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De Raimundo Fontenele, “MEMÓRIAS DOS MARES DO SUL” 

“No oco do mundo” (Continuação do Capítulo I - No oco do mundo).

Mhario Lincoln
Por: Mhario Lincoln Fonte: Raimundo Fontenele
09/01/2025 às 21h15
De Raimundo Fontenele, “MEMÓRIAS DOS MARES DO SUL” 
Raimundo Fontenele.

Raimundo Fontenele.

 

Finalmente chegou novembro e as coisas começaram a mudar vertiginosamente. A gravidez da mulher com quem vivia, e que tinha ido pra Curitiba me pegou de surpresa. Eu ia ter que abandonar Brasília e seguir para o Paraná.
Então resolvi pedir demissão à UnB e antes de mudar para Curitiba procurei o Dr. Adirson Vasconcelos, meu amigo do Correio Braziliense, e lhe falei da minha decisão.
Ele disse:
­— Ótimo, agora acho que podes, antes da viagem, realizar pra mim um trabalho de muita importância.
Perguntei do que se tratava e ele discorreu sobre o assunto:
­— O projeto é que o Correio Braziliense, em parceria com outras entidades, vai lançar um livro sobre Brasília, em comemoração aos seus quinze anos de existência.
Ficou acertado que eu receberia por mês o mesmo valor salarial que me pagava a UnB e mais uma gratificação extra ao término do trabalho.
Como Supervisor Regional dos Diários Associados, o Dr. Adirson me disse que estava constantemente viajando, e como minha permanência no emprego era provisória, eu podia ocupar a sua sala. Assim, de uma hora pra outra, eis-me instalado no gabinete do Supervisor Regional do Correio Braziliense, com toda mordomia possível.
Mas tinha  um outro porém: a sala estava literalmente cheia de maços e mais maços dos principais jornais do país, alguns ainda do século XIX. Vamos a alguns, pois nem todos consegui registrar na memória: O Correio da Manhã, A Noite, Jornal do Commercio, O Globo e Jornal do Brasil, entre outros, do Rio de Janeiro; Jornal paulista diário e matutino fundado em 4 de janeiro de 1875 com o nome de A Província de São Paulo,  que depois virou o Estadão, Folha de S. Paulo, fundado em 19 de fevereiro de 1921, por um grupo de jornalistas liderado por Olival Costa e Pedro Cunha. A criação do jornal foi uma oposição ao principal jornal da cidade, O Estado de S. Paulo, que era mais conservador e tradicional. Da Bahia: Diário da Bahia, Diário de Noticias, Gazeta da Bahia e A Bahia. Alguns jornais de Pernambuco do século XX foram: Diário da Manhã, Jornal Pequeno, o Diário de Pernambuco, jornal mais antigo em circulação na América Latina, tendo sido fundado em 1825 por Antonino José de Miranda Falcão e ainda o Jornal do Comércio. E como disse, muitos outros cujo nome e procedência não lembro mais.
Meu trabalho era pesquisar, naquela verdadeira montanha de jornais,  qualquer notícia que se referisse à mudança da capital federal do Rio de Janeiro para o interior do Brasil.
Fiquei sabendo, então, que a primeira referência de que se tem notícia desta mudança data ainda de meados do século dezoito, idéia do Marques do Pombal ou do cartógrafo italiano a seu serviço de nome Francesco Tosi Colombina. A coisa ficou parada sem se falar mais nisso. Somente os Inconfidentes voltaram a tocar no assunto, e depois deles a ideia ganhou força com a chegada da corte portuguesa ao Rio de Janeiro. Isso em 1808 quando esta cidade era a capital do Brasil.
A tese da mudança baseava-se no fato de que a cidade do Rio de Janeiro não oferecia segurança máxima, caso alguma potência estrangeira resolvesse invadir o Brasil, pois o Rio poderia ser atacado por terra, mar e ar, ao passo que uma capital no interior do país não oferecia a possibilidade de ser atacada por via marítima.
Assim, num folheto anônimo de 1822 apareceu pela primeira vez o nome de Brasília como a cidade que deveria ser a nova capital da nossa República, e a partir daí muitos foram os projetos surgidos propondo a interiorização da capital brasileira.
Na primeira Constituição da República, datada de 1891, estava fixada legalmente a região onde deveria ser instalada a futura capital da República Brasileira. Entretanto, somente mais de meio século depois, e de infindáveis discussões dos pró e dos contra o projeto, o sonho começou a se tornar realidade, com a eleição de Juscelino Kubitschek de Oliveira à Presidência da República, em 1956.
No começo o trabalho era entusiasmante, e uma vez que uma das características dos artistas é a curiosidade, e eu me sentia um pouco artista, publicara dois livros de poesia e participara também de duas antologias poéticas no Maranhão, então ficar fuçando aqueles jornais de séculos passados, conhecer mais um pouco da nossa história através de notícias e de fatos reais, embalava meu espírito e aguçava meu desejo de saber e conhecer tudo que se relacionava a Brasília.


(CONTINUA NA PRÓXIMA QUINTA)

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