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Cultura do cancelamento: ditadura velada ou descarada?

Opiniões e reflexões

27/11/2024 às 09h14
Por: Mhario Lincoln Fonte: Renata Barcellos
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Renata Barcellos
Renata Barcellos

 Renata Barcellos (BarcellArtes)

Hoje, há a ilusão de sermos LIVRES, de termos liberdade de expressão. Mas, na prática, o que ocorre?  CANCELAMENTO quando se produz determinados produtos e ou se posta determinados conteúdos nas redes sociais. Evidente que se pode e deve ser CANCELADO pela abordagem OFENSIVA quanto aos DIREITOS HUMANOS!!!

O termo “cancelamento” se popularizou. O Google Trends (2021) aponta o crescimento de 1.500% no número de buscas na web pela expressão “cultura do cancelamento” a partir de fevereiro de 2021. Hoje, cancelamento é entendido como a exclusão ou o bloqueio de certo perfil em redes sociais, devido a posicionamentos ou manifestações, sobretudo por razões de discordância ou protesto. Parece algo recente, contudo, sempre esteve presente. A história da humanidade está repleta de “cancelamentos”, na qual pessoas, grupos e comunidades foram cancelados não somente a partir de ações da sociedade civil, mas também por via institucional. Exemplos: a Lei do Ostracismo de Atenas (no final do Século VI a.C.) era instrumento usado para exilar ou banir alguém que pudesse representar ameaça à democracia; a edição do Index Librorum Prohibitorum feita em 1559 pelo Papa Gelásio I, elencando livros proibidos; a ditadura civil-militar aplicava censura a obras literárias e até mesmo a notícias; a queima de livros de autores judeus, na Alemanha Nazista, em 10 de maio de 1933, dentre outros nas Literaturas brasileiras como os escritores Machado de Assis, Jorge Amado, Monteiro Lobato, Ziraldo, Airton Souza e Jeferson Tenório.

Quanto aos contemporâneos Airton Souza e Jeferson Tenório, este é autor de O Avesso da Pele (publicado em 2020) na qual conta a história de um jovem que teve o pai morto em uma abordagem policial. Segundo ele, o cancelamento “Me causa espanto porque nós já temos tão poucos leitores no Brasil e deveríamos estar preocupados em formar leitores, e não censurar livros". Já Airton Souza (doutorando em Comunicação, professor, escritor, vencedor do Prêmio Sesc de Literatura 2023) sofreu cancelamento de sua obra Outono de Carne Estranha por homofobia. Segundo ele, ter uma obra “sendo perseguida é um processo dolorido, principalmente para o autor. O escritor teve todo esforço mental, sentimental para produzir o trabalho. Foi um momento bem difícil ver o livro sendo atacado. Não é de hoje o ataque aos artistas”. Assista a entrevista em BarcellArtes Questões Literárias (https://www.youtube.com/live/s_87AzOj6V4).

Com referência a esta temática, vale destacar que Pedro Tourinho lançou o livro Ensaio sobre o cancelamento pela Editora Planeta. Na obra, o autor escreve, em forma de ensaio, uma análise sobre a dinâmica do cancelamento, explorando a evolução histórica até as implicações socioculturais contemporâneas. É dividida em 12 capítulos, além da introdução e da bibliografia. Inicia o livro expondo ser o cancelamento um dos temas mais pesquisados na última década. O fenômeno pode ser explicado devido ao surgimento das redes sociais. Estes espaços virtuais tornaram o ato de cancelar algo quotidiano na sociedade.

No que se refere às redes sociais, esta semana, na quarta-feira (dia 27), o Supremo Tribunal Federal (STF) discutirá três ações sobre a responsabilização das redes sociais no Brasil. Os ministros da Corte (o presidente Luís Roberto Barroso e Alexandre de Moraes) defendem publicamente a regulamentação das plataformas digitais para combater a disseminação de notícias falsas e de discursos de ódio e restaurar a normalidade democrática no País. Urge a sociedade ter conhecimento e acompanhar a nova determinação.

Cabe lembrar que a Lei nº 12.965, de 23 de abril de 2014 - Marco civil da internet – completou 10 anos. O Art. 1º desta Lei estabelece princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da internet no Brasil e determina as diretrizes para atuação da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios em relação à matéria. O que ocorrerá esta semana é a análise de um de seus artigos no que se refere à plataforma só poder ser responsabilizada civilmente por conteúdos publicados por terceiros se não cumprir decisão judicial. Será acompanhado atentamente pelas plataformas, como: a Wikimedia (gere o Wikipédia), o ByteDance (proprietária do TikTok) o Google...

Qualquer tema PODE e DEVE ser tratado desde que de forma respeitosa, baseado em dados científicos e estatísticos. O autor deve ter liberdade de abordar e se posicionar quanto aos temas polêmicos. E ao leitor cabe LER e POSICIONAR-SE também. O mundo clama por CIDADÃOS!!! Precisamos construir uma sociedade LETRADA (letramento científico, digital, linguístico, literário...). O homem é sinônimo de SER PENSANTE (pelo menos, deveria ser). Manipulação não deve ser confundido com expressão da opinião.

Dessa forma, o cancelamento está atrelado à falta de letramento linguístico, literário. Cada pessoa deve ter o mínimo (ao menos) de leitura e escrita) para compreender e entender o que se lê e ou ouve devidamente. Precisa se fazer entender. Ter conhecimento dos fatos sociais ocorridos. Saber distinguir as Fakes News...

Um escritor precisa ser lido considerando o contexto social no qual está inserido. História e Literaturas andam de mãos dadas. De acordo com o levantamento realizado pelo instituto Ipec (de 30 de abril a 31 de julho de 2024 em 208 municípios - com 5.504 pessoas). Em 2019, havia 100,1 milhões de “leitores” no Brasil. Em 2024, indica 93,4 milhões de “leitores”. Dessa forma, em cinco anos, lamentavelmente, houve a perda foi de 6,7 milhões. Segundo a pesquisa, em média, os brasileiros leem 3,96 livros por ano. Em 2019, a média era de 4,95 livros por ano.

De acordo com Alef Gabriel Pinheiro Vieira (Graduando em Letras - Língua Portuguesa pela Universidade do Estado do Amazonas, atua como Professor de Literatura em Cursinhos e Escolas, Atua como Guia de visitas na Biblioteca Pública do Amazonas, Atua como Diretor de Cultura e Esportes do Centro Acadêmico de Letras. Tem pesquisas na área da Literatura Amazonense), a diminuição do hábito de leitura no Brasil é “fruto de diversos fatores interligados, como professor de língua portuguesa afirmo que a falta de estímulo nos ambientes escolares e a desvalorização das bibliotecas como espaços culturais. Além disso, questões econômicas dificultam o acesso aos livros, especialmente para populações em situação de maior vulnerabilidade. O tempo dedicado à leitura tem sido substituído pelo consumo de conteúdos digitais em redes sociais, que oferecem entretenimento imediato, reduzindo o espaço para o envolvimento com livros. Acredito também que outro aspecto relevante é o desinteresse cultural pela leitura, que não é mais percebida por muitos como uma atividade prazerosa ou transformadora. A valorização do livro como presente ou como elemento essencial no desenvolvimento pessoal tem diminuído, sobretudo entre os jovens. Diante disso, são necessárias políticas públicas e iniciativas que promovam o acesso a livros e incentivem a leitura de forma mais criativa, incorporando-a aos meios digitais e tornando-a mais acessível e atrativa”.

Rita Clark (professora de Literaturas): “o fechamento das boas livrarias, eu moro em Manaus,  restou apenas uma livraria de shopping,  todas fecharam,  passei , sem querer a comprar menos livros, mas ainda compro de forma online. Acho que é uma possibilidade...entre outras, preço dos livros e sedução tecnológica...acho que não procede, fiquem impactada com essa pesquisa”.

Professor pode e deve incentivar a leitura de textos e temas diversos. É preciso analisar como um assunto é abordado em um determinado gênero textual. Instigar a reflexão sobre a questão tratada e levar o aluno a se conscientizar e a se posicionar, a fim de torná-lo um cidadão crítico e atuante. Dessa forma, deve abordar qualquer tema em aula desde que não seja de forma ofensiva e manipuladora. Urge se posicionar utilizando argumentos que validem sua tese. Jamais impor sua opinião. PROFESSOR deve ser ORIENTADOR, nunca MANIPULADOR ou OPRESSOR!!! Sejamos CONSCIENTES – CRÍTICOS...

Estão confundindo SE POCISIONAR com INFLUENCIAR. HÁ UMA ENORME DIFERENÇA. VAMOS REVER NOSSAS CONCEPÇÕES!! Abaixo a ditadura. AS DITAS DURAS. Por um LETRAMENTO DIGITAL, LITERÁRIO... URGENTE!!! Por uma sociedade cidadã, sobretudo com consciência ambiental. O mundo está agonizando!!!

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Raimundo FonteneleHá 2 dias Barra do Corda Maranhão O texto bem elaborado da Renata Barcelos me levou à seguinte reflexão: não há nada de novo sob o sol. Censura, Mordaça, Forca, Fogueiras da Inquisição, Pelotão de Fuzilamento, Cancelamento: todos habitam o universo dos medíocres e hipócritas que não conseguem aceitar os contrários.
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