Colunista JOIZACAWPY COSTA
No dia 21 de Março, “Dia Mundial da Poesia “, IPHAM promoveu um grande encontro de cordelistas em São Luís, já no ritmo de comemoração ao “Dia do Cordel”, dia 22 de Março.
O evento foi regado a Poesia de Cordel – que é patrimônio imaterial - e com grandes apresentações e presença de cordelistas veteranos, “novatos,” crianças e adolescentes aprendizes, com destaque para a Escola Militar Duque de Caxias e o grupo Império do Cordel, que levaram seus iniciantes para esse importante momento que foi um show à parte.
Iniciativas como essa proporcionam a valorização da cultura cordelista em nosso Estado, bem cultural que marca a criação da poesia popular nordestina.
O “II Café com cordel” teve como homenageado o saudoso poeta “Gerô” – um nome que marcou de forma sólida a cultura e poesia popular maranhense – que, infelizmente, foi vitimado por um ato de tortura, tendo abreviado sua vida e impedido de colher os frutos de muito sucesso em vida. Gerô foi representado, no evento, por seu filho, Jederson Rodrigues, que recebeu um troféu oferecido pelo IPHAM em nome de seu pai.
A composição da mesa teve como representantes: Lena Brandão, Superintende do IPHAM; Rafael Gaspar, também representante do IPHAM e dos cordelistas Moisés Lobato, Raimunda Frazão, Goreth Pereira e Mikeias Cardoso.
Muitos outros cordelistas e grupos de Cordel se fizeram presente, dentre os quais: Paulinho “Nó Cego”, Adriana de Jesus, Rômulo Reis, Maria José Lima, Marcondes leite, Império da poesia, Menina de Buique, Edmar Barbosa Antônio Cruz, Companhia Juçara com Farinha, dentre outros. Uma verdadeira plêiade do Cordel maranhense.
Raimunda Frazão trouxe em seus versos o tema feminicídio e também rendeu homenagem a Gerô. Mikeias Cardoso rendeu homenagem aos professores declamando o cordel “O Formador das Profissões é o Professor”; Ingrid Fróes trouxe em seus versos a figura das quebradeiras de coco babaçu; Goreth Pereira declamou “Sou cordel, sou Sertão”.
Foi uma verdadeira celebração da poesia de cordel apoiada pelo Instituto de Patrimônio Histórico do Maranhão (IPHAM) representado por Lena Brandão e Rafael Gaspar.
Aproveitando o ensejo da homenagem, faço um recorte em memória a Jeremias Pereira da Silva, o “Gerô”.
“QUANDO OS FRUTOS SÃO IMPEDIDOS DE SEREM COLHIDOS” (referência à obra “Os Frutos Não Colhidos”, de Gerô)
Gerô, um artista multifacetado que não colheu os frutos de seu talento em vida, como deveria; um talento que dispensa apresentações. Basta ler algo produzido por suas mãos e sua mente para perceber a grandiosidade de seu fazer artístico que vai do Cordel ao romantismo do poema, passeando pela música, trazendo à tona conhecimentos aprendidos em banco de escola, mas, principalmente, conhecimentos oriundos de uma vivência que descortina as verdades sociais, nem sempre adequadas ao “bem viver.”
Trazer Gerô a lume na literatura e cultura maranhense é mais que um resgate, é o “pagamento” de uma dívida impagável. Sim isso é paradoxal, porque vida não se paga, porém o mínimo que o Maranhão pode oferecer a tão incrível artista das letras, da música e das artes, é reconhecê-lo e fazer outros tantos conhecer. E, dessa maneira, imortalizar de forma digna a feitura de sua “pena” (caneta), de sua habilidade musical, sua mente privilegiada e de sua forma inteligente de perceber as injustiças sociais.
Não basta correr a vista sobre a obra do poeta, é preciso beber cada palavra que não se desvencilha de intenções.
As composições de métricas apuradas mostram realidades diversas, principalmente de cunho social, que não se dissocia da política – muito contestada por ele – enquanto atuação falha.
Gerô foi assassinado em 2007, vítima de uma ação policial que alegou tê-lo confundido com um “marginal”. Mas ele vive na imortalidade de seus versos, sua voz ecoa a cada vez que sua arte é lida, escutada, pensada e refletida.
“Ah felicidade
Cortaram as asas da liberdade
Nunca mais conseguirá voar
Os sonhos outrora sonhados
Prosseguir-te-ão para todo sempre
Amém.”
(Gerô)