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fontenele: “ATENAS, PANTHEON MARANHENSE E OUTROS BICHOS (Parte final) ”

Raimundo Fontenele é convidado do Facetubes (www.facetubes.com.br).

Mhario Lincoln
Por: Mhario Lincoln Fonte: Raimundo Fontenele
31/10/2024 às 19h32
fontenele: “ATENAS, PANTHEON MARANHENSE E OUTROS BICHOS (Parte final) ”
Raimundo Fontenele

O MITO

Manuel Odorico Mendes, tendo  nascido em São Luís em 24 de janeiro de 1799 e falecido em Londres em 17 de agosto de 1864, foi um dos mais proeminentes biografados por Henriques Leal, na sua polêmica obra Pantheon Maranhense.
Político, jornalista, poeta, publicista e grande humanista brasileiro, Odorico Mendes descendia de uma tradicional família do Maranhão, e entre seus trabalhos literários o que o tornou mais conhecido e célebre foram suas traduções, as primeiras, para o português das obras de Homero e Virgílio.
Sendo precursor da moderna tradução criativa, foi, ainda, o primeiro tradutor da Ilíada, de Homero, para português, e por muitos considerado o mais acabado humanista lusófono.
O certo é que Odorico Mendes não foi apenas um homem de letras. A política e o jornalismo também lhe corriam nas veias, assim como outros antes e depois dele também o fizeram. Penso no João Lisboa, no professor Nascimento de Moraes e outros tantos.
            Nem chegou a pertencer à primeira linhagem dos criadores literários maranhenses, não houve grande profundidade no que dele nos chegou em poemas e rimas, versos e prosas, mas é inegável a sua cultura e o seu esforço e entusiasmo para com a grande literatura.
Tanto assim que foi estudar e aprender a língua grega com a única intenção e louvável objetivo de deixar, para todos nós, aquilo que é em termos culturais sua obra prima: as traduções inventivas dos maiores mitos da poesia grego-latina: Homero e Virgílio.
Por isso, ao se empenhar nas traduções das obras gregas e neolatinas para o português, ou ser mais um dos tradutores, assumia a responsabilidade de ser um herói, digno de ser seguido e imitado na acepção de Henriques Leal, que diz dele ter sido aquele cuja “missão” foi a de levar aos seus concidadãos o gosto smerado pela verdadeira cultura antibárbara que se praticava no Maranhão.
Incentivado por amigos e pelo forte patriotismo, Odorico Mendes passa a redigir um jornal, o Argos da Lei, que faz oposição ao partido representado na imprensa por outros dois jornais dirigidos e redigidos por portugueses: o Amigo do Homem e Censor Maranhense, este último editado por João Antonio Garcia de Abranches. Trava com este fortes polêmicas que se prolongarão até ao encerramento do Censor Maranhense em Maio de 1830 e à expulsão do seu redator para Portugal.
A influência do Argos da Lei leva a que Odorico Mendes, poucos meses após fundação do jornal, seja eleito como deputado à primeira Assembleia Geral Legislativa do Brasil. Muda-se para o Rio de Janeiro, onde se afirma como cultor das belas letras, político e jornalista.
Integra a Falange Liberal e dá início a uma vigorosa e crescente oposição ao governo imperial, só interrompida em 1831, face ao desfecho da revolução que culminou na queda do primeiro Imperador. Orador eloquente, ganha reputação como deputado e como polemista ativo na Câmara e na imprensa.
Com a abdicação de D. Pedro, a 7 de abril de 1831, Odorico Mendes exerce influência na escolha dos membros da Regência e votou em favor da manutenção da monarquia. Embora acalentasse ideais republicanos, reconhecia a imaturidade das instituições para permitir a implantação imediata da república, até porque o recente exemplo do que aconteceu em Portugal após o período revolucionário de 1820-1822 recomendava cautela. De fato, a antiga metrópole, depois dos tempos revolucionários do Vintismo(*), caíra nas mãos reacionárias do rei absolutista D. Miguel.
Nesse período escreve em vários jornais do Rio de Janeiro, de São Paulo e do Maranhão, sendo reeleito com ampla margem para um segundo mandato, agora obtido sem o apoio do governador do Maranhão.
Em 1833, em plena Regência, concorre ao terceiro mandato e é estrondosamente derrotado. É o resultado da posição moderada que assumiu após a revolução, quando apoiou a anistia dos apoiadores do regime deposto e a manutenção da ordem constitucional, contrariando o revanchismo reinante.
Embora a sua posição tivesse prevalecido, a moderação que demonstrou acabou por esmaecer-lhe o prestígio de político liberal que lhe devotava o Maranhão. Contudo, no ano seguinte foi chamado para ocupar uma vaga deixada por um deputado que fora nomeado senador, regressando assim à Câmara. Terminado o mandato, passa a exercer funções na Fazenda, prosseguindo uma carreira devotada ao jornalismo e à literatura.
Depois de um longo hiato na atividade parlamentar, em 1845, já no Segundo Império, é novamente eleito, agora pela província de Minas Gerais. Exerce o mandato sem o arrebatamento que o notabilizara nas primeiras legislaturas, moderado pelo tempo e pela evolução política.
Finda a legislatura, em 1847, já viúvo e aposentado, com os cinco filhos e a irmã Mitilina, muda-se para a França, onde se dedica inteiramente à vida literária, abandonando em definitivo a atividade política.
Assim, estava completo o homem. Jornalista, político e literato, Odorico Mendes tinha a importância para as letras nacionais tal como tiveram Homero para os gregos e Virgílio para os romanos.
Odorico Mendes foi imortalizado no espaço simbólico do panteão maranhense caracterizado como Athenas Brasileira, cujos elementos de ritualização, reuniu princípios de idealização clássica da civilização ocidental, acrescido dos exageros do romantismo nacional.
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(*) – Vintismo é a designação genérica dada à situação política que dominou Portugal entre Agosto de 1820 e Abril de 1823, caracterizada pelo radicalismo das soluções liberais e pelo predomínio político das Cortes Constituintes, fortemente influenciadas pela Constituição Espanhola de Cádis.

 

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OU O QUE COELHO NETTO TEM A VER COM AS CALÇAS?
  
 
Quis fazer esta homenagem à Coelho Netto sem entrar no mérito do seu valor artístico e literário. Apenas para lembrar minha mãe, Joana Oliveira Fontenele, que leu tanto este poema até que eu o decorasse. Talvez ela quisesse que eu nunca esquecesse o quanto ela devia ser fundamental em minha vida, talvez se valorizasse aos meus olhos de forma que eu nunca esquecesse seus ensinamentos e os seguisse. O que fiz eu? Às vezes, sim; às vezes, não. 
 
O século dezenove foi uma época realmente pródiga para o nosso Maranhão. Não podemos esquecer que uma economia sólida, uma organização política saudável ou sadia, e sobretudo a intensificação de um processo educacional permitem que os talentos individuais se manifestem e se desenvolvam.
E no segundo império o Maranhão gozava de um grande prestígio intelectual e cultural, possuía um comércio dos mais florescentes, a própria Praia Grande, mais do que hoje com o Reviver, fervilhava de embarcações no atracadouro da Rampa Campos Melo, com um intenso intercâmbio comercial e científico-cultural com a Europa, principalmente com Portugal e França.
Os casarões, os sobradões, os mirantes, os azulejos, tudo isso traduz parte de uma herança colonial imorredoura, pois ali está a arquitetura portuguesa, com sua ancestralidade que nos antecedeu e, de certa forma, nos forjou e preparou para os dias daquela glória vivida. Coelho Netto pertence àquela época.
Henrique Maximiano Coelho Netto nasceu em Caxias, Maranhão, no dia 20 de fevereiro de 1864. Filho do português Antônio da Fonseca Coelho e da índia Ana Silvestre Coelho. Aos seis anos foi, com a família, morar no Rio de Janeiro, onde estudou no Colégio Jordão.
Em 1870, a família foi morar no Rio de Janeiro. Foi aluno do Colégio Pedro II. Estudou Medicina e Direito, mas não concluiu nenhum dos cursos. Ainda jovem entrou na Faculdade de Medicina, mas não permaneceu por muito tempo, por não se adaptar à frieza da morte e da anatomia.
 Então com 18 anos, matriculou-se na Faculdade de Direito de São Paulo, de onde saiu por se desentender com um professor, transferindo-se para a Faculdade de Direito do Recife, mas as lutas abolicionistas e republicanas não o deixaram concluir o ensino superior.
Casou-se com Maria Gabriela Brandão, logo após a Proclamação da República, tendo como padrinho o próprio Presidente, Deodoro da Fonseca. O casal teve treze filhos, dos quais só sete sobreviveram.
Em 1885, conheceu José do Patrocínio, que o introduziu na redação do jornal Gazeta da Tarde e no periódico A Cidade do Rio. Participava de movimentos abolicionistas e republicanos, ao lado de José do Patrocínio que o introduziu em sua carreira de jornalista na Gazeta da Tarde, formando com este e mais alguns amigos o grupo da "boêmia literária" do Rio de Janeiro.
Também foi Diretor dos Negócios, da Justiça e Legislação do Estado do Rio de Janeiro (1891); professor de História das Artes, na Escola Nacional de Belas-Artes (1892); redator de debates do Senado (1893); professor de literatura no Ginásio de Campinas (1901) e no Colégio Pedro 2o (1907); deputado federal pelo Maranhão em três legislaturas (1909-1921); professor da Escola de Arte Dramática Municipal e também seu Diretor (1910).
Seu livro de estreia foi Rapsódias, de 1891, quando passou a desenvolver uma intensa carreira literária. Escritor fértil, sua obra consta de 130 livros, entre os quais estão romances, cerca de 650 contos, crônicas, fábulas, teatro e memórias.
Estas são algumas de suas obras mais representativas: "A Capital Federal" (1893); "Rei Negro" (1914); "Mano" (1924); "Fogo-Fátuo" (1929) e Impressões de um Sertanejo" (1893).
Em 1896, participa das primeiras reuniões com objetivo de criar a Academia Brasileira de Letras, onde ocupou a Cadeira nº 2.
E também participa da vida política nacional, tendo sido eleito Deputado Federal pelo Maranhão, para a legislatura de 1909 a 1917.
Pela sua extensa obra literária, em 1928, foi consagrado como “Príncipe dos Prosadores Brasileiros”. De sua extensa obra literária, destacam-se também "Fruto Proibido", "O Rei Fantasma", "Contos Pátrios", "As Estações", "Mistério do Natal" e “A Cidade Maravilhosa”. Também poeta, escreveu um soneto que se tornaria famoso "Ser Mãe".
Além de assinar trabalhos com seu próprio nome, escrevia sob diferentes pseudônimos, entre eles Anselmo Ribas, Caliban, Ariel, Amador Santelmo, Blanco Canabarro, Charles Rouget, Democ, N. Puck, Tartarin, Fur-Fur e Manes. Coelho Netto morreu no Rio de Janeiro, no dia 28 de novembro de 1934.
Para seu filho, Paulo Coelho Netto, ele possuía "o mais rico vocabulário da língua, calculado em 20 mil palavras". Já Antônio Cândido diz que ele tinha a "imaginação relativamente escassa e a capacidade de observação um tanto apressada ou superficial".
Sua linguagem rebuscada, estilo opulento e luxuriante (Brito Broca), causou repulsa, especialmente nos modernistas, que dele debochavam: "O mal foi eu ter medido o meu avanço sobre o cabresto metrificado e nacionalista de duas remotas alimárias - Bilac e Coelho Netto...", diz Oswald de Andrade, no prefácio de Serafim Ponte Grande.


 
 
SER MÃE
 
 Ser mãe é desdobrar fibra por fibra
o coração! Ser mãe é ter no alheio
 lábio que suga, o pedestal do seio,
 onde a vida, onde o amor, cantando, vibra.
  
 Ser mãe é ser um anjo que se libra
 sobre um berço dormindo!  É ser anseio,
 é ser temeridade, é ser receio,
 é ser força que os males equilibra!
  
 Todo o bem que a mãe goza é bem do
 filho, espelho em que se mira afortunada,
 Luz que lhe põe nos olhos novo brilho!
  
 Ser mãe é andar chorando num sorriso!
 Ser mãe é ter um mundo e não ter nada!
 Ser mãe é padecer num paraíso!

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