Renata Barcellos.
Início de mais um ano, fim do carnaval, mês das mulheres e de muitas cobranças (vida acadêmica, pessoal e profissional). Como estamos lidando com tantas demandas? Sensação de que as 24 horas não são mais as mesmas. Faltam-nos tempo. Cada segundo é cada vez mais precioso. E, com isso, como vai nossa saúde mental?
Cuidar da saúde mental é tão importante quanto cuidar da física. Uma depende da outra. Há séculos existe um provérbio latino: “Mens sana in corpore sano” (“mente sã, corpo são”). De acordo com o site Our World in Data (OWD), 10,7% da população mundial sofre de algum distúrbio da mente. Ou seja, uma em cada dez pessoas têm problemas comportamentais. Preocupante!!! Para Caio Lemos (psicanalista – especialista em crises amorosas e sexuais), diante dos números apresentados, “ se percebe o quanto a saúde mental está pedindo socorro — e eu falo isso porque, segundo dados mais recentes, cerca de 1 em cada 4 pessoas no mundo enfrenta algum tipo de transtorno mental ao longo da vida, como ansiedade, depressão, síndrome do pânico. E sabe o que mais me preocupa? É que, mesmo com tanta gente passando por isso, ainda existe um silêncio enorme, uma vergonha de admitir o que se sente. Muita gente continua sofrendo calada, achando que precisa dar conta sozinha. Por isso, eu insisto tanto em falar sobre esse tema: você não está sozinho, e pedir ajuda é um ato de coragem, não de fraqueza. Se esses números estão tão altos, é porque a vida moderna, com suas pressões e exigências, está adoecendo as pessoas — e precisamos normalizar o cuidado emocional do mesmo jeito que cuidamos do corpo”.
Mais alarmante é o que estamos presenciando nas salas de aula da Educação Básica à Superior. Cada vez mais alunos com diversos tipos de transtornos laudados. Fora os não diagnosticados. Muitos professores têm turmas numerosas, espaços físicos inadequadas de trabalho, não capacitação para lidar com os transtornos... Como manter sua saúde mental? Só que está em instituições de ensino sabe o quão árduo tem sido se manter. O número de docentes em licença é assustador. Por exemplo: de 2019 a 2022, foram emitidas 14.154 licenças por transtornos mentais e comportamentais. E, em 2023, de janeiro a abril, foram quase 2 mil afastamentos. Já, no Rio de Janeiro, em 2023, foram 2.963 pedidos de afastamento concedidos por questões ligadas a transtornos mentais e comportamentais, e 1.405 servidores afastados, o que indica reincidência nas demandas de licença por questões de saúde mental. O levantamento feito mostra que, em 2022, foram 2.545 licenças concedidas.
As diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS, 2020) orientam um mínimo de 150 a 300 minutos de atividade física, de moderada a vigorosa, por semana para que o indivíduo não seja considerado sedentário. É preciso cuidar do corpo. Hoje, com as redes sociais, há diversos profissionais orientando. Tirar alguns minutos por dia para se atividades físicas é primordial.
Ainda de acordo com essas diretrizes (OMS, 2020), a atividade física, em adultos, proporciona benefícios diversos como a redução da mortalidade por causas diversas (hipertensão, alguns casos de cânceres, diabetes tipo 2), além de melhorar a saúde mental, cognitiva, o sono e a adiposidade da pele, reduzindo sintomas de ansiedade.
A Lei nº 10.216, de 6 de abril de 2001, dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais. Esta estabelece normas sobre os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e regula os tipos de internações psiquiátricas (voluntária, involuntária e compulsória). De acordo com o artigo 6º da Lei, a internação só pode ser feita se houver laudo médico que a justifique, com a descrição dos motivos.
Conforme Adriana Gonzalez Bueno (médica psiquiatra pela Universidade Federal de São Paulo, especialista em Saúde Mental Perinatal e com MBA em gestão em saúde pela Fundação Getúlio Vargas), a crescente crise de saúde mental no Brasil, evidenciada pelo aumento de 470 mil afastamentos do trabalho por transtornos mentais em 2024, reflete “uma realidade alarmante que requer atenção imediata. Entre os problemas mais associados a esse fenômeno, o _Burnout_ se destaca como uma resposta ao estresse crônico no ambiente laboral, caracterizado por exaustão emocional, despersonalização e uma diminuição na realização pessoal. Fatores como condições de trabalho adversas, assédio moral, cobranças desproporcionais e a falta de reconhecimento são fatores que agravam o surgimento de transtornos como ansiedade e depressão. Esses elementos criam um ambiente hostil que não apenas afeta o bem-estar do trabalhador, mas também compromete a produtividade e a satisfação no trabalho.
A relação entre trabalho e saúde mental é complexa e multifacetada, sendo fundamental que empresas e gestores estejam atentos às necessidades de seus funcionários. Promover ambientes de trabalho saudáveis que respeitem os direitos dos trabalhadores, ofereçam apoio emocional e incentivem uma cultura de reconhecimento e valorização é essencial. A implementação de políticas que previnam a violência psicológica e assegurem condições adequadas de trabalho pode ser uma estratégia eficaz para mitigar transtornos mentais e reduzir os afastamentos. Investir na saúde mental não é apenas uma responsabilidade social, mas uma necessidade para a sustentabilidade e a prosperidade das organizações”.
Finalizamos com Caio Lemos (psicanalista – especialista em crises amorosas e sexuais),
“muitas vezes, eu escuto no consultório esta frase: ‘Eu não estou dando conta...’. E talvez você também esteja se sentindo assim agora. Essa sensação de não conseguir, de estar sobrecarregado, de não dar conta de tudo o que a vida exige. E eu quero te dizer algo muito importante: isso é normal, isso é humano. Nós não fomos feitos para aguentar tudo sozinhos, nem para sermos fortes o tempo todo. Existe um limite, e ele precisa ser respeitado. A vida vai trazendo demandas, expectativas, cobranças — do trabalho, da família, do relacionamento, e até de nós mesmos. E chega uma hora que o corpo, a mente e o coração gritam por um respiro. Por isso, não se culpe por sentir isso. Errar, falhar, se sentir exausto faz parte do caminho, e não é sinal de fraqueza. É sinal de que você está vivo, tentando.
O que mais vejo adoecendo as pessoas não é o erro ou o cansaço em si, mas essa crença cruel de que precisamos enfrentar tudo sozinhos, sem pedir ajuda, sem pausa. E eu quero te convidar a fazer diferente. Respire. Se priorize. Peça ajuda. Seja gentil com você. Não acredite nessa ideia de que você precisa dar conta de tudo, porque ninguém consegue. A gente só precisa dar conta daquilo que realmente importa — e, muitas vezes, isso significa apenas continuar, um passo de cada vez, com coragem de se acolher. Você não precisa se provar para ninguém. A pessoa mais importante para estar do seu lado nesse momento é você mesmo. E eu te garanto: quando você se trata com mais amor, a vida também começa a ficar mais leve”.
Autocuidado é preciso: do corpo e da alma!!! Ligue 188 para o Centro de Valorização da Vida (CVV). Este oferece apoio emocional e prevenção do suicídio. O atendimento é gratuito (24 horas por dia) e pode ser feito de qualquer linha telefônica.
Outras formas de apoio:
Para reflexão: “O maior erro que um homem pode cometer é sacrificar a sua saúde a qualquer outra vantagem” - Arthur Schopenhauer
“Dificuldades e obstáculos são fontes valiosas de saúde e força para qualquer
sociedade” - Albert Einstein