Raimundo Fontenele
A estrutura funcional do CREA compunha-se de três câmaras especializadas: Câmara de Arquitetura e Engenharia Cívil, Câmara de Agronomia e Câmara de Engenharia Elétrica. A elas cabia julgar os processos contra os que construíam de forma ilegal; regularizar, registrar e manter regularizada a situação dos profissionais de cada área e, enfim, resolver todas as questões burocráticas inerentes a cada Câmara especializada.
Havia reunião semanal de cada Câmara e, talvez pela minha boa redação do abaixo-assinado, fui designado para secretariar as reuniões da Câmara de Engenharia Elétrica, presidida pelo Dr. Junqueira, muito cordial e de quem nunca esqueci. “Quem escreve um abaixo-assinado daquele deve ter competência suficiente para escrever as atas das reuniões”, deve ter pensado o Dr. Valdir quando me indicou para assessorar a Câmara de Engenharia Elétrica.
No fim de cada mês havia uma reunião do Plenário, quando se faziam presentes todos os membros das diversas Câmaras, e eram reuniõe demoradas e, por isso, enfadonhas que se prolongavam às vezes até depois da meia noite. Mas o final era compensatório porque o jantar era especial, vindo de um restaurante, cujo cardápio era variado e de dar água na boca.
No segundo semestre de 1978 entrou um novo funcionário, o Júlio, devia ter por volta dos 20 anos, a gente logo ficou amigo, ele era viciado em maconha e eu voltei a usar a erva maldita em sua companhia.
Sempre após o expediente saíamos à procura de um lugar onde pudéssemos fumar um ou mais baseados. E numa rua próxima à Praça Osório achávamos um lugar pouco iluminado onde a gente podia fumar sossegado, até certo ponto, porque ali mesmo algumas vezes tomamos um atraque da polícia, mas nunca nos encontravam com a droga. Estava sempre na cabeça ou malocada ali nas imediações de onde estávamos.
Outras vezes íamos até o Passeio Público e sentados na grama perto do lago ficávamos curtindo a marijuana numa boa. Acontecia também de eu ir com o Júlio comprar a droga lá pelas bandas do Parque Barigui, pois perto do Parque morava um dos fornecedores de quem meu amigo adquiria o fumo.
Álcool e maconha, dependendo da psiquê do usuário, é uma mistura explosiva. Ninguém segura essa onda. E tem uns malucos, travestidos de médicos, psicólogos, psiquiatras, que atestam serem essas drogas não tão perniciosas assim, o problema são os traumas de infância, a repressão paterna e o autoritarismo de professores.
Ora, quem quiser se entupir de drogas e álcool que o faça. Segundo pregam, o indivíduo está apenas exercendo o livre arbítrio e a sua liberdade em toda plenitude.
Passei a sair na noite em companhia do Júlio, ele entrando com o fumo e eu com a cerveja e a gente terminava o programa num desses inferninhos baratos e sem nenhuma segurança.
Numa dessas noites, nem sei o como e o porquê, estávamos com duas garotas bebendo cerveja, o Júlio iniciou uma discussão com a girl que estava com ele, ela deu um fora nele pois ele lhe dera umas taponas, acho que ela foi se queixar com o seu gigolô, o certo é mal saímos do barzinho fomos atacados por dois brutamontes.
A gente nem teve como reagir, se defender, levamos uma surra bem dada, ficamos lá jogados no chão lambendo as feridas, e ainda por cima os badboys tinham levado nossas carteiras com dinheiro, relógio, anel, só deixaram os nossos dedos.
Lembro que foi em julho de 1978, na noite de nascimento da minha filha, enquanto mulher e filha permaneceram no Hospital, resolvi explorar e aproveitar a noite, bebendo cerveja ali no centro da cidade, nas proximidades da Rua Riachuelo (foto ilustrativa).
Aliás, nessa rua ficava uma famosa boate, a Presidente, num edifício que durante o dia era um primor de decência, salas onde funcionavam escritórios de advogados, consultórios médicos, clínicas de estética e outros que tais, mas à noite, com as salas e negócios encerrados, no térreo abria-se para o mundo as portas da Boate Presidente, e como nos versos do poeta Carlos Drummond de Andrade, há uma hora em que os bares se fecham e todas as virtudes são negadas.
Ocupei uma mesa e pedi uma garrafa de Château Duvalier, que eu bebia acompanhada de mini cervejas pretas, enquanto alisava pernas e coxas de uma loura fenomenal que veio me fazer companhia.
Como não estou escrevendo roteiro de filme pornô prefiro omitir certos detalhes e ir direto para os finalmente.
Finalmente não houve nada de bom do que eu estava pensando. A loura belzebu aproveitou-se quando eu já estava meio bêbado ou bêbado e meio e chamou um táxi, segundo ela iríamos até o seu apartamento, mas o que aconteceu é que o taxista sacou um revólver, tomaram todo meu dinheiro, mas ainda bem que fizeram o favor de me deixar na porta de casa.
É, minhas saídas noturnas em Curitiba, com certeza, não estavam sendo aprovadas pelos deuses. Muito menos por Baco.