Linda Barros, escritora e atriz. Membro da Academia Poética Brasileira.
“Escrever não é fácil. Mas, difícil mesmo é encontrar alguém que queira ler o que escrevemos”
José Neres
Estamos vivendo o fervor da 17ª Feira do Livro de São Luís e nossa “Cidade dos Azulejos” se transformou na “Cidade dos Livros”, título muito apropriado já que o grande homenageado da vez é Viriato Corrêa, autor de tantas obras, entre elas a mais conhecida pelo grande público: “Cazuza”, não, não é o cantor Cazuza (acreditem, ainda tem muita gente que faz essa confusão), é o personagem menino que usava vestidos quando criança e que seu grande sonho era crescer um pouco mais para usar calcinhas. Temos também outros homenageados como é o caso de Coelho Neto e Justu Jansen, onde foram celebrados com rodas de conversas e palestras. Outro nome lembrado na Feira (apesar de não ser o homenageado principal), José Chagas, que este vive a efervescência de seu centenário de nascimento (1924 – 2014). Ao poeta de “Os canhões do silêncio” rendemos as merecidas homenagens. Outra autora também muito festejada e homenageada nestas Felis, é Laura Rosa (1884 – 1967), a primeira mulher a entrar na secular e egrégia Academia Maranhense de Letras (como não ter orgulho!).
Bem, já são dezessete anos trazendo para as praças a cultura dos livros e angústia ainda é a mesma: “Escrever para quem”? Nós maranhenses estamos tão acostumados a ouvi expressões do tipo “São Luís, cidade dos azulejos”, “São Luís, a Jamaica brasileira” e a principal e mais importante delas “São Luís, a Atenas brasileira”, mas algo nos perturba no meio desse turbilhão de adjetivos criados (não se sabe por quem), para nos identificar no planeta: Por que ainda há tanto descaso com nossos autores? Principalmente autores mais contemporâneos? É certo que nossa literatura é vasta, mas ela não parou nas páginas de Ferreira Gullar, de Aluísio Azevedo, de Nauro Machado, de José Chagas, de José Sarney, de Maria Firmina dos Reis (opsss temos uma mulher), aliás alguém ainda ler esses autores? Ou só servem para carregar a alcunha de grandes autores da literatura maranhense?
Já se passaram 17 edições, das festividades da Feira do Livro de São Luís – a FELIS – e, será que todos os problemas sumiram. E têm problemas? Muitos. Mas o principal deles, é escassez de leitores. Como foi dito lá no início desse texto, na epígrafe do Acadêmico José Neres, “Escrever não é fácil. Mas, difícil mesmo é encontrar alguém que queira ler o que escrevemos”.
O poeta e dramaturgo espanhol, García Lorca, membro da famosa Geração de 27 e que nos deixou em 1936, fuzilado durante a Guerra Civil Espanhola, pelo simples fato de ser homossexual, (dados verídicos e comprovados em livros), nos deixou uma grande herança com sua vasta obra, entre elas Romancero gitano (1928), Poeta em Nueva York (1940) e Llanto por Ignacio Sánchez Mejía (1935). Entre tantas riquezas literárias, Lorca nos deixou um legado, e, ainda um conselho: “Não só de pão vive o homem. Eu se tivesse fome e estivesse à míngua na rua não pediria um pão; pediria meio pão e um livro.” É aqui que queremos chegar.
Como mencionado antes, a 17ª Felis tem como slogan “A cidade dos Livros” e para tal, foi criado vários espaços onde o leitor pudesse debruçar-se sobre os livros (talvez) adquiridos na Feira. No entanto, um desses espaços nos chamou a atenção; “Você pode ler mais”, assim é a frase (linda né?) no referido espaço. Pois bem, em meio a passeio por ali, paramos nesse local e ficamos observando: o “cantinho da leitura” é bonito, ventilado, confortável e iluminado, propício para a finalidade: “ler mais”, mas, o que presenciamos foi catastrófico: vários leitores (não de livros claro, mas de celulares). Então tivemos uma ideia: por que não lhes dar o que queriam ou pedia aquele lindo espaço? Feito. Patrocinado pela AML, deixamos alguns livros espalhados pelo chão, pelos puffs (ah, os puffs são charme do local), pelos bancos e, pasmem, nada aconteceu. Uma criança recolheu um deles, folheou admirada e logo deixou no mesmo lugar, os “donos” daquele lugar nem isso. Alguns sentavam à beira do banco para não machucar o livro, os demais seres viventes nem isso. Por fim, não sabemos que fim levaram os livros ali deixados.
Então senhoras e senhoras, não é falta de livros que fazem um bom ou mal leitor, mas sim, a falta de interesse dos (muitos) leitores que passaram pela semana inteira da 17ª Feira do Livro de São Luís.
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