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Dia Nacional da Poesia: até a Academia Brasileira de Letras 'esqueceu' a data

Agenda ABL: (31 de outubro de 2024: “Projeção de ‘O Ladrão de Guarda-Chuva’, de José Eduardo Lins/Cinema na ABL. Data e horário: 31 de Outubro de 2024, às 17h30. Coordenação: Acadêmico Antônio Torres.).

Mhario Lincoln
Por: Mhario Lincoln Fonte: Equipe de Pesquisa Facetubes
31/10/2024 às 10h31 Atualizada em 31/10/2024 às 11h19
Dia Nacional da Poesia: até a Academia Brasileira de Letras 'esqueceu' a data
Ilustração: mhlai

Equipe de Pesquisa do Facetubes* (Rinaldo Jacks, Marcos Vale, Lorenzo Lincoln. Supervisão: jornalista Mhario Lincoln-Mtb1015-Ma).

 

À propósito ao DIA NACIONAL DA POESIA, no livro "60 Poetas Trágicos", de Sergio Faraco, dois maranhenses são citados. Um, Gonçalves Dias, outro, ADELINO FONTOURA, nascido em Axixá-MA, em 1859 e falecido em Lisboa-POR, 1884.

Sobre esse "poeta trágico" maranhense, diz Faraco: "Um dos iniciadores do parnasianismo brasileiro, ao concluir o curso primário na terra natal continua os estudos em São Luís e se emprega num armazém, fazendo amizade com Artur Azevedo, que trabalha vizinhança. Aos 17 anos, participa de peças teatrais, mas ao se transferir para o Rio de Janeiro desiste do teatro e na se torna redator do jornal A Gazetinha, do amigo Artur Azevedo. É o período da boemia desbragada na Rua do Ouvidor, com outros poetas. Chega a passar fome e, às vezes, não tem onde dormir. Publica seus poemas na imprensa. Na mesma época se apaixona pela prima de um amigo, sem ser correspondido. Em 1882, é contratado pela Gazeta da Tarde, de José do Patrocínio. Já está doente, devastado pelo álcool e pela tuberculose. Em 1883 vai a Paris para tratar da saúde e coincide que, no mesmo vapor, embarca sua musa recém-casada, em lua de mel. De Paris vai a Lisboa, mas a doença avança e ele morre com apenas 25 anos. Nunca publicou livro, sua obra sobrevive por ter aparecido numa revista acadêmica". No mesmo livro ele reproduz um dos poemas que Adelino Fontoura a ser alcunhado de "poeta Trágico":

 

FRUTO PROIBIDO

Adelino Fontoura

Escravo dessa angélica meiguice

por uma lei fatal, como um castigo,

não abrigara tanta dor comigo,

se este afeto que sinto não sentisse.

 

Que te não doa, entanto, isto que digo

nem as magoadas falas que te disse.

Não as dissera nunca, se não visse

que por dizê-las minha dor mitigo.

 

Longe de ti, sereno e resoluto,

irei morrer, misérrimo, esquecido,

mas hei de amar-te sempre, anjo impoluto.

 

para mim o fruto proibido:

não pousarei meus lábios nesse fruto;

mas morrerei sem nunca ter vivido.

 

Axixá-MA, 1859

+ Lisboa POR, 1884

 

Capa LPM.

É PARA COMEMORAR O DIA NACIONAL DA POESIA?

Equipe de Pesquisa do Facetubes* (Rinaldo Jacks, Marcos Vale, Lorenzo Lincoln. Supervisão: jornalista Mhario Lincoln-Mtb1015-Ma).

 

Neste 31 de outubro, aniversário de Carlos Drummond de Andrade, um dos maiores poetas brasileiros, deu-se a oficialização do Dia Nacional da Poesia, que visa considerar e valorizar a importância da poesia na cultura brasileira. Antes, era comemorado no dia 14 de março, em homenagem ao poeta baiano Castro Alves, conhecido como o "poeta dos escravos".

A ideia do Dia Nacional da Poesia é, antes de qualquer coisa, "promover eventos literários, recitais e atividades educacionais que incentivem a leitura e a escrita, contribuindo para a formação de novos leitores e escritores e fortalecendo a identidade cultural do país".

Na Lei Originária é realmente muito interessante essa transcrição de finalidade. Porém, nem mesmo a maior instituição das Letras do país, a Academia Brasileira de Letras (ABL), segundo consta em sua programação oficial para o dia de hoje - 31 de outubro de 2024 se lembrou da data. Apenas uma programação para este dia (ipisis litteris): "Projeção de ‘O Ladrão de Guarda-Chuva’, de José Eduardo Lins/Cinema na ABL. Data e horário: 31 de Outubro de 2024, às 17h30. Coordenação: Acadêmico Antônio Torres.

Sem palavras. Ora, se a principal instituição das letras brasileiras, nem programa específico tem para comemorar a data, volta à baila o que escreveu Antonio Carlos Secchin, em artigo publicado no próprio site da ABL, onde questiona: "como Érico Veríssimo, Graciliano Ramos, Carlos Drummond de Andrade – não concorreram à ABL?". Assim se vê que o próprio originador do Dia Nacional da Poesia, no Brasil, não foi membro, nem emérito, da Academia Brasileira de Letras. Então, por que se preocupar em fazer programação poética na instituição? Será isso?

Na verdade, como pode uma data tentar "estimular" o ato da escrivinhação poética se não há nenhum órgão particular ou oficial que indique a existência de poetas brasileiros? Raramente se tem conhecimento de alguns, entre milhões. Não há, por incrível que pareça, nenhuma estimativa do número de poetas (vivos), além de não existirem estimativas oficiais ou um registro centralizado que indique o número (pelo menos vago) de poetas no Brasil, sejam eles registrados ou com livros publicados.

A ausência de um levantamento específico deve levar a vários fatores. Inclusive, o controle maior dos investimentos públicos na área específica da poesia porque não há um órgão governamental ou instituição que registre exclusivamente poetas ou escritores por gênero literário. Como disse o imortal-patrono da Academia Poética Brasileira, Olinto Simões: "(...) ser poeta no Brasil é ter uma atividade meia-boca (...)". Ele tinha toda razão, partindo do pressuposto de que a principal instituição literária do país "esqueceu" literalmente a data. (Vide: https://www.academia.org.br/eventos/ Programação cultural: 31 de outubro de 2024).

E por que Drummond. Pelo menos por ele, o Dia Nacional da Poesia deveria ter uma maior atenção Nacional, invés de (só) explodirem aqui ou acolá, alguma coisa "parecida" com comemoração. Afinal, o mentor de tudo, segundo o crítico literário Affonso Romano de Sant’Anna, Drummond conseguiu "dialogar com diversas faces da condição humana, mantendo uma voz única e marcante".

E assim, diante desse quadro de infortúnio (pessoal, oficial e estrutural), há, ainda, um quadro psico-romântico, onde muitos poetas acabam sendo marginalizados em suas próprias paixões, (ou atribuições ou atuações ou intensões), sendo considerados, como disse Sergio Faraco no livro "60 Poetas Trágicos", largados e autodestruídos, o que gera consequências de saúde muito graves. Aí entram a tuberculose e o autoabandono.

Site da ABL, hoje, às 10:45h.

 

Ainda tem aqueles que pensam ao contrário e acham, ser ‘um mito’ essa história de “morrer de amor’, levantando a ideia de que, naquela época, a tuberculose era uma doença 'comum e frequentemente ligada à figura do artista sofredor'. Estudos, como o da psicóloga Kay Redfield Jamison, em seu livro "Touched with Fire: Manic-Depression Illness and the Artistic Temperament", (algo como, em tradução livre: "Tocado pelo fogo: a doença maníaco-depressiva e o temperamento artístico"), exploram a relação entre ‘transtornos de humor e criatividade artística’. Jamison sugere que a intensidade emocional dos artistas pode contribuir para sua produção criativa, mas também os torna mais vulneráveis ​​a problemas de saúde mental.

Porém, de uma forma ou de outra, o Facetubes (www.facetubes.com.br) parabeniza todos aqueles que, imbuídos dos melhores propósitos, conseguem visualizar a data, ainda, como um fator primordial para incentivar a poesia no Brasil. Aliás, a celebração desde Dia Nacional da Poesia deveria, sim, estimular (oficialmente e não oficialmente) a divulgação de obras poéticas e mais ainda, servir de grande incentivo para que pessoas de todas as idades se manifestem por meio da poesia.

Queiram ou não queiram, "A poesia cura as feridas infligidas pela razão", como ensina Novalis*, cuja frase enfatiza como a poesia pode atuar como um bálsamo para os Homens, tanto na mente e no espírito, oferecendo um refúgio emocional e intuitivo frente à restrição da racionalidade. Ou seja, a poesia tem a capacidade de reconectar o ser humano com seus sentimentos mais profundos, promovendo a cura interior.

Será que é tão difícil entender isso? Ou é proposital?

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Referência:

Novalis, Fragmentos, publicado em diversas coleções de suas obras.

 

VÍDEO-BÔNUS

Um pouco de Drummond, com Leonardo Magalhaens

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Roger DageerreHá 7 meses São José de RibamarRealmente! A poesia cura as feridas infligidas pela razão e muito mais...
Plácida MariaHá 8 meses São Paulo Há aqueles que cospem poesia para adubar o ego.
Luciano Vale de Oliveira Jr.Há 8 meses São Paulo [Será que é tão difícil entender isso? Ou é proposital?]. Difícil responder.
José GomesHá 8 meses Sorocaba SPO contexto absolve o legado de espectros do faz de conta no mundo de Oz sem leões. Só homens de lata. Vazias...
Raimundo FonteneleHá 8 meses Barra do Corda Maranhão Aquela ali, a ABL, vem se tornando um antro de interesseiros (quase escrevia cafajestes, mas parei a tempo) em meio a poucos e verdadeiros escritores e intelectuais. Que Dia Nacional da POESIA, que Carlos Drummond, que nada!, eles estão de olho em outras coisas. Músico, atriz, babacas diversos ostentam fardãos e brasões, num país em que artistas, intelectuais e professores elegeram como presidente um analfabeto e ladrão. Herói sem nenhum caráter saído do livro Macunaíma, de outro Andrade.
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