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“Eu odiava a 'Divina Comédia', de Dante Alighieri”, disse Olinto Simões, pensador do século XX

É muito interessante voltar a discutir sobre as engrenagens que levaram à criação dessa obra milenear, ainda um clássico da Literatura Universal.

Mhario Lincoln
Por: Mhario Lincoln Fonte: Redação do Facetubes
07/01/2025 às 18h07 Atualizada em 07/01/2025 às 18h24
“Eu odiava a 'Divina Comédia', de Dante Alighieri”, disse Olinto Simões, pensador do século XX
Ilustração: MHL/GINAI

 

"A Divina Comédia” é um diálogo entre teologia e poesia?

Redação do Facetubes


Raras são as pessoas intelectualizadas que têm "saco" para ler A Divina Comédia. Outros, compram o livro e colocam na parte visível da prateleira da sala. Mas nunca abriram. Ainda tem aqueles que lêm as orelhas e, imediatamente se tormam expert's em Dante Alighieri. Mas, que dá medo enfrentar aquele turbilhão de letras e versos, temas e ideologias, conceitos e um turbilhão de enfrentamentos racionais, isso dá. E sabe por que?


Porque já vem sendo discutida há anos, a 'base criativa' da A Divina Comédia. Alguns desses estudiosos chegam a afirmar que o texto envolve, em linguagem poética, uma espécie de “Suma Teológica”, de Santo Tomás de Aquino. A influência do pensamento tomista faz notar na estruturação de conceitos sobre pecado, virtude e salvação, além de apontar os limites da razão natural quando confrontada com os mistérios divinos.


Mutatis Mutandi, a verdade é que a obra é considerada fundadora da literatura ocidental e permanece como um texto de estudo essencial para entendermos a intersecção entre fé, filosofia e a própria condição humana. Escrito entre 1308 e 1321, o poema épico – dividido em “Inferno”, “Purgatório” e “Paraíso” – não apenas mapeia a trajetória espiritual de Dante, mas é também um testemunho vibrante das ideias teológicas e políticas de seu tempo.


Leia: “O poema de Dante é, essencialmente, um curso intensivo de filosofia cristã, embebido na lírica da melhor poesia medieval”, afirma Teodolinda Barolini, professora de Estudos Italianos e especialista em Dante na Universidade Columbia. Ela sublinha que as referências à tradição escolástica não ofuscam o poder imaginativo do autor, mas, ao contrário, reforçam a profundidade de seu universo literário.


Embora a densidade filosófica seja inegável, os críticos concordam pelo menos com uma coisa: que a força da “Comédia” também reside no lirismo que atravessa suas páginas. “Dante empregou a razão como ponto de partida para o conhecimento do divino, mas regularmente que o homem, sozinho, não consegue abarcar o mistério sagrado. A poesia, então, funciona como um instrumento transcendental”, observa Giuseppe Mazzotta, professor de Literatura Italiana na Universidade Yale e autor de estudos consagrados sobre o poeta florentino. Mazzotta destaca ainda a habilidade de Dante em unir a reflexão teológica às paixões e dilemas humanos, oferecendo ao leitor uma experiência multifacetada: filosófica, espiritual e profundamente emocional.


O problema não é para estudiosos danteanos. Mas para o leitor comum. O leitor de hoje. Como o leitor hodierno enfrenta difíceis reflexões filosóficas e espirituais. O que dizer da noção de que a razão natural não alcança as realidades mais altas, fato explícito na épica jornada de Dante? Por isso que "A Comédia" permanece como alerta de humildade e chama para a contemplação. E é esse ponto que confere a obra, ares de clássico inquestionável: "sua capacidade de renovar inquietações e sugerir possibilidades de entendimento que, mais de sete séculos após seu surgimento, ainda nos escapam", escreveu certa vez ao Facetubes, o pensador, patrono da Cadeira 56, da Academia Poética Brasileira, Olinto Simões.


Enfim, com a devoção à veneração nos círculos acadêmicos e nas prateleiras de livrarias ao redor do mundo, “A Divina Comédia” de qualquer forma, conserva a atualidade que só as obras imortais da literatura atingem. E, como tão bem apontam os principais especialistas, a força literária de Dante está em conduzir o leitor por uma viagem intelectual, moral e poética cujos ecos continuam a reverberar na cultura ocidental.


O próprio Simões, acima citado, foi claro ao dizer que odiava "A Divina Comédia". Os entrevistadores quiseram saber a razão disso e ele assim respondeu: "odiava até o momento que decidi ler a obra, não mais buscar informações na internet, nem ler as orelhas resumidas. Hoje consigo enxergar a grandiosidade de Dante e o porque que ainda, em pleno seculo XXI, se fala em A Divina Comédia (...). Então, caros, se você não leu, recolha-se ao seu canto", completou Simões, ratificando o seu jeito de ser.

 

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Léo Pajeú Há 2 semanas Brazlândia DF Li uma vez, escrevi um livro de poesias "DOIS LADOS" - A Luz e a Escuridão. Espero ainda poder ler umas duas vezes mais. Interessante...
Cinthia CenciHá 2 semanas RSImpossível não amar a Divina Comédia. Ela fica impregnada, ésimplesmente, grandiosa.
Lima filhoHá 2 semanas Brasilia DFPeguei um susto....
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