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O Natal de Socorro Guterres

Convidada do Facetubes (www.facetubes.com.br)

Mhario Lincoln
Por: Mhario Lincoln Fonte: Socorro Guterres
23/12/2024 às 10h33
O Natal de Socorro Guterres
Original do mtexto: Socorro Guterres

Sinos do Natal 

Socorro Guterres    

Pessoas passavam apressadas nas ruas atulhadas de ambulantes que por vezes tomavam os espaços em frente às lojas. A véspera de Natal era o motivo de tanta agitação.  Os supermercados promoviam ofertas aparentemente atraentes aos consumidores que enchiam os carrinhos de compras na ânsia da ceia farta. Um pequeno grupo familiar rumara da periferia para o centro econômico em busca da generosidade que sobrasse das sacolas cheias dos transeuntes e observava acanhado o trânsito intenso.

 

O pai, a mãe e um menino  traziam pequenas trouxas com seus parcos pertences. O menino olhava admirado a velocidade dos carros, pois era sua primeira vez no fluxo da cidade grande, cuja estrutura diferia muito do lugar em que viviam no casebre pobre, onde restos de lona e papelão lhes serviam de abrigo. Caminharam muito para chegar ao destino em que o Natal se apresentava em cores, luzes e prédios ricamente ornamentados. A mãe já deixava à mostra as pernas magras e a barriga avolumada a denunciar a  gravidez que encurtava  o vestido surrado. O pai procurava guiar o menino no caos de suas vidas: era o que podia proporcionar. No cair da noite recostaram-se na parede de uma iluminada confeitaria de amplas  janelas de vidro que exibiam prateleiras de bolos e tortas artisticamente trabalhados. Do lado de dentro crianças bem vestidas escolhiam à vontade a variedade de doces  para o jantar festivo.  

 

O menino, que muito andara, exibia a poeira da estrada nos pés quase descalços,  expostos em sandálias gastas, e nas mãozinhas sujas que avidamente tocaram a divisória transparente que separava os dois mundos. Ele sempre tão calado em  sua resignação que nem a fome incomodava, chorou ao ver que não podia ultrapassar a barreira cristalina. Debateu-se no pulso forte do pai que procurava se desculpar frente ao gerente do estabelecimento  pela presença importunadora da família, cuja mão infantil maculara a límpida vitrine. Desse modo, seguiram adiante, numa dignidade santa, pelas ruas vazias de compaixão.  Um Papai Noel com falsas barbas e saco de presentes fictícios passou, em seu trabalho natalino, badalando um sino estridente que abafou os soluços do menino. Afinal, era noite de Natal.

 

"Pequeno Cisne", de Socorro Guterres.

 

POEMINHA

Pequeno Cisne

(Socorro Guterres)

O palco tão grande
E a bailarina pequenina.
O collant apertadinho
E o tutu engomadinho.

A sapatilha prendia
A meia-calça que subia.
E a menininha atrevida
Mantinha a postura devida.

Elevava o olhar
E na  pontinha do pé
Iniciava o bailar
Em sauté e plié.

E os bracinhos  ondulavam
Nas águas musicais.
E de repente senti 
Que meus sonhos são reais.

Pois o pequeno cisne
Que no palco brilhava
Era um sonho de criança 
Que meu peito acalentava.


E toda a platéia viu
Quando a bailarina sorriu 
Para a vovó que a  admirava.

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JOAO J F MULLERHá 4 semanas João PessoaEm Sinos do Natal a Dra Socorro expôe a realidade triste de inúmeras famílias e crianças.Parabens pelo oportuno relato que deverá ser mais um grito de socorro, visando minimizar tal situação.
SuzanaHá 4 semanas Rio de Janeiro - RJQue poema lindo! Consegui ver Rebeca. Gostei muito do conto de Natal. Realista e nos faz refletir. Parabéns, Socorro!
Claudiana Meneses Há 4 semanas Rio Grande do Norte Parabéns, Socorro! Belos textos. Em Sinos do Natal,uma descrição belíssima de uma realidade que infelizmente vem perdurando em nossos natais e que você o faz de forma que ameniza a tristeza da desigualdade social existente entre nós. O Pequeno Cisne,apresenta na sutileza das palavras o encanto da pequena bailarina. Parabéns!!!
Ana Clara GuterresHá 4 semanas Natal/RNTexto de grande sensibilidade e o poema traz a delicadeza da pequena bailarina!
MARIA do Carmo Há 4 semanas RNBailarina linda, orgulho da vovó poetiza. Parabéns para essa princesa linda!
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