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O filósofo, poeta e escritor Rogério Rocha estreia no Facetubes como colunista

Rogério Rocha é membro da APB/MA e este texto está concorrendo ao PRÊMIO EXPERTISE, da Plataforma do Facetubes.

Mhario Lincoln
Por: Mhario Lincoln Fonte: Rogério Rocha
17/12/2024 às 18h08 Atualizada em 17/12/2024 às 18h33
O filósofo, poeta e escritor Rogério Rocha estreia no Facetubes como colunista
Foto: Roselene Rocha.

TEXTOS ESCOLHIDOS
A equipe de pesquisas da Plataforma do Facetubes singra os mares da Internet todas as manhã para descobrir textos interessantes para reprodução. Um deles, hoje, vem assinado pelo imortal APB, Rogério Rocha, cujo título é curiosíssimo: "E se o Nordeste fosse retirado da geografia do Brasil?"

Um tema muito interessante, que, aliás, ressalta de forma excitante a importância insubstituível do Nordeste na formação da identidade brasileira, com produções sine qua non de ​​intelectuais, artistas, cientistas, músicos, poetas, cordelistas, repentistas que foram (e são) fundamentais para o desenvolvimento cultural, artístico e gastronômico do país. Isso porque, segundo o autor, filósofo e poeta Rogério Rocha, a ausência do Nordeste significaria a subtração de um conjunto simbólico e representativo que moldou a "brasilidade" ao longo dos séculos. "Sem o Nordeste o Brasil não seria apenas mais pobre; seria um país irreconhecível", afirma Rocha.
Por essa razão - e com base nas históricas e ricas análises do intelectual brasileiro Gilberto Freyre, que também refletiu sobre a relevância cultural e social da região - fica claro a impossibilidade do Brasil sobreviver sem as dinâmicas sociais, raciais e culturais do Nordeste, formadoras da sociedade brasileira. [Fundação Gilberto Freyre: https://www.fgf.org.br]. sem mais delongas, vale ler Rogério Rocha e seu primoroso texto. 


(Nascido em São Luís/MA, Rogerio Rocha é professor, poeta e produtor cultural, pós-graduado em Direito Constitucional (Universidade Anhanguera-Uniderp), pós-graduado em Ética pelo IESMA, Graduado em Filosofia (UFMA), Bacharel em Direito (UFMA) e mestre em Criminologia pela Universidade Fernando Pessoa (Porto/Portugal). É membro da Academia Poética Brasileira, da Academia de Letras, Artes e Ciências do GOB-MA e da Academia Maçônica de Letras do Maranhão. Exerceu a advocacia, foi assessor jurídico e é servidor público do Poder Judiciário do Estado do Maranhão. É membro-fundador e coordenador dos projetos INICIATIVA EIDOS e DUO LITERA, que trabalham com eventos nas áreas de filosofia e literatura. Foi segundo colocado no Concurso Gonçalves Dias, na categoria poesia, no ano de 2019 e selecionado para a categoria crônica, na mesma premiação, em sua edição de 2020. É autor do livro de poemas “Pedra dos Olhos” [2020] e “A linguagem da ausência” [2024]. Produz vídeos para o canal Hipertexto, no YouTube, onde divulga e apresenta conteúdos sobre cultura em geral.)

 

 "E se o Nordeste fosse retirado da geografia do Brasil?"

por Rogério Rocha

 
Imaginar o Brasil sem o Nordeste é um exercício complexo se levarmos em conta a grandeza da contribuição da região para a identidade nacional. 
 
Ao longo dos séculos, a área geográfica tem sido um centro vibrante de produção cultural, intelectual e política em nosso país, moldando de forma significativa os contornos do que chamamos de "brasilidade". 
 
Se, num experimento hipotético, excluíssemos o território nordestino e seu patrimônio cultural da história brasileira, o país não só perderia figuras emblemáticas, mas também uma parcela decisiva de sua essência. 
 
Senão, vejamos!
 
Nas letras, a região ocupa um lugar de destaque, com autores que imortalizaram, em obras fundamentais, suas paisagens, dilemas e personagens. Seríamos privados da leitura de romances que traduzem a luta contra as adversidades e do rico imaginário simbólico.  
 
Se eliminássemos o Nordeste do nosso mapa e da nossa história, a literatura brasileira ficaria sem Rachel de Queiroz, Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Josué Montello, Jorge Amado, Antônio Torres, Francisco J. C. Dantas e Ronaldo Costa Fernandes, apenas para citar alguns. 
 
A produção poética também seria irremediavelmente empobrecida sem os versos de Castro Alves, Gonçalves Dias, Raimundo Correia, Sousândrade, Augusto dos Anjos, Nauro Machado, Salgado Maranhão, João Cabral de Melo Neto, Lêdo Ivo, Ferreira Gullar, Luís Augusto Cassas, Raimundo Fontenele e Viriato Gaspar, por exemplo.
 
No campo científico, a ausência das mentes nordestinas deixaria lacunas significativas. 
 
Nina Rodrigues, psiquiatra, médico legista e antropólogo maranhense, foi responsável pela introdução dos estudos da criminologia em nosso país. A baiana Ana Nery, que foi uma figura de destaque na história da enfermagem brasileira, contribuiu significativamente para o desenvolvimento da profissão. 
 
Na medicina, Nise da Silveira, alagoana de Maceió, revolucionou os tratamentos psiquiátricos com sua abordagem humanizada. No direito, Rui Barbosa, o notável baiano, foi influente como jurista e pensador político. Pelo brilho da inteligência e pela postura intelectual, ficou conhecido como o "Águia de Haia".
 
A história política do Brasil também ficaria desfigurada sem nomes como Joaquim Nabuco, um dos principais articuladores da abolição da escravatura, Barbosa Lima Sobrinho, Miguel Arraes, Eduardo Campos, Antônio Carlos Magalhães e Luiz Inácio Lula da Silva, pernambucano que alcançou a presidência pela terceira vez na história recente do país. 
 
Outros nomes como Deodoro da Fonseca, Floriano Peixoto, Epitácio Pessoa, Fernando Collor de Mello e José Sarney, também compõem uma lista de nordestinos famosos que chegaram à presidência da República.
 
A perda seria avassaladora também na música. Imaginem o cenário sem Luiz Gonzaga, o "Rei do Baião". Sem ele não teríamos gêneros brasileiríssimos como o forró e o xaxado, e a sanfona não teria se tornado um ícone nacional. 
 
Sem Dorival Caymmi, a música brasileira perderia canções que evocavam a magia das cidades à beira-mar. A bossa nova não teria o gênio de João Gilberto e a MPB empobreceria sem Belchior, Amelinha, Fagner, Maria Bethânia, Gilberto Gil e Caetano Veloso. 
 
Elba Ramalho, Alcione, Alceu Valença, Geraldo Azevedo, Xangai, Elomar, Chico Science, Zeca Baleiro e Chico César, expoentes da música brasileira, também desapareceriam do contexto. No rock, perderíamos Raul Seixas e Marcelo Nova, herdeiro do legado do Maluco Beleza.
 
No campo das artes visuais, sem Carybé, as telas que traduzem as belezas naturais e arquitetônicas da cultura baiana não existiriam. No cinema, a contribuição de Glauber Rocha e o movimento do Cinema Novo deixariam de influenciar gerações. A comédia não teria visto o gênio de mil faces chamado Chico Anysio. O teatro e a dramaturgia também estariam desfalcados sem as colaborações de artistas como Dias Gomes e Ariano Suassuna ou as atuações de José Wilker, Wagner Moura e Lázaro Ramos.
 
O futebol pentacampeão mundial perderia de vista craques da magnitude de Bebeto, Zagallo, Daniel Alves, Dida, Juninho Pernambucano, Edilson Capetinha, Rivaldo, Bobô, Hernanes, Givanildo, Jardel, Charles, Zé Maria, Júnior Capacete, Hulk, Canhoteiro, Jackson e França.
 
A culinária deixaria de experimentar o sabor de alimentos como o arroz de cuxá, o acarajé, a buchada de bode, o vatapá, a tapioca ou beiju, a carne de sol e o cuscuz, o baião de dois e o sarapatel, o bolo de rolo, a paçoca, a moqueca e o caruru. Não beberíamos a cajuína, a garapa, o maltado e o guaraná Jesus. Também ficaria de fora do deguste geral nosso maior símbolo etílico: a cachaça. 
 
Retirar o Nordeste da história do Brasil significaria, portanto, subtrair boa parte da identidade nacional. 
 
A região não apenas fornece rica matéria-prima para a nossa cultura, mas inspira uma perspectiva singular em torno das condições humanas que definem um pouco do que somos. 
 
Sem o Nordeste o Brasil não seria apenas mais pobre; seria um país irreconhecível.

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VÍDEO-BÔNUS

Abaixo, a participação na edição 84 do programa "Dialogando com a Biblioteca", do canal LibRaS em Prática, do filósofo Rogério Rocha. Em tempo: sigam o canal do projeto do professor Reginaldo, do Instituto Federal do Sul de Minas. A LIVE foi transmitida ao vivo em 30 de março de 2024. 

 

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JaimeHá 3 semanas BSB/DFSeja bem-vindo, que dessa verve, brote magníficos escritos, como esse acima.
RochinhaHá 1 mês São Luisque novidade boa.
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