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O AMOR NASCEU ANTES DE CRISTO (a.C.) OU É UM INSIGHT BÍBLICO (d.C.)?

Editoria de Arte e Cultura da Plataforma Nacional do Facetubes.

Mhario Lincoln
Por: Mhario Lincoln Fonte: Facetubes
11/03/2025 às 12h16
O AMOR NASCEU ANTES DE CRISTO (a.C.) OU É UM INSIGHT BÍBLICO (d.C.)?
Ilustração: mhl

 

Por: Editoria de Arte e Cultura da Plataforma Nacional do Facetubes. (www.facetubes.com.br)

 

Quem, afinal, primeiro falou em amor? Dizem que, lá pela antiga Mesopotâmia, entre os sumérios, já se contavam histórias e poemas cheios de ternura. Um dos registros mais conhecidos é “A Canção de Amor de Shu-Sin” (cerca de 2000 a.C.), apontado por muitos historiadores como o mais antigo poema de amor de que se tem notícia. Nesse canto ancestral, percebe-se que o amor já floresce em corações humanos muito antes de sabermos explicar os porquês ou indicar os hormônios envolvidos.

 

Quando abrimos a Bíblia, o amor se apresenta sob diversas faces. Talvez uma das mais conhecidas seja a do amor “ágape”, aquele amor incondicional destacado em passagens como 1 Coríntios 13, frequentemente lembrado em casamentos e cerimônias que celebram uma união. Ali, o amor é descrito como paciente, bondoso e generoso — uma força que transcende as convenções e oferece ao outro tudo de melhor, mesmo sem receber nada em troca.

 

 
No Brasil, entre confetes e serpentinas, o amor ganha cores vibrantes na folia do Carnaval, ocorrido na semana passada. Ali, há quem viva romances relâmpagos, intensos e fugazes como o brilho das escolas de samba. É um amor que pode durar uma noite — ou quem sabe, se estender por toda a vida (como há exemplos práticos divulgados pela mídia). Ou, ainda, episódios similares a Romeu e Julieta, transformados em Pierrot e Colombina. Aliás, essa percepção momesca lembra muito a lenda do Sol e da Lua, com as devidas alterações, que conta sobre dois jovens apaixonados, separados pelos deuses, transformados em Sol e Lua e, assim, condenados a nunca mais se encontrarem. Em certas variações, eles chegam a se encontrar brevemente durante eclipses — mas logo são separados novamente, relembrando o tema do amor impossível que permeia o conto.

 


Contudo, a ciência prefere a lente da investigação metódica para esclarecer esse assunto do “coração”. Da neurociência à psicologia, passando pela biologia, os estudiosos descobriram que o amor não é uma entidade misteriosa, e sim um complexo, por exemplo, de neurotransmissores. Aí, entra a “dopamina”, que acende o entusiasmo e aquela sensação de “borboletas no estômago”; a “oxitocina” e a “vasopressina”, juntas, acabam também, fortalecendo vínculos, aproximando casais e fortalecendo laços duradouros; já a “serotonina”, em baixa na fase inicial da paixão, explica parte da nossa obsessão pela pessoa amada.

 

A ciência explica igualmente o apego entre parceiros e o cuidado com a prole. Essas coisas ajudaram a humanidade a sobreviver e se expandir pelo globo, ou seja, “amar é também, em termos biológicos, uma estratégia de perpetuação da espécie”, como disse Darwin, certa vez.

 

Na verdade, não é o coração, mas a “cabeça”, que sofre com as mutações do amor. Robert Sternberg, em sua Teoria Triangular do Amor (1986), destacou três elementos fundamentais: intimidação (conexão emocional), paixão (atração física) e compromisso (decisão de manter o relacionamento). A combinação deles dá origem a vários “tipos” de amor que experimentamos.

 


Afora esses aparatos físicos, o importante mesmo são os conceitos de amor de forma poética. A poesia é que traduz, muitas das vezes, o “qualified” desse sentimento. Se o amor já tem raízes milenares e explicação científica, o que dizer da poesia contemporânea? Entre tantos nomes, destacam-se dois que souberam cantar o amor com voz inconfundível.

 

O primeiro, estrangeiro, é Pablo Neruda, poeta chileno que escreveu versos apaixonados, como em “Vinte Poemas de Amor e uma Canção Desesperada”. O segundo, brasileiro, é Vinicius de Moraes, cuja obra cheia de sonoridade tropical exprimiu um amor intenso, boêmio e sobretudo humano.

 

No fim das contas, a ciência pode nos falar de hormônios, a arqueologia de poemas sumérios, a Bíblia de um amor que tudo crê e tudo espera e as lendas simétricas. Mas continua sendo a experiência de cada um que dá cor, textura e sentido a esse sentimento universal. O amor, como sugere cada batida do coração, é uma ponte que nos liga, um jeito de pertencer ao mundo e de transformar a vida em algo mais bonito.

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Fontes consultadas

  • “A Canção de Amor de Shu-Sin” (c. 2000 aC) – Museu do Iraque, Bagdá.
  • Sternberg, RJ (1986). Uma teoria triangular do amor . Psychological Review , 93(2), 119–135.
  • Fisher, H. (1992). Anatomia do Amor: Uma História Natural do Acasalamento, Casamento e Por Que Nós Nos Desviamos . WW Norton & Company.
  • Passagem bíblica de 1 Coríntios 13 (versão de domínio público).
  • Obras poéticas de Pablo Neruda e Vinicius de Moraes (acervos públicos e editoras diversas).
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