Além de "Quixote", outras obras moldaram o universo de Cervantes, o pai do romance moderno.
Crédito: Editoria de Cultura do Facetubes (www.facetubes.com.br). Ilustração: GINAi.
Miguel de Cervantes Saavedra é universalmente conhecido pelo monumental “Dom Quixote de la Mancha”, obra que revolucionou a literatura e marcou a transição entre o modelo de romance de cavalaria e o romance moderno. No entanto, além desse clássico, Cervantes deixou um legado amplo e diverso que merece destaque. A seguir, algumas das obras mais relevantes desse gênio literário, com curiosidades que ajudam a entender a importância de cada uma.
1. “La Galatea” (1585)
Gênero e contexto: Trata-se de um romance pastoral, o primeiro publicado por Cervantes. A história gira em torno de amores não correspondidos e reflexões bucólicas típicas do Renascimento.
Curiosidade: Embora seja intitulado “Primeira Parte de La Galatea”, Cervantes jamais publicou uma continuação — o que intrigou muitos estudiosos sobre como a história se desenvolveria.
Por que é relevante? Porque marca a estreia literária de Cervantes. Nessa obra, já é possível notar sua habilidade para combinar reflexão filosófica, cenários idealizados e diálogos envolventes.
Fontes: Instituto Cervantes, “Miguel de Cervantes: Vida y Obra”. (cervantes.es)
Enciclopédia Britânica, verbete “Cervantes, Miguel de”.
2. “Novelas Exemplares” (1613)
Gênero e contexto: Coletânea de doze novelas curtas, cada uma com temática e estilos diferentes. Cervantes chamou de “exemplares” por conter ensinamentos morais ou reflexões profundas.
Obras em destaque: “La Gitanilla”, “Rinconete y Cortadillo” e “El Licenciado Vidriera” são algumas das novelas mais celebradas.
Curiosidade: Em “Rinconete y Cortadillo”, Cervantes explora o submundo de Sevilha e mostra seu domínio do realismo literário, retratando personagens marginalizados com humanidade surpreendente.
Por que é relevante? Porque é considerada uma das primeiras coleções de curtas-metragens em espanhol que ajudam a consolidar o gênero da novela moderna — mais curta que o romance, porém mais elaborado que um conto tradicional.
Fontes: Real Academia Espanhola, “História da Literatura Espanhola” (rae.es)
Referência Oxford, “Novelas exemplares de Cervantes”
3. “El Viaje del Parnaso” (1614)
Gênero e contexto: Poema satírico, no qual Cervantes realiza uma espécie de viagem literária imaginária ao Monte Parnaso, local sagrado das musas na mitologia grega.
Curiosidade: Cervantes inclui reflexões pessoais sobre sua própria vida literária, criticando e louvando diversos poetas contemporâneos. O tom é frequentemente considerado humorístico e autocrítico.
Por que é relevante? Porque, embora menos conhecido pelo público geral, mostra outra faceta de Cervantes como poeta satírico e grande observador das disputas literárias de seu tempo.
Fontes : Biblioteca Nacional de Espanha, “El Viaje del Parnaso: Análise e Contexto”
O companheiro de Cambridge para Cervantes.
4. “Ocho comedias y ocho entremeses” (1615)
Gênero e contexto: Conjunto de peças de teatro, incluindo comédias (peças mais longas e complexas) e entremeses (peças curtas econômicas, muitas vezes apresentações nos intervalos das comédias).
Curiosidade: Cervantes tentou (sem grande sucesso comercial na época) se firmar como dramaturgo, competindo com grandes nomes como Lope de Vega. Alguns entremeses, no entanto, ganharam fama pela sua irreverência e humor popular.
Por que é relevante? Porque destaca detalhes do autor. O teatro, embora tenha sido um desafio financeiro para Cervantes, contribuiu para sua experiência em criar diálogos vivos e personagens marcantes — aspectos que melhoraram em sua prosa.
Fontes: “Cervantes dramaturgo” – Centro Virtual Cervantes
López Morales, Humberto (ed.): “El teatro na época do Siglo de Oro”
5. “Los trabajos de Persiles y Sigismunda” (1617, póstumo)
Gênero e contexto: Romance de aventuras e viagens em estilo bizantino, publicado postumamente. Nele, dois amantes — Persiles e Sigismunda — percorrem diversas regiões, enfrentando perigos e provas até chegarem a Roma.
Curiosidade: Cervantes considerava essa obra sua “melhor e a mais pensada”, acreditando que ela superaria “Dom Quixote” em qualidade literária.
Por que é relevante? Porque mostra a evolução de Cervantes na criação de intrigas complexas e personagens arrojados. A combinação de romance de aventura com elementos alegóricos reforça seu talento para reinventar gêneros.
Fontes: Cascardi, Anthony J.: “Os Limites da Ilusão: Um Estudo Crítico de Calderón” (citações sobre Cervantes)
Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes (cervantesvirtual.com).
-------------------------
Quem era Cervantes?
Nascido em Alcalá de Henares, Espanha, em 1547, Miguel de Cervantes Saavedra envolveu-se em múltiplas atividades ao longo da vida: foi soldado, cobrador de impostos e, acima de tudo, escritor. Participou da famosa Batalha de Lepanto (1571), na qual perdeu parcialmente o uso da mão esquerda, ganhando o apelido de “O Manco de Lepanto”. Apesar de “Dom Quixote” ter sido um sucesso notável, Cervantes sofreu constantes dificuldades financeiras e só obteve reconhecimento literário pleno depois de sua morte, em 1616 — no mesmo ano em que faleceu William Shakespeare. Cervantes é considerado o “Pai do Romance Moderno” e sua obra influenciou escritores de todas as nacionalidades nas gerações subsequentes. Suas experimentações com a narrativa, os estilos e a sátira social abriram caminho para inúmeras inovações literárias, tornando-o uma das figuras mais reverenciadas do cânone ocidental.
*******
FRASE COMPARATIVA/1600-2024:
"Por que alguns falam tanto contra a Inteligência Artificial se desde os tempos de Moinho de Vento (lembra imediatamente de Cervantes), que é o vento que empurra a roda, o que livrou, de forma social e humana, escravos de ficarem empurrando a roda do moinho e se autodestruindo pela desumanidade da época. Então, alguém achou a solução - contra tudo e contra todos - e pôs o vento a trabalhar contra a carnificina humana. Contudo, o Homem livre, ainda tinha que empunhavar os sacos de grãos para serem derramados e moídos pela máquina". Herbert Amadeu Fontenelle, especialista em "Cervantes". CEC/BA.
Vale como reflexão.