Com VANICE ZIMERMAN
A imortal APB Vanice Zimerman Ferreira imortalizou essa foto que originou texto poético do jornalista e poeta Mhario Lincoln:
A frase de Mhario Lincoln – “EXISTE UMA LINHA TENUE ENTRE A RAZÃO E O INSTINTO, NA METAMORFOSE DA LAGARTA: ESSA LINHA INVISÍVEL PODE FAZER DA BORBOLETA, APENAS UMA LAGARTA COM ASAS” – ilustra de maneira simples, mas profunda, o risco que corremos de viver traduções apenas na aparência, sem que isso se traduza numa verdadeira mudança interior. A metáfora da borboleta, tão comum nos processos de autoconhecimento, propõe que, para voar, a lagarta precisa passar por uma espécie de morte simbólica no casulo, renovando-se por completo. Mas nem sempre temos a coragem ou mesmo a consciência de que essa metamorfose não se resume a ganhar asas: trata-se de um ciclo de dissolução e orientação, em que impulsos, medos e potências instintivas precisam se harmonizar com a clareza e o senso de direção dado pela razão.
O filósofo Friedrich Nietzsche, ao falar das três metamorfoses do espírito em “Assim Falou Zaratustra”, apresenta a ideia de que um verdadeiro renascimento interior passa primeiro por um estágio de peso (o “camelo”), depois por uma rebeldia consciente (o “leão”) e, só então, pode chegar à pureza criativa (a “criança”). É uma forma de dizer que não basta, por exemplo, apenas rejeitar o que somos ou “vestir” uma nova persona; é preciso aprofundar no que há de mais profundo em nosso ser e, a partir daí, construir algo inteiramente novo. Caso contrário, podemos até parecer diferentes, mas no fundo continuamos a agir como sempre agimos, rendidos aos mesmos padrões, medos ou hábitos antigos.
Quando pensamos nessa linha tão fina entre a razão e o instinto, registramos que o instinto traz a energia primordial dos desejos, dos impulsos e até de uma certa sabedoria intuitiva, enquanto a razão fornece o norte, o discernimento, a capacidade de analisar as consequências. Se não houver essa combinação equilibrada, corremos o risco de permanecer apenas no campo das pulsões descontroladas ou da racionalidade vazia – polaridades que impedem a evolução real, deixando a borboleta presa à condição de “lagarta com asas”.
O grande mérito da reflexão de Mhario Lincoln, portanto, é lembrar que a metamorfose verdadeira não se resume a um adorno estético, mas exige uma mudança de todos os aspectos do nosso ser. É preciso abraçar a força vital dos instintos e, ao mesmo tempo, canalizá-la por meio de uma razão atenta, consciente de si mesma e do outro. Somente assim, longe das disfarces e das mudanças rasas, conseguimos encarar nosso “casulo” e sair dele com coisas legítimas, capazes de sustentar, de fato, o voo de uma nova existência.