Raimundo Fontenele.
A construção de Brasília, como tudo que é do serviço público no Brasil, foi um episódio cheio de controvérsias, politicalha, disse-me-disse…
Verdades e mentiras sentavam na mesma mesa dos conchavos e negociatas, assim como também estavam presentes nas chamadas e notícias dos jornais.
Nas minhas pesquisas nos jornais da época havia de tudo. Exaltação desmedida ao presidente JK por estar realizando um projeto e um sonho acalentados por mais de cento e cinquenta anos, mas também críticas ferrenhas dos opositores, de que Juscelino estava endividando o Brasil tomando empréstimos no exterior. Estava contraindo uma dívida impagável e, o que era pior, segundo a oposição, alimentando a corrupção de amigos e empresários inescrupulosos.
A verdade, porém, é que o presidente Juscelino estava preocupado com o desenvolvimento do país. Seu Plano de Metas, ousado e ambicioso, estava sendo executado com toda a velocidade que o tempo e as tecnologias de então permitiam. “50 anos em 5” era um dos seus lemas favoritos. E quando as máquinas adentraram nas matas paraenses na construção da Rodovia Belém-Brasília, os jornais estamparam em letras garrafais a famosa frase do presidente JK: “Sacudi o Brasil de norte a sul, acordei o gigante”.
Juscelino Kubitschek criou a estatal NOVACAP, empresa encarregada encarregada da construção de Brasília, que foi entregue ao Israel Pinheiro, político de destaque das Minas Gerais, que foi o primeiro prefeito de Brasília e também esteve à frente, em outro momento, da Companhia Vale do Rio Doce.
E os outros três importantes executores da construção da nova capital, todos sabemos, foram Lúcio Costa, Oscar Niemayer e Joaquim Cardoso, este um poeta e engenheiro perito em cálculos e matemática.
Juscelino era um homem simples, humilde, sem nenhuma arrogância, não cultivou o ódio nem a vingança e a prova está no modo com tratou os revoltosos que, por duas vezes, intentaram contra o seu governo. Nas revoltas de Jacareacanga e de Aragarças, quando um grupo de gatos pingados, 15 militares da Aeronáutica e do Exército e mais 3 civis pretenderam dar um golpe e derrubarem Juscelino da presidência.
Aproveito para lembrar que o Capitão Lamarca desertou do Exército levando armas e homens para, juntando-se a esquerdistas e comunistas, também tentarem derrubar o governo militar implantado em 1964. Luís Carlos Prestes e Getúlio Vargas, ambos vieram dos quartéis e participaram de movimentos de revolta e tomadas do poder. O Getúlio se deu bem e chegou lá, o Carlos Prestes não.
Qualquer semelhança com essa história de golpe de 8 de Janeiro não é mera coincidência. Vem mostrar que os Militares, as nossas Forças Armadas, não se constituem deusas vestais, nem são todos cidadãos íntegros sem nenhuma mancha ou culpa. São iguais aos civis, mergulhados também na política e na politicalha, conspirando e traindo os ideais pátrios, integralistas e entreguistas, enfim.
Vamos voltar ao Juscelino Kubitschek, seu Plano de Metas, e da sua envergadura moral que em nada se assemelha ao caráter dos macunaímas que hoje infestam os três poderes da República.
Outro nome a ser lembrado é de um homem que ganhou status de herói, e foi o grande responsável pela construção da rodovia que oficialmente leva seu nome Rodovia Bernardo Sayão, popularmente conhecida como Belém-Brasília. O engenheiro Bernardo Sayão teve uma morte trágica, pois trabalhadores derrubaram uma árvore de forma errada e esta veio a abater-se justamente sobre a cabana em que estava a instalado o Engenheiro Bernardo que faleceu, isso em janeiro de 1959.
Quando falei sobre a estatura moral do presidente JK estava lembrando que em ambas as revoltas, a de Jacareacanga e Aragarças, o gesto magnânimo e superior de Juscelino foi o de anistiar a todos os envolvidos. Cada um que julgue segundo sua consciência.
Então Juscelino, Israel Pinheiro, Lúcio Costa, Oscar Niemayer, Bernardo Sayão… e todos os anônimos candangos são os heróis construtores de Brasília, uma cidade única, estruturada diferentemente de todas as outras cidades brasileiras. Mas, como tudo no Brasil, graças aos nossos maus políticos que infelizmente são maioria, perdeu seu rumo e seu ideal sonhado por pouquíssimos homens sérios e honestos.
E por falar em corrupção, encontrei num dos jornais pesquisados uns versos em formato de literatura de cordel que falavam sobre roubalheira na Companhia Vale do Rio Doce. É uma pena eu não haver gravado na memória aqueles versos, serviriam para ilustrar e fechar, com chave de ouro, este primeiro capítulo deste meu livro.
Perguntado sobre a Companhia um candango respondeu: o Vale eles gastaram todo, comeram todo k doce e beberam toda a água.
(Continua na próxima quinta feira)
Indo embora
Paranaê, Paranaê, Paraná…