Marco Duailibe (Textos escolhidos. Original do Facebook: https://www.facebook.com/marco.duailibe.7).
"Ás vezes eu sonho com a saudade. Ela tem cor, cheiro, som e sentimento. A minha rua é a mãe da minha infância".
Sexta-feira gorda. Já fui cedinho comprar meu rodó na Casa Amarela. As cadeiras de casa já estão na calçada pra ver o cortejo de blocos passar. Os vendedores de máscaras e chapéuzinhos feitos de cartolinas coloridas enchem meus olhos de tanta fantasia.
Em cada esquina, uma quitanda lotada de caixas de maisena se prepara para aguardar os foliões que chegam de todos os cantos da cidade.
Afinal a Rua do Passeio é a passarela de tantos carnavais que levava alegria da Praça da Saudade à Praça Deodoro.
Ouve-se os clarins da Turma do Quinto. A batucada ainda era de uma turma do samba.
Da Belira, sobe um bloco tradicional com a magia dos tambores que hipnotiza a multidão com tanto ritmo. Do Goiabal, uma tribo de índio passa entoando seu grito de guerra.
Todo mundo se cumprimenta. Todo mundo se conhece. A velha São Luís é do tamanho da minha rua. Velhos amigos que só se veem de folia em folia. Vizinhos oferecem milho quentinho, um pedaço do pão de ló que acabou de sair.
De repente, do meio da algazarra sai um cordão de fofões. Crianças e adultos que não escondem seu medo, se recolhem correndo gritando. A gente ri. Ula-lá! Abram alas para o corso passar. Sempre achei lindas as mulheres com suas saias de cetim bordeando o velho caminhão, todas com pandeirinhos nas mãos.
Ouve-se um grito de uma coreira preparada para pungá. Lá vem a Casinha da Roça perfumando a rua com cheiro de cuxá e peixe frito. O tambor de crioula parece entranhar em nossos pés, pois é impossível ficar imóvel.
Ás vezes eu sonho com a saudade. Ela tem cor, cheiro, som e sentimento.
A minha rua é a mãe da minha infância.
Deixa eu dormir um pouco mais pra ver se esse tempo ainda mora em mim!