Renata Barcellos (BarcellArtes)
"A língua é uma das complexas características que nos tornam humanos" Robert Foley (antropólogo e professor de evolução humana na Universidade Cambridge). Esta matéria foi inspirada em duas publicadas anteriormente, a de Ancelmo Gois intitulada Palavras da moda que ninguém aguenta mais ouvir! com a participação de escritores e alguns deles membros da Academia Brasileira de Letras como Antonio Carlos Secchin e Antônio Torres. E a de Eduardo Afonso Por terra, mar e ar na qual reflete sobre a “palavra do ano”, segundo o dicionário Oxford: brain rot (deterioração intelectual). Ao ler esses textos, pensei em convidar alguns escritores para colaborar nesta reflexão: Em 2025, pretendo não mais ouvir...
Para iniciar, uma breve reflexão com um histórico do surgimento da Linguagem e da comunicação. Estas como ferramentas de troca de informações permitindo a transmissão de conhecimento, a expressão de identidades culturais e a construção de entendimento mútuo entre os seres humanos. Há 3.000 a.C os egípcios usavam gravuras e desenhos para representar sua cultura. Já, na Antiguidade, os sumérios foram os primeiros a usar a escrita nas cavernas, conhecida como sistema pictográfico. Isso data de 8.000 anos A.C, aproximadamente. Hoje, estima-se que haja mais de 6.500 idiomas no mundo. Quanto a mais antiga é o Sânscrito.
Vamos lembrar a tentativa de uma língua única: Esperanto. Eu mesma tive aulas desta língua. Para quem não a conhece. Trata-se de uma língua artificial criada no final da década de 1870 e início da década de 1880) por Ludwig Lazar Zamenhof (1859–1917), um oftalmologista e linguista polonês) cujo objetivo é de ser uma língua universal. O uso de uma língua única pela humanidade pudesse ser uma solução para as desarmonias entre as nações. É uma língua fonética, com uma gramática regular e 16 regras básicas. As palavras são escolhidas criteriosamente e cada letra tem apenas um som.
A partir disso, pensem que em cada língua há “palavras e expressões da moda”. É uma característica natural assim como as gírias e palavrões nas diversas línguas. Vejam abaixo o que nossos escritores afro-brasileiros sugeriram:
1- "Descer pra baixo" pois vejo muitos usarem esse pleonasmo como se fosse correto. Normalmente, não corrijo ninguém e tento compreender até quando erram na fonética escrita. Sou até a favor de escreverem o fonema só invés da grafia. Mas essa expressão muitos tem como correta. Apesar de usar muitas figuras de linguagem em meus versos. Prefiro usar a forma escrita o mais correta possível quando escrevo em prosa, tratos científicos etc (Adriano de Alvarenga Azevedo - escritor (poeta e romancista), músico e contador).
2-Resiliência. Passou a ser usada indiscriminadamente, como um requisito até para a obtenção de empregos (Cecy Barbosa Campos - professora/ escritora).
3- Essa expressão "o tempo passa rápido" é uma forma de justificar a nossa ansiedade em fazer tudo ao mesmo tempo. Consuelo Travassos Professora de Língua Portuguesa e Literatura.
4- Inveja expressa um sentimento negativo e que arrasta a pessoa que a tem em sua vida como a que é alvo dela, devemos combatê-la de qualquer forma. (Dinorá Couto Cançado - Ativista cultural).
5- Eu esqueci... Porque aqueles alunos sempre "esqueceram" de se inscrever em disciplinas dentro do prazo, sempre esquecem o prazo de antecedência para agendar a defesa, sempre esquecem que tinham de fazer isso e aquilo... (Fábio Bernardino Pinto, secretário acadêmico de pós-graduação).
6-Resiliente: eu não aguento mais ouvi-la. O que, afinal, quer se dizer com esta palavra? Por que não resistente? Resisto emocional e fisicamente (José Anchieta de Oliveira – aposentado).
7- Feminismo. A sociedade não compreende a luta feminina pela igualdade de direitos inclusive de viver (Lu Vieira- escritora).
8- Polarização e inclusão: infelizmente, no Brasil, nos últimos anos, a mídia incentivou o uso desta palavra, assim como os políticos. Brasil polarizado, dividido, segmentado. Inclusão também. Por que não se faz uma política de emprego, de criação de postos de trabalho? Se houvesse divisão da renda, trabalho para todos, não teríamos de falar tanto sobre inclusão. Inclusão de, daquilo... (Luiz Otávio Oliani – escritor e professor).
9- Não aguentou ouvir " você está gorda" ou "você está acima do peso". Ora, a pessoa que está um pouco ou muito acima do peso, ela sabe que está, sabe dos cuidados, dos riscos e não precisa o outro ou a outra lembrar. É gordofobia e é horrível (Marlene de Fáveri – historiadora e escritora).
10- Impossível. Devido à resistência à frustração e à impaciência, as pessoas não toleram a palavra (Nilza Freire - funcionária pública, tradutora e escritora).
11- Eu te avisei. Essa frase pode ser extremamente desgastante porque transmite um tom de superioridade e desprezo, sugerindo que a outra pessoa não só ignorou um conselho, mas também falhou em suas ações. Isso pode gerar um sentimento de culpa e frustração, especialmente quando a situação não saiu como esperado. Em vez de promover uma conversa construtiva, essa expressão tende a criar defensividade e tensão, dificultando a resolução de problemas e a comunicação aberta (Netetembha Kongo: Nsambu Vicente - historiador/professor).
12-Mente vazia, oficina do diabo – Quando uma pessoa não tem atividades, o tempo ocioso toma conta da sua mente, motivando a ter pensamentos negativos ou de má intenção (Roberto Ferrari - poeta e escritor).
13- Faz um ... Infelizmente há pessoas que não entendem sobre organização política e não conhecem a história, utilizando esta expressão de forma aleatória. (Márcia Ribeiro Joviano - Pedagoga, escritora e produtora cultural especialista em acessibilidade cultural) Para concluir, uma breve reflexão do linguista, semioticista, autor, professor Aldo Bizzocchi: “Estado democrático de Direito, devido processo legal, inclusão, diversidade, sororidade, empoderamento, negritude, racismo, antirracismo, capacitismo, etarismo, homofobia, transfobia, LGBTfobia, cotas raciais, lugar de fala, ações afirmativas, insegurança alimentar, pessoa em situação de rua, comunidade (isto é, favela), ideologia, fascismo, todes…
Todas essas palavras e expressões têm povoado os veículos de imprensa nos últimos anos ao ponto de saturar nossos ouvidos e nossa paciência. Foram em sua maioria criadas e são abundantemente utilizadas por movimentos identitários (taí mais uma palavrinha impertinente) e tinham em sua origem a boa intenção de unir a sociedade em torno de causas justas. Só que mais têm desunido do que agregado, criando uma polarização (olha mais uma aí!) entre 'nós' e 'eles' — sendo 'eles' qualquer um que pense diferente, não importa se com razão, não importa se escudado em fortíssimos argumentos e evidências concretas. Palavras e expressões usadas por pessoas ou grupos que se dizem democráticos, desde que sua opinião prevaleça. Que são contra a censura, a menos que ela recaia sobre a fala do oponente. Que só consideram discurso de ódio (opa, mais uma!) o que fazem contra eles, não o que eles fazem contra os outros. Enfim, termos que supostamente vieram para promover a justiça, mas que, na prática, representam apenas vingança”. E você, qual palavra e/ou expressão não aguenta mais? Escreva nos comentários!!! Que tenhamos um feliz 2025!