Renata Barcellos (BarcellArtes)
Sou pesquisadora com experiência na Educação Básica à Superior. Desde que concluí minha graduação, venho me especializando (da especialização em Tradução a dois Pós-doutorados, pela UFRJ). Sempre participando de eventos acadêmicos (simpósios, congressos, jornadas...). E, depois da pandemia, atividades online, híbrido... até curso para capacitação estou realizando nessas modalidades. As universidades pelas quais passei, me capacitei .... sempre foram instituições sérias (UERJ, UFF, UFRJ...).
Quem está realizando pesquisa (mestrado, doutorado ou pós-doutorado) sabe o trabalho árduo. Horas pesquisando. Vale destacar que, hoje, quase tudo é realizado online. Outrora não era assim. Eu ainda passei horas em bibliotecas (UERJ, UFF, Naconal...). E o processo de escrita requer hooooooras. Pior quando a relação com o orientador (a) não é amistosa.
Hoje, muitos não veem sentido e motivação para estudar. Com isso, o professor passou a ser uma voz ecoando em uma sala de aula só de “corpo presente” porque a cabeça, a alma estão em outra esfera. Muitas vezes, imersos em seu celular lendo e ou ouvindo temas diversos.
O nível da Educação Básica à Superior vem despencando haja vista as pesquisas realizadas como International Institute for Management Development (IMD), o Brasil ocupa, em 2022, o último lugar em Educação, entre os 63 países listados por esta instituição. Sem dúvidas, o principal desafio a ser enfrentado é o da evasão escolar, agravada pelo período da pandemia, no qual as escolas ficaram fechadas. De acordo com dados reunidos pelo Todos Pela Educação, no segundo trimestre de 2021, 244 mil crianças e jovens entre 6 e 14 anos estavam fora da escola, ocorrendo um aumento de 171,1% em comparação com o mesmo período de 2019.
Também, no Brasil, menos de metade dos estudantes de 15 anos de idade conseguiu atingir um nível mínimo de aprendizado em Matemática e Ciências, de acordo com os resultados obtidos no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa). Apesar do baixo desempenho, a pontuação dos alunos brasileiros nas disciplinas avaliadas teve pouca variação. Em 2022, o Brasil alcançou 379 pontos na avaliação de matemática, 410 pontos em leitura e 403 pontos na disciplina de ciências. Na última edição do Pisa, referente ao ano de 2018, a pontuação atingida pelos estudantes brasileiros era de 384 em matemática, 413 em leitura e 404 em ciências. Com esses números, o Brasil ocupou as seguintes posições no ranking composto por 81 nações: Leitura: 53° (em 2018: 57º), Ciências: 61° (em 2018: 64º) e Matemática: 65° (em 2018: 70º). Esses índices demonstram o quão a educação brasileira está “agonizando”. Urge reformulação nos currículos das licenciaturas e da Educação Básica, repensar o Novo Ensino Médio, educação de casa, ética, comprometimento ... É preciso incentivar leitura de obras literárias e teóricas e a elaboração de textos nos diversos gêneros. É fundamental a conscientização sobre a importância dos estudos, da formação acadêmica.
Neil Postman (crítico social norte-americano), na obra O Fim da Escola, propõe diversas questões: Haverá ainda lugar e sentido para a escola neste tempo de crise da razão e hegemonia da informação eletrônica? O que fazer na escola? O que será aprendido? Quais são as consequências de não ir à escola? Existe uma saída viável para a educação pública? O autor critica o modelo ainda utilizado hoje (de séculos). Estamos tão focados em transmitir conteúdo e ensinar tecnologias que esquecemos de abordar o que, realmente, importa. Exemplo: formar cidadãos críticos, com valores e que entendam o seu papel na sociedade. Defende que a escola precisa voltar a ser um espaço de construção de propósito e reflexão. Mas o tempo passou. Tecnologias surgiram. E a escola / universidade pararam no tempo. Ficaram fechadas dentro de seus muros. E, agora, em pleno século XXI, ano 2024, as drásticas consequências estão surgindo como já enumeradas aqui. Pior ainda são os casos de violência: assassinatos dentro das instituições de ensino.
E quando pensamos que isso tudo mencionado anteriormente foi tudo, deparamo-nos com mais um caso “SURREAL”. Um exemplo ocorreu recentemente em uma mesa redonda, na Universidade Federal do Maranhão (UFMA), no seminário "Dissidências de gênero e sexualidades", organizado pelo Grupo de Pesquisa Epistemologia da Antropologia, Etnologia e Política (Gaep). A palestrante Tertuliana Lustosa (mestranda em Cultura e Sociedade pela Universidade Federal da Bahia, vocalista da banda "A Travestis" e Autora da música “Murro na costela do viado”) causou polêmica ao fazer uma “performance” (cantando e dançando o funk “Educando com o C*”), realizado na quinta-feira (dia 17/10), cujo objetivo foi reunir acadêmicos e ativistas para discutir o gênero e suas interseccionalidades, promovendo uma reflexão sobre as dissidências da temática. O nome da música apresentada na “performance” também nomeia um artigo universitário de Tertuliana, intitulado “Educando com o c*: traveco-terrorismo e descolonialidade de gênero na arte”. No texto, a autora afirma objetivar iniciar um debate sobre as implicações do prazer e do corpo enquanto potências pedagógicas e artísticas.
Alguns parlamentares se posicionaram contra a “performance”, dentre eles: a deputada Bia Kicis, a indígena Silvia Waiãpi e Nikolas Ferreira. Este, presidente da Comissão de Educação na Câmara, acionará a Procuradoria-Geral da República para investigar o ocorrido. Waiãpi analisou o caso como “nossos jovens deveriam estar recebendo uma educação de qualidade, estão sendo expostos a um ambiente de depravação e imoralidade”. E, apesar de muitos temerem se expor publicamente, Guto Mello (escritor, professor, membro de diversas academias, dentre elas: Academia Fluminense de Letras) manifestou-se também no Facebook: “É ignóbil, é surreal uma historiadora da UERJ vulgarizar um importante evento na UFMA (Universidade Federal do Maranhão). A ausência de postura é incompatível com a polidez, respeito perante os seus pares e pela universidade como convidada. O vocabulário xulo é um prato cheio para a extrema-direita que odeia qualquer atividade cultural e intelectual, generalizando os historiadores diante de imagens que só reforçam a ideia de mulher objeto sexual e a agenda cultural dos costumes. Lamentável...”. Como pesquisadora de Literaturas, tenho participado de eventos com a temática de gênero e sexualidade retratadas nas obras e nunca vi nenhuma manifestação dessa natureza. Nem na ficção contemporânea! A UFMA assim como outras instituições públicas tem relevantes pesquisadores nas diversas áreas do conhecimento.
A partir desse fato, proponho os seguintes questionamentos: qual o papel da universidade? A “performance” estava adequada ao contexto acadêmico? O que é um objeto de estudo relevante hoje? Como definir o que é uma pesquisa científica? Como tem sido selecionado trabalhos para os eventos acadêmicos? Quem é o responsável pela seleção deste evento da UFMA? Os responsáveis serão punidos? Qual será a penalidade (exoneração)? Quem é o orientador que se dispõe a orientar tal objeto de estudo? Quais são os quesitos para ser ministra da Educação? Quanto a esta função, há décadas em sala de aula realizando diversas práticas diferenciadas e estudando, também demonstro meu interesse. Se a vida é um palco, fechem as cortinas!!! Estou saindo de cena. Mas se me convidarem para a função de Ministra da Educação, aceitarei por comprometimento com a Educação Brasileira de qualidade. Espaço de formação de cidadão crítico.