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O Cartum que virou BUUMMM na cabeça de ditadores

Mhario Lincoln é presidente da Academia Poética Brasileira.

18/11/2024 às 18h32 Atualizada em 18/11/2024 às 19h15
Por: Mhario Lincoln Fonte: Mhario Lincoln
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arte: MHL
arte: MHL

 

· Mhario Lincoln

 

Na época, acompanhei de perto o papel que a revista "Baú de Cartuns" teve no contexto da Resistência Cultural do Maranhão, durante os anos pós-64, transformando-se em um exemplo marcante de como a arte pode se tornar uma forma de resistência. Isso porque, durante a ditadura militar no Brasil, a produção cultural foi severamente limitada e os artistas tiveram que encontrar meios criativos para expressar suas opiniões e provocar reflexões. Então, vou tentar analisar isso, por partes.

 

Contexto Histórico

·       Entre 1964 e 1985, o Brasil viveu sob um regime militar autoritário. Nesse período, a censura restringia severamente a liberdade de expressão, principalmente no campo das artes e da cultura. Livros, peças de teatro, músicas e publicações eram monitorados e frequentemente proibidos, se consideradas “subversivos”.

 

·       Foi nesse cenário que surgiu o "Baú de Cartuns", criado por um grupo de artistas maranhenses que buscava expressar críticas sociais e políticas de maneira inteligente e acessível. A revista tornou-se um canal de resistência cultural, utilizando o humor como ferramenta para questionar o regime e engajar a sociedade.

 

Estratégias Artísticas e Narrativas

·       Os artistas do "Baú de Cartuns" utilizaram diversas estratégias para driblar a censura e alcançar seu público-alvo. Por exemplo, "Metáforas Visuais", isto é, desenhos simbólicos e alegorias que permitiam transmitir mensagens críticas de maneira indireta, dificultando a detecção pela censura.

 

·       Outro lado criativo desse grupo era a sátira política, geralmente usada para suavizar as críticas e ao mesmo tempo gerar reflexões profundas sobre a realidade social e política. E isso era fortalecido com a participação de diversos artistas maranhenses que trouxeram diversidade de estilos e abordagens, garantindo que a revista mantivesse sua relevância e originalidade.

Essas estratégias não apenas garantiram a sobrevivência da revista, mas também aumentaram seu impacto cultural, conectando diferentes setores da sociedade em um debate crítico.

 

Desafios e Adversidades

A produção do "Baú de Cartuns" sofreu vários obstáculos. A censura rigorosa era um deles. A necessidade de aprovação prévia para publicações limitava o alcance e a distribuição.

Por outro lado, a revista era produzida de forma independente, com materiais e impressão muitas vezes improvisados. Além do mais, os colaboradores estavam constantemente sob ameaça de perseguição por parte das autoridades.

Apesar disso, a revista conseguiu sobreviver e prosperar por cerca de três anos, (8 edições), mostrando a força e a resiliência de seus idealizadores, em especial, Cordeiro Filho, Cruz Neto e depois Érico Ayres e César Teixeira.

 

Cordeiro Filho, um dos fundadores.

Legado e Impacto

O "Baú de Cartuns" deixou um legado cultural e histórico significativo, pois documentou, de forma artística, os desafios e as lutas da sociedade brasileira durante a ditadura.

E mais: tornou-se um grande sucesso, pois sofreu inspiração de outros projetos artísticos e culturais, fortalecendo a luta pela liberdade de expressão.

Desta forma, mesmo com sua produção limitada, a revista alcançou notoriedade além de São Luís do Maranhão, sendo um símbolo nacional de resistência cultural.

Tanto que o intelectual Iramir Araújo - Historiador, Mestre em História Social pela Universidade Federal do Maranhão, escritor, roteirista e editor, (sendo pioneiro em publicações de obras em quadrinhos, como a aplaudida ‘‘Balaiada - A Guerra do Maranhão’’ e ‘‘Ajurujuba - A Fundação da Cidade de São Luís’’), decidiu fazer um documentário sobre o "Baú", resgatando, inclusive, em depoimento, a figura ícone, de Érico Ayres, já falecido. Sobre isso, diz Iramir, com muita propriedade:

 

"Em 1979, um ano após o fim da vigência do AI5 – Ato Institucional número 5, que havia, ao ser publicado dez anos antes, fechado o Congresso Nacional e as Assembleias Legislativas, instituído a censura prévia da imprensa e de produções artísticas e dado ao presidente a possibilidade de intervenção nos Estados e Municípios, surgiu uma revista de humor no Maranhão, mais precisamente em São Luís, chamada "Baú de Cartuns".

Surgida no rastro dos jornais "O Pasquim"-1969, "Opinião"-1972 e "Movimento"-1975, que desafiavam frontalmente o regime militar, a revista ludovicense, em vários momentos, os cartuns publicados por seus diversos colaboradores cutucavam a 'onça com vara curta'.

Capitaneada por Cordeiro Filho e Cruz Neto que fizeram sozinhos os dois primeiros números, a revista arregimentou aquele que veio a se tornar seu colaborador mais constante: Érico Ayres, e em seguida uma leva de cartunistas, jornalista, poetas, fotógrafos e quem mais desejasse participar, engrossou o time que tocou adiante a ideia, sempre tendo à frente o cartunista Cordeiro Filho.

A publicação, em periodicidade irregular, foi um sopro de graça numa cidade que há muito não tinha uma publicação voltada para o humor e, concomitantemente, política. Ela teve a sorte de não ser perseguida, como o foram "O Pasquim" e outras publicações do gênero, mas o regime sempre se fazia lembrar que ainda estava por ali, apesar da extinção do AI5.

Hoje, mais de 40 anos depois de lançada, a "Baú de Cartuns" ainda é uma referência em publicações de humor no Maranhão. (...)". Escreveu Iramir Araújo, para a Plataforma do Facetubes (www.facetubes.com.br).

 

 

EPÍLOGO

Destarte, em tempos difíceis, o humor e a criatividade se tornam armas poderosas. A revista "Baú de Cartuns" não apenas entreteve, mas também educou, provocou e estimulou uma geração a lutar por um futuro melhor. Este legado, mesmo apenas nas bibliotecas, nos arquivos e na memória vida de parte da população ludovicense - cm mais de 50 - continua um exemplo de coragem e criatividade diante da adversidade, reafirmando o papel essencial da arte na construção de uma sociedade mais justa e livre.

 

Finalmente quero agradecer a Cordeiro Filho e Iramir Araújo a atenção dispensada à Plataforma do Facetubes, cedendo uma nova pérola vídeo-documental brasileira - "Humor em tempos de cólera - Baú de Cartuns" - abaixo reproduzido, numa forma de imortalizar essa grande manifestação de resistência, em solo maranhense.

 

VÍDEO-BÔNUS

Um documentário (em Curta) sobre a revista de humor "Baú de Cartuns" publicada em São Luís-Ma a partir de 1979, que congregava cartunistas, poetas, cronistas, fotógrafo e outros profissionais em um libelo contra o regime que vigia naquele tempo. (Iramir Araújo).

 

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Julião de Souza CastroHá 2 semanas São Luís do MaranhãoConversei certa vez com Érico e ele me falou uma coisa bem importante sobre o "BAú". ele me disse que a colaboração de diversos artistas e escritores na revista permitiu a diversificação de estilos e das críticas, dificultando que os censores identificassem padrões e focos de ataque. Estou certo?
Líndice MatosHá 2 semanas Bacabal MACaro Cordeiro e Iramir. O Importante dessa revista foi o humor de érico que usou essa ferramenta poderosa para suavizar o tom das críticas, tornando-se mais “aceitáveis” pela censura.
Marcelo K, catunista e DJHá 2 semanas Brasília Distrito.Meninos, a nossa luta continua.
Valquíria CassasHá 2 semanas Rio Senhores do conselho. Um resgate de peso na história do Maranhão.
José de Ribamar PazHá 2 semanas Rio de Janeiro-RIOQuantos anos, Cordeirinho. Estive em São Luís em 1970 para estudar a área de uma grande industria de aluminio. Conheci você. E ganhei um exemplar dessa revista. Tenho ela guardada até hoje. E agora, lendo este magnífico portal tge revejo falando do Baú (que não era da Felicidade) para aqueles que governavam o país na época. (Rindo muito).
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