias, algo que parece garantir a imortalidade dos personagens. Como conclui Rubín, "são ícones moldáveis, e a cada nova geração, surge uma nova visão sobre eles. Não existe uma versão definitiva, e é isso que os mantém vivos." Gotham e seus habitantes são, sem dúvida, eternos – com ou sem Batman.
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