A Força do Cordel de Joana Bittencourt
O cordel A São Sebastião é uma bela composição que retrata, em versos típicos da literatura de cordel, a história do santo mártir Sebastião, exaltando sua devoção cristã e sua coragem ao enfrentar a perseguição durante o governo de Deocleciano. A narrativa percorre desde sua fé inabalável até os milagres associados a ele, como a proteção contra pragas e pestes. O texto destaca o martírio e os milagres atribuídos ao santo, além de sua popularidade em diferentes tempos e lugares. Escrito por Joana Bittencourt, o cordel combina arte literária com espiritualidade, preservando a tradição de narrar histórias de fé e devoção em linguagem acessível e poética.
O Cordel a São Sebastião integra o conto A Cordelista de São Sebastião, um dos cinco contos do livro Arte e Devoção, de Joana Bittencourt, publicado em 2015 pela Ética Editora, sob a coordenação do saudoso Adalberto Franklin. A obra conta com capa, ilustrações e xilogravuras assinadas por Ayrton Marinho.
O livro reúne cinco contos, cada um dedicado a um santo e à história de uma pessoa idosa que expressa sua devoção através da arte. Entre os temas apresentados, destacam-se:
1.Rosas de São Benedito,
2.Lírios de São José,
3.A Cordelista de São Sebastião,
4.A Quebradeira de Todos os Santos,
5.A Devota do Divino, celebrando o Divino Espírito Santo.
A coletânea combina fé, tradição e a riqueza das artes populares, oferecendo ao leitor uma experiência única de espiritualidade e cultura. (Esmeralda Costa).
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Em tempo:
Todos os contos, tiveram os episódios fartamente pesquisados. O livro ARTE E DEVOÇÃO, teve sua edição esgotada, com distribuição também às bibliotecas de escolas públicas e comunitárias e academias literárias. Pretende-se promover a segunda edição com outros livros da autora: Boizinho de Brinquedo (infantil); Itagiba (romance histórico); O Menino e o Passarinho (infantil/ambiental sobre a avifauna); Pentalogia Ambiental (peças teatrais); Meu Ancestral Tupinambá, Uma Etnia em extinção e outros artigos.
O Cordel faz parte do conto A Cordelista de São Sebastião, do livro Arte e Devoção.
Conto fictício inspirado nos contadores de história, tem como protagonista Xandoca, idosa da roça, analfabeta; aprende a ler e escrever através das cartilhas, cadernos e livros da filha. Conhece os cordéis nas feiras dos povoados onde comercializa seus produtos agrícolas; se encanta e começa a ter interesse pela literatura, escrevendo seus próprios cordéis. Finalmente Xandoca conhece a menina moça Tiana, também poetisa que a incentiva e promove a edição dos Cordéis de Xandoca com retumbante lançamento na cidade grande, ao som de violeiros e repentistas.
O contexto é para discorrer sobre a literatura de cordel, sua origem e importância como ARTE, desenvolvida por uma pessoa idosa, com profunda DEVOÇÃO por um Santo da Igreja católica. Em todos os contos do livro Arte e Devoção, escreve-se sobre uma Arte, história de um santo e o lugar onde vive o/a protagonista (artista), seu modo de vida, costumes e peculiaridades daquele lugar.
CORDEL A SÃO SEBASTIÃO
Joana Bittencourt
Sebastião foi soldado
da guarda do Imperator
que era um homem malvado,
não tinha fé nem pudor,
nem cria em Jesus Cristo,
como Deus Nosso Senhor.
Sebastião, no entanto,
era cristão afamado,
tratava os prisioneiros
com zelo e muito cuidado,
tinha fé e devoção,
e era muito educado.
Nesse tempo lá em Roma
mandava Deocleciano,
até mesmo Dom Clemente,
o Papa do Vaticano,
pelo Império foi expulso
por discordar do profano.
Quando o rei descobriu
a crença de Sebastião
num Deus que não era o seu,
mandou prender o cristão
e não achando outro motivo,
o acusou de traição.
E Sebastião foi preso
mais ainda torturado
para negar sua fé,
mas ele ficou calado,
nunca negou Jesus Cristo,
por isso foi maltratado.
Então, o rei ordenou:
"Matem o Sebastião!"
No meio de uma arena,
amarrado num mourão,
seria assim flechado
diante da multidão.
Eram mais de cem arqueiros
para flechar Sebastião,
todos que nele atiraram
caíram mortos no chão,
um fugiu apavorado
por ter perdido a razão.
Sebastião foi jogado
num rio que passa em Roma,
achado por Santa Irene,
quando ainda estava em coma,
foi pela Santa tratado,
em breve estava curado
e aumentou sua fama.
Mas se engana quem pensa
que Sebastião se escondeu;
logo que ficou curado
foi procurar pelo rei
para lhe dar conhecimento
que era um soldado de Deus.
O rei ficou assustado
E pensou: "É uma visão!"
Mandou deter o soldado
e o jogou numa prisão;
com uma lança trespassado,
morreu de fato o cristão.
Mandou jogar no esgoto
o corpo de Sebastião
para ninguém encontrar
e lhe dar enterro cristão
e para servir de exemplo
a quem ao rei dissesse não.
Novamente Sebastião,
protegido por Jesus,
veio aparecer em sonho,
à Santa Luciana Luz,
pedindo sepultamento,
ela vai e o conduz.
Passados trezentos anos,
a fé cristã restaurada,
mas na cidade de Roma
a peste estava instalada,
o povo morrendo à míngua,
ninguém podia fazer nada.
Mas por obra do destino,
o rei fez uma boa ação,
mandou construir uma igreja,
todinha pintada à mão,
em honra ao soldado mártir,
o Santo Sebastião.
No dia da transferência
dos restos mortais do Santo,
a peste desapareceu
como se fosse um encanto,
um milagre aconteceu,
muitos ficaram em prantos.
Assim também em Lisboa,
perto de mil e seiscentos,
o povo ficou doente
da praga, mal pestilento,
invocaram o Santo Guerreiro,
cessou logo o sofrimento.
Por esse tempo também,
na cidade de Milão,
ocorreu o mal da peste
e foi São Sebastião
que de novo socorreu,
salvando a população.
Com estes versinhos singelos
a nossa história se encerra,
fazendo uma louvação
ao maior Santo da Terra,
aquele que é padroeiro
contra a peste, a fome e a guerra.
(*) O Cordel à São Sebastião, compõe o conto "A Cordelista de São Sebastião", do livro Arte e Devoção, Ética Editora, Imperatriz-MA, 2015, autora Joana Bittencourt.