Renata Barcellos
Em ano e mês comemorativo dos meus 50 anos, estou lançando mais um livro, o segundo de práticas pedagógicas realizadas no Colégio Estadual José Leite Lopes (Nave RJ). É tempo de reflexão, de organizar a aposentadoria, de tirar licença prêmio, de traçar novas metas para desbravar novos horizontes. Hoje, a meia idade não significa o fim do mundo. Mas o recomeço. Uma pausa para, no cruzamento da vida, redefinir qual caminho trilhar. Ser resiliente. Ter novos ideais. Permitir-se reconstruir a vida. Não temer o novo. Não se sentir no fim de linha. Os sonhos são o alimento da alma. São fonte de energia e inspiração. O que nos impulsiona a sobreviver nesta selva de pedra.
O que significa este termo? Conforme descrito no Relatório Mundial sobre Idadismo, da Organização Mundial da Saúde (OMS), refere-se a “estereótipos (como pensamos), preconceitos (como nos sentimos) e discriminação (como agimos) direcionadas às pessoas com base na idade que têm”. Essa prática pode ser chamada de idadismo ou ageísmo. Este último deriva de ageism, palavra criada no inglês. Foi definido em 1969 por Robert Butler – gerontólogo estadunidense, para se referir aos estereótipos (como pensamos), preconceitos (como sentimos) e à discriminação (como agimos).
Este fenômeno nocivo à sociedade afeta a autoestima e, consequentemente, a saúde física e mental. Ocorre em diversos ambientes (familiar, profissional e de saúde), por meio de violência psicológica, verbal e ou física. E pode causar graves sequelas psicológicas (como depressão, síndrome do pânico...) nas vítimas por prejudicá-las pela exclusão de espaços sociais e laborais. Assim, causando impacto em vários setores da sua vida. Conforme a Organização Mundial da Saúde, até 2050, a população de idosos será de cerca de 2 bilhões de pessoas. Vale a pena conferir a entrevista da psicoterapeuta junguiana Michele Brito nos orienta (disponível em https://www.youtube.com/watch?v=7qCOEJz37tA&t=2s).
A Agenda 2030 traz este fenômeno como um dos objetivos a ser combatido. No Brasil, há diversos casos que ilustram esta prática. Um exemplo com grande repercussão foi de uma estudante de Biomédica com 40 anos, de uma universidade particular de Bauru, no interior de São Paulo. Estudantes a ironizaram: “Gente, quiz do dia: como ‘desmatricula’ um colega de sala?”. E outra jovem responde: “Mano, ela tem 40 anos já. Era para estar aposentada”. Lamentável!!!
No caso do Brasil, estima-se que o país terá uma das populações mais idosas do mundo nas próximas décadas. Com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), elaborada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o estudo Ernst & Young e Maturi, revelou que, de 2012 a 2019, a parcela da população com mais de 50 anos saiu de 23% para 28%. Estimativas indicam que até 2040 seis em cada dez trabalhadores brasileiros terão mais de 45 anos de idade. Os números do IBGE mostram que, em 17 milhões de famílias brasileiras, o sustento econômico é de responsabilidade de pessoas com mais de 60 anos.
Para combater esta prática, a Secretaria Nacional dos Direitos da Pessoa Idosa do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania mobiliza a sociedade com a campanha “Respeito a todas as fases da vida”, em alusão ao Junho Violeta. Ocorreu durante o mês junho, em alusão ao dia 15 de junho: Dia Mundial de Conscientização da Violência contra a Pessoa Idosa – instituído pela Organização das Nações Unidas, em 2011, a fim de alertar sobre todas as formas de violência contra a pessoa idosa. E, dessa forma, sensibilizar a sociedade sobre o enfrentamento à violência contra a pessoa idosa. Em 2023, do total de denúncias registradas pelo Disque 100, a maioria foi contra crianças e adolescentes (141.667) e pessoas idosas (88.408) com os maiores tipos de violência por negligência e maus-tratos. Isso demonstra que agressores se aproveitam da vulnerabilidade das vítimas em relação às idades para praticar violações de direitos humanos.
Segundo a psicóloga Rute Borges (especialista em saúde mental, palestrante, escritora, autora de obras dentre elas O impacto positivo da terapia e proprietária da Arbor editora... @ruteborges), o preconceito sobre a pessoa idosa e, também, à idade, “por não se adequar ao meio em que pode estar inserido, é assustador. Machuca muito a pessoa, vem da própria família e se expande na sociedade. Tanto para o homem quanto para a mulher, as críticas por achar que não tem capacidade esquecem que eles possuem experiências e o direito de viver como quiserem sua vida. Muitas vezes passaram uma vida limitada para beneficiar os filhos e quando decidem viver seus sonhos são discriminados. Muitas vezes, este preconceito impede a pessoa de recomeçar a vida em um novo emprego, relacionamento, viajar, praticar esportes, ir pra shows, ou (até mesmo) usar uma roupa. São vistas com descaso e desrespeito. Se a pessoa não tiver estrutura psicológica, ela desiste dos seus sonhos. Em uma sociedade na qual, frequentemente, idolatra a juventude, é vital recordar que envelhecer é uma dádiva, um privilégio concedido a alguns poucos e deve ser celebrado com gratidão”.
A mobilização do ministério com a campanha “Respeito a todas as fases da vida” ocorre durante o mês junho, em alusão ao dia 15 de junho, data na qual é lembrado o Dia Mundial de Conscientização da Violência contra a Pessoa Idosa – instituído pela Organização das Nações Unidas, em 2011, com o propósito de sensibilizar a sociedade sobre o enfrentamento à violência contra a esta faixa etária. A Lei 10.741/2003, também conhecida como Estatuto do Idoso, sancionada em 6 de outubro de 2003, durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, em seu artigo 96, descreve o delito de discriminação contra idoso, que consiste no ato de, em razão da idade, tratar a pessoa de forma injusta ou desigual, criando empecilhos ou dificuldades de acesso a operações bancárias, meios de transporte, ou criar embaraços ao exercício da cidadania. A pena prevista é de 6 meses a 1 ano de reclusão e multa. Se a pessoa que cometer o crime for responsável pela vítima, a pena será aumentada em até 1/3. Vejamos alguns artigos:
· Art. 4: Nenhuma pessoa idosa será objeto de qualquer tipo de negligência, discriminação, violência, crueldade ou opressão, e todo atentado aos seus direitos, por ação ou omissão, será punido na forma da lei.
· Art. 27: Na admissão da pessoa idosa em qualquer trabalho ou emprego, são vedadas a discriminação e a fixação de limite máximo de idade, inclusive para concursos, ressalvados os casos em que a natureza do cargo o exigir.
· Pena – reclusão de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.
· § 1º Na mesma pena incorre quem desdenhar, humilhar, menosprezar ou discriminar pessoa idosa, por qualquer motivo.
· § 2º A pena será aumentada de 1/3 (um terço) se a vítima se encontrar sob os cuidados ou responsabilidade do agente.
Como em outros crimes, por exemplo, a violência contra a mulher, mesmo existindo a legislação (Lei 14.994, de 2024), infelizmente, os índices só aumentam. E a respeito deste tema, vejamos a bela iniciativa do Grupo de Poetas e Escritores Mário Quintana (GPEMQ - composto por Jean Reinert, Carlos Müller, Marlene de Fáveri, Nassau de Souza e Orlando Ferreira) do qual eu tenho a satisfação de conhecer e de já ter entrevistado (disponível em https://www.youtube.com/live/DwlaZXr4u5I?feature=shared). Estão na terceira idade e produzindo. Propondo novos projetos de vida. São exemplos a serem seguidos. São fonte de inspiração.
Uma das integrantes é Marlene de Fáveri (Doutora em História pela UFSC, professora, escritora, cronista e poeta. Autora dentre outras obras de poesias “Se pulsa, arde e resiste” - @marlenedefaveri) me enviou o link do mais novo trabalho completo do grupo: a performance poética do GPEMQ Os Sexagenários (disponível em https://www.youtube.com/live/ExMpH3RF65U) e o oficial (disponível em https://youtu.be/4G6PoI9_oxs?si=iQH-tELilCSHXT50). Trata-se de uma obra poética e performática, desenvolvida em quatro etapas na Casa da Cultura Dide Brandão, Itajaí, SC, explorando de forma sensível e crítica as diversas perspectivas sobre o envelhecimento. Segundo Nassau de Souza (produtor cultural, autor e videoartista), a performance “desafia estereótipos sociais e culturais, destacando que a idade é também um espaço de potência, sabedoria e resistência... exploram temas como arte e tecnologia, envelhecimento, memória e a resistência por meio da poesia, música eletrônica e da performance. O processo culminou em um ensaio aberto, realizado no Café Maestro Produções, com transmissão ao vivo pelo canal do YouTube da Cinsete Produtora e uma plateia de convidados especiais. Esse momento foi a oportunidade de compartilhar com o público o resultado da experimentação artística, proporcionando uma experiência única e imersiva, onde arte, poesia e performance se entrelaçam para questionar e celebrar o tempo vivido”. E, com certeza, para quem assiste é único e reflexivo. Um mergulho nas nossas profundezas. Um pensar o futuro próximo.
Como os integrantes são das Artes, abordaram este fenômeno social de forma poética, com um tom de manifesto. Mas isso não minimizou a gravidade da questão. Foi uma estratégia para sensibilizar as pessoas das diferentes faixas etárias. A proposta em formato de ensaio aberto interagindo com a plateia é produtivo, um espaço rico de troca.
Finalizamos com algumas reflexões: “Há de se olhar para vida como fases. E cada fase é belíssima. A idade está na alma. Uma alma leve e feliz não sente o tempo. Recado para o ser humano A frase que carregou comigo sempre: Seja gentil com você” (Dra. Michele Brito Psicoterapeuta junguiana e medicina germânica. Neurorradiologista). A canção Poema (gravada pelo cantor e compositor Ney Matogrosso) e Música do Dia Mundial de Conscientização da Violência contra a Pessoa Idosa: “Eu hoje tive um pesadelo e levantei atento, a tempo. Eu acordei com medo e procurei no escuro alguém com seu carinho”. Foi escrita por Cazuza como um poema de amor para sua avó materna, Maria José, de quem o cantor era muito próximo. Após a morte de Cazuza, o amigo Frejat transformou os versos em música. E com um fragmento de Sexagenários “Envelhecer é revolucionarmos”. REVOLUCIONEMOS JÁ!!! E ABAIXO O ETARISMO!!!Fina li
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