Henry Charles Bukowski, nascido em 1920 em Andernach, na Alemanha, mudou-se ainda criança para os Estados Unidos e se tornou um dos escritores mais influentes da contracultura do pós-guerra. Sua obra, marcada pelo que os críticos passaram a chamar de “realismo sujo”, chocou e conquistou gerações ao descrever sem rodeios o cotidiano de subempregos, relacionamentos fracassados, relacionamentos e solidão.
Poeta, contista e romancista, Bukowski colocou em cena personagens que habitam o submundo urbano, quase sempre sem oportunidades, mas dotados de uma humanidade que saltava das páginas.
Seu primeiro romance, “Cartas na Rua”, surgiu em 1971, inspirado no período em que trabalhou nos Correios. A partir daí surgiram “Factotum”, “Mulheres” e “Misto-Quente”, publicações que fortalecem seu estilo direto, repleto de uma sinceridade crua que desconcertava a crítica mais tradicional. Não por acaso, tornou-se símbolo de uma prosa e de uma poesia que abriu mão de sutilezas para atingir o leitor com as agruras da vida real.
O crítico e escritor francês Jean-François Duval, em seu livro “Buk et les Beats”, ressaltou que, ao relacionar-se com a geração Beat, Bukowski empurrou ainda mais o limite da estética literária ao transformar o banal e o grotesco em matéria-prima para textos confessionais. Já o poeta e ensaísta brasileiro Cláudio Willer afirmou, em entrevista à Folha de S.Paulo logo após a morte de Bukowski em 1994, que o autor dirigiu a poesia de uma confissão nua, sem proteção ou disfarce, trazendo à tona um tom maldito que remete aos grandes rebeldes europeus dos séculos anteriores.
Sua influência extrapolou fronteiras, conquistando leitores na Europa e na América Latina, principalmente no Brasil, onde a poética marginal dos anos 1970 encontrou em Bukowski um aliado espontâneo. Ele era lido como quem falava a mesma língua das ruas, descortinando o sonho americano e exibindo sem pena os fracassos de um homem comum.
Até hoje, seus romances e suas poesias conquistaram novas edições, enquanto sua imagem de cronista do submundo continua atraindo curiosos e apaixonados por uma literatura que não faz concessões. A verve autobiográfica e a linguagem quase oral de suas narrativas se tornaram modelo para escritores que buscam formas mais viscerais de expressão. Desprovido de idealizações, Bukowski deixou um legado de páginas que transbordam lucidez e sarcasmo diante das misérias e belezas do mundo, um legado que ainda reverbera no imaginário cultural contemporâneo.