Sábado, 15 de Março de 2025
17°C 22°C
Curitiba, PR
Publicidade

Emilio Ayoub transformou os Muros Caiados de São Luís em Alma Poética

  O poeta Emílio Ayoub se orgulhava de enfeitar muros com suas frases e poesias que pintavam a alma da cidade com amor literalmente natural de sua sinceridade lírica.

Mhario Lincoln
Por: Mhario Lincoln Fonte: Editoria de Cultura do Facetubes
15/02/2025 às 17h13
Emilio Ayoub transformou os Muros Caiados de São Luís em Alma Poética
Emilio Ayoub diante de uma de suas frases.

Editoria de Cultura da Plataforma do Facetubes c/Mhario Lincoln e Orquídea Santos.

 

Conversar com o poeta Emílio Ayoub é como folhear as páginas de um livro de poesia. Entre uma frase e outra, versos, poemas e poesias são ditos. Embora o poeta fale pouco, muito ele observa e o que é observado transborda nas páginas dos livros, ou nos muros da cidade. Sim, conversamos com Emílio Ayoub, o poeta que há décadas enfeita vários muros da cidade com suas poesias, e aproveitamos para mostrar quem é escritor por trás dos muros.

 

De forma subjetiva, Emílio Ayoub se tornaria um dos primeiros poetas visuais de São Luís com sua poesia explícita, acessível a todos. A qualquer um que passasse pelo local de ônibus, de carro, à pé, de bicicleta, de moto... Há várias décadas, São Luís acordou com os muros caiados transformados em lírica forte e contundente. quase uma lição de vida. Uma mensagem otimista. Um conselho, até.

 

Todos os moradores da Ilha do Amor acordavam todo dia e liam as mensagens de Emilio Ayoub, aliás, pequenos versos a fim de que, quem passasse, tivesse tempo de lê-los por inteiro. Uma técnica usada, anos depois, pelo "twitter", lembra? Ela antecipou isso, mostrando pensamentos e poemas curtos, especialmente em avenidas movimentadas da cidade. Essas, além de encantar, fazem, até hoje, refletir e marcar para sempre o cotidiano ludovicense. ele sempre disse e escreveu: “Os muros são enfeites da cidade”.

 

Para quem perguntava o porquê disso, ele, calmamente, respondia: "Sou assim mesmo. Levar poesia para os muros foi uma forma de extravasar a poesia de dentro de mim”.

 

Vale lembrar, também, de dois nomes que sempre buscaram os cenários urbanos para imprimir sua poesia ganharam repercussão mundial. Um deles, é de São Paulo; outro, um artista estrangeiro. São eles, o poeta brasileiro Sérgio Vaz, - “As juras de amor não são mentiras, de maneira alguma! São verdades com prazo de validade...", conhecido por organizar saraus de rua e grafitar versos em muros com o propósito de democratizar a arte, e o escocês Robert Montgomery, que ganhou notoriedade ao utilizar grandes painéis publicitários para exibir seus poemas em espaços urbanos, impactando o público.

 

Os painés públicos do escocês Robert Montgomery. 

Esses exemplos servem de ponte para entender como a poesia de Emilio Ayoub estava à frente de seu tempo porque levava para as ruas "o aprendizado poético tão necessário para viver eternamente", disse certa vez o poeta maranhense Bernardo Coelho de Almeida, sobre a obra de Ayoub.

 

Nascido na década de 1930, reinventou a própria vida de forma quase estoica. Suas frases nas paredes e nos muros são um convite diário para celebrar o tempo presente e cultivar a serenidade. Quem circula desde os bairros mais centrais até locais mais afastados, invariavelmente se depara com reflexões escritas em letras grandes, (ainda restam algumas espalhadas na cidade) desafiando a rotina e atiçando a curiosidade de quem passa.

 

Durante muito tempo, pintou as mensagens em muros de propriedades próprias, sem cobrar nada, por puro prazer de dividir pensamentos com o mundo. Mesmo quando esses espaços são reformados ou recebem nova pintura, ele fazia questão de renovar as frases, acreditando que “a poesia nunca deve morrer”, seu êxtase!

 

Entre as frases que ficaram famosas em São Luís, quatro parecem resumir o espírito estoico leve e otimista que ele transmite:

 

Todo instante é eterno quando vivido com emoção”;

“São belos os reflexos do sol, muito mais belos os reflexos do amor”;

Tudo que é iniciado é dado sequência para sempre, nunca é apagado”; e

“A vitalidade é o reflexo da alma; se a alma está bem, então o corpo está bem”.

 

Quem lê essas mensagens nos muros do dia a dia costuma sorrir, talvez por sentir que a cidade, de certa forma, acolhe e inspira cada pessoa que vive nela. Por outro lado, com mais de uma centena de livros publicados, ele nunca deu sinal de ter esgotado seu ímpeto criativo.

 

Sempre acreditava que a juventude da sua alma garantiria sua criação até o fim, fato que aconteceu no dia 20 de janeiro de 2025, horas depois do falecimento da irmã querida, Lâmia Ayoub, também uma mulher de destaque dentro da sociedade maranhense, a quem era muito ligado.  

 

Enquanto der, vou seguindo movido à poesia franca, que nasce de momentos simples: uma conversa, um pôr do sol, o olhar amável de um desconhecido”, dizia com ênfase.

 

Nesse gesto espontâneo e em vários outros, ele revelava a raiz do que escreve nos muros – um impulso de compartilhar beleza, como quem diz: “viva e não adie o encantamento”.

 

Com certeza hoje, Emílio está escrevendo frases de amor, na nos muros da esquina do paraíso.

 

* O conteúdo de cada comentário é de responsabilidade de quem realizá-lo. Nos reservamos ao direito de reprovar ou eliminar comentários em desacordo com o propósito do site ou que contenham palavras ofensivas.
500 caracteres restantes.
Comentar
Keila MartaHá 4 semanas São LuísEu já li várias dessas poesias em muros, é interessante cada poeta tem seu estilo, sua individualidade e isso pode passar despercebido para alguns enquanto que para outros poemas é marcante e fica eternizado na memória de quem aprecia.
EDOMIR MARTINS DE OLIVEIRAHá 4 semanas São LuísEmilio e Bernardo Almeida são nomes que contribuíram muito para elevar a cultura maranhense
JaimeHá 4 semanas BSB/DFIrá fazer muita falta. Procurava tornar a vida dos cidadãos mais leve, com seus magníficos poemas. Descanse em paz poeta!!!
ANTONIO GUIMARÃES DE OLIVEIRA Há 4 semanas São LuísEsse de todos "injustiçados", foi o maior, com 150 livros publicados, poemas em diferentes estilos. Publicações escritas em papel, muros ladeiras e outros. Nunca recebeu convite para Academia, porém seu reconhecimento por leitores e o público ecoa para sua imortalidade.
Mostrar mais comentários