"Não consigo comparar Mhario Lincoln nesta obra com nenhum outro escritor que conheço, ele trouxe para nós sua própria essência misturada com a competência de anos de estudos e pesquisas. Com certeza este é um nome que o Maranhão deve guardar como grande representante de nossa literatura".
Joizacawpy Costa
O que dizer de Ina a Violação do Sagrado, de Mhario Lincoln? Difícil será explicitar a magnitude dessa obra, um trabalho de pesquisa e investigação minuciosa para captar todos os detalhes ocorrido no naufrágio do navio coreano ‘Hyundai New World’, em mares maranhenses.
A narrativa traz em seu bojo todo o acontecimento daquele fatídico naufrágio, sem deixar de lado, nem com menos valor, o Sagrado, que nesse contexto, se propaga na religiosidade ligada às figuras de cunho religioso. Vale ressaltar que esse detalhe vem de crença de matriz africana, porém para alguns apenas lenda, mas o fato é que muitas coisas aconteceram na tentativa de resgate do HNW e muitas delas a ciência, a engenharia e a técnica não conseguiram explicações.
O livro traz um pouco da história de São Luís e seus aspectos sociais, como por exemplo, a visão de empresários e ativistas ambientais em favor da natureza, destaque para Nascimento Morais Filho, um incessante nome em favor da natureza e sua preservação. Traz ainda aspectos da política econômica e a importância de nossa localização para a importação e exportação de produtos que atingiriam diretamente o setor econômico trazendo perspectiva de progresso econômico e social.
Mhario narra os fatos não só com clareza, mas também nos envolve no ar mágico das crenças pois o navio havia afundado segundo histórias, bem em cima do castelo de Ina, princesa das águas filha de Dom Sebastião. E, segundo relatos históricos, uma festa deveria ser feita para homenagear a princesa das águas de nove em nove anos, esse prazo havia esgotado.
É nesse entrelaçar de fatos concretos, estudos técnicos e o desconhecido Sagrado que se dá o diferencial desta obra, tornando a leitura prazerosa mesmo diante de um fato que envolve muitas questões técnicas, políticas e sociais, é como se o autor extraísse do cerne de um assunto tão sério a magia que envolve a boa escrita.
Apesar de encontramos ao longo dessa narrativa termos técnicos, entrevistas objetivas e todo o aparato que exige uma missão de resgate de um navio desse porte, principalmente considerando as condições adversas da natureza, o autor nos prende a leitura de um jeito sutil típico do seu Modo de escrever. Mhario Lincoln garimpa ideias que vão mexer com o leitor, principalmente com a curiosidade.
Nas considerações finais Mhario traz de forma surpreendente, mais uma pincelada de sua magnífica pena, a literatura maranhense ao citar um trecho de Cais da Sagração de Josué Montello.
"... Mesmo agora, ainda arquejante da crise que se desfaz, mestre Severino não pode sofrer dentro de si, vendo o barco avançar como um cavalo na campina livre, a vaga nostalgia de seus combates no mar/-Bons tempos – reconhece o velho./ e ei-lo que começa a ver a sua direita o navio encantado de D. Sebastião com sua inconfundível luz e muitas cores. Por trás do navio a praia se espreguiça toda branca de luar – a faixa de areia rente às águas, a rocha escarpada que as vagas vagam com seu banho de espuma, as dunas alcantiladas fechando o horizonte(...) Ele ver realmente D. Sebastião no seu cavalo branco. Antes que o espanto do velho se atenue o ginete salta do convés para a praia num único impulso, e agora lá vai , lept, lept, no mesmo galope garboso , pela faixa de areia limpa que parece não ter fim...
Então o que há de incomum em Cais da Sagração e Ina a Violação do Sagrado? “ficção” X “realidade”? O mesmo mar? A mesma lenda?
Não consigo comparar Mhario Lincoln nesta obra com nenhum outro escritor que conheço, ele trouxe para nós sua própria essência misturada com a competência de anos de estudos e pesquisas. Com certeza este é um nome que o Maranhão deve guardar como grande representante de nossa literatura.
Eu diria que esse é um livro que vale a pena ser lido e relido para o engrandecimento de nossos conhecimentos e fortalecimento de nossa identidade e lugar de pertencimento.
Joizacawpy