*Mhario Lincoln
Gostei demais de ler Joizacawpy Costa, nessa versão romântica e comparativa com elementos naturais e cotidianos que só enriquecem essa proposta de ser romântico-sensitiva. É incrível as comparações versílicas, incluindo, elementos urbanos, como se ela incorporasse muito mais que os cinco sentidos do corpo humano: a visão, o olfato, o paladar, a audição e o tato.
Imediatamente me veio a sensação de estar lendo, por exemplo, algo próximo ao “O Guardador de Rebanhos” de Alberto Caeiro, um dos heterônimos de Fernando Pessoa, que explora a natureza e os sentidos de forma profunda. Ou mesmo, Arthur Rimbaud (estou cada vez mais me aprofundando nesse estudo poético) que explorara a ideia de um “desregramento de todos os sentidos para alcançar uma nova forma de percepção e expressão poética”. Isto é, uma poesia dos sentidos, evocando imagens, sons, cheiros, sabores e sensações táteis.
A mim me pareceu (mesmo que nas filigranas) integrar "MEU QUERER" de Joizacawpy Costa em meus próprios sentimentos. Loucura, não é? Mas foi assim mesmo! Além do que, essa visão romântica, também introduzida com muito esmero na composição final, faz a autora explicitar momentos reais de suas sensações, aliás, prática aplaudida entre os romancistas que, igualmente, buscam na subjetividade e na natureza, a essência de sua inspiração.
A simplicidade dos versos e o uso comparativo de elementos naturais aproximam a obra de Joiza - como carinhosamente é chamada no meio literário - a de grandes poetas românticos. Mutatis Mutandi, à título de estudo de estilo, Gonçalves Dias, em poemas como "Canção do Exílio". Nessa, G.Dias utilizou a natureza não apenas como cenário, mas como extensão dos sentimentos e anseios do ‘eu lírico’, reforçando a ligação intrínseca entre o homem e o ambiente natural.
Eu particularmente destaquei, “Como quem fita o infinito apenas com o desejo de oferecer a alma o mais sublime afago”. Aqui, é explícita a evidência da busca pelo transcendental e pelo sublime, (isso eu gosto muito), característica marcante do pensamento romântico.
Esta reflexão pode ser associada às ideias, de certa forma, de Immanuel Kant, especialmente em sua "Crítica da Faculdade do Juízo", onde ele discute o conceito do “sublime como uma experiência estética que transcende a compreensão racional e conecta o indivíduo ao infinito”. Aí é que entra, no meu ponto de vista, a beleza do verso, “(...) oferecer a alma o mais sublime afago", pois reflete a aspiração humana de alcançar algo além do material, buscando, através da poesia, uma conexão profunda com o universo.
Vou além: a construção imagética do poema reforça a influência romântica na obra de Joiza. Ao "passear pelas avenidas da poesia", ela acabou por me convidar para uma jornada introspectiva. Ou seja, a combinação de elementos naturais e sentimentos profundos para criar uma atmosfera contemplativa que enriquece a experiência poética. (Gosto muito dessa provocação).
Confesso que já li algumas passagens assim em outros autores. Porém, neste, algo me deixou encantado, sem dúvida, pela "arrumação lírica" dela, sem se deixar espraiar demasiadamente pelo exagero romântico.
Joizacawpy Costa, enfim, através de uma abordagem simples e profundamente conectada à natureza, acabou por estabelecer um diálogo com tradições românticas ao entrelaçar elementos naturais com reflexões filosóficas e emocionais, conferindo ao poema uma profundidade que ressoa diretamente nos 5 sentidos de quem o lê.
Um adendo: acho que essa minha ideia de convidar minhas confreiras e amigas poetas para escrever resenhas dentro do ‘Outubro Rosa’, foi muito salutar para mim. Venho aprendendo muito pois sou levado a pesquisar novas ideias e a ler (autores) nunca dantes lidos. Portanto, a vantagem é minha nesse projeto. Por isso, meu agradecimento a todas elas, que se propuseram entregar suas obras para a minha análise.
Touché!
Mhario Lincoln é presidente da Academia Poética Brasileira.
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O POEMA
MEU QUERER
Sem pedir grandes coisas
Quero apenas passear pelas avenidas da poesia
Como quem desfila numa longa rua florida,
Como quem sobe a ladeira com desejo de alcançar o horizonte longínquo,
Como quem fita o infinito apenas com o desejo de oferecer a alma o mais sublime afago,
Como quem brinca com os grãos de areia da praia pensando no infinito,
Como quem fita um sorriso despretensioso
E enxerga a felicidade duradoura que cabe no instante finito,
Como quem dorme e sonha o sonho dos anjos,
Como quem nas lágrimas quer de dor ou de encanto encontra explicações plausíveis para cada instante,
Como quem respira lá fora e mesmo longe das flores sente seu perfume.
Sem pedir grandes coisas
Quero apenas passear pelas avenidas da poesia.
Joizacawpy Muniz Costa