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A coluna de Joizacawpy Costa de hoje é algo muito especial. Confiram.

Joizacawpy Costa é colunista do Facetubes e membro da Academia Poética Brasileira.

Mhario Lincoln
Por: Mhario Lincoln Fonte: Joizacawpy Costa
28/04/2025 às 16h28 Atualizada em 28/04/2025 às 19h47
A coluna de Joizacawpy Costa de hoje é algo muito especial. Confiram.
Joizacawpy Costa com Rima Awada.

UMA NOITE EM PROL DA PALESTINA

Colunista Joizacawpy Costa


Lançamento do livro “Diários de Gaza: a memória é uma casa indestrutível” com a participação da Psicóloga e tradutora Rima Awada Zahra e do Organizador do livro Rafael Domingos Oliveira, e também lançamento da obra “Sumud em tempos de genocídio” também traduzido por Rima Awada.


O evento, ocorrido no dia 21 de Março, foi conduzido pela palestra dos convidados com a presença do presidente da AML, Dr. Lourival Serejo, e participação do escritor Jeanderson Mafra.

Mesa Coordenadora dos trabalhos, tendo ao centro, o presidente AML, desembargador Lourival Serejo.


Trazer situações delicadas, como o cenário de guerra, para debate e conhecimento do público é extremamente importante, pois vivemos numa sociedade em que as informações nem sempre são favoráveis à real situação vivida por muitos.


Rima trouxe em sua fala a raiz dos problemas que tornam a guerra real, ou seja, que primeiro há um processo psicológico até culminar nesta realidade. Ela nos oferece uma visão mais clara sobre a situação, enquanto muitos pensam ser apenas uma disputa irracional entre povos que se odeiam, a saber: os árabes e israelenses.

 

Com Rafael Oliveira.

A questão  é  que, na verdade, esse atrito é conduzido por um viés já muito vivido e todas as experiências desse cenário hostil trazem consequências nefastas, inclusive o desaparecimento de muitos.


A palestrante Rima nos mostra como fio condutor dessa realidade o processo de colonização, que envolve colonizadores e colonizados já desenhando um perfil de dominantes e dominados.


Essa realidade retrata a verdadeira condição da Palestina, uma luta desumana que dizima milhares de vidas movidas por um ideal de domínio que é marca de um processo colonizador cuja consequência incorre em muitos prejuízos humanos.
Segundo Rima essa ocupação forçada vai gerando traumas com consequências desmedidas, traumas esses que acabam abrindo feridas abissais.

“A ocupação tem consequências traumáticas sobre os palestinos, e as causas objetivas do trauma não desaparecem, elas estão sempre presentes e se agravam. Não é uma ferida que cicatriza, é uma ferida aberta diariamente, cutucada, sem tempo de cicatrização.” (Rima Awada)

 

Rafael Domingos trouxe para sua fala as semelhanças entre as vítimas da guerra consequente de um cenário de colonização e a  situação de outros povos como os africanos escravizados que até  hoje  sofrem o prejuízo desse processo, pois o povo negro que foi escravizado nessa realidade de ocupação  “territorial” – que, na verdade, vai além de questões geográficas - vive em situações adversas, principalmente os que ocupam as regiões periféricas que abriga a maior parte dessa população. Isso é  visível no Brasil! Realidade que retrata a consequência de um processo colonizador escravista que se reflete até hoje.


Rafael abordou ainda sobre a extinção de centenas de povos indígenas, inclusive o desaparecimento de muitas etnias, consequência da ocupação de suas terras pelos colonizadores.

 

“O que tem acontecido na Palestina e no mundo é que a cada novo dia aparece uma notícia trágica, mais grotesca, uma ação mais desumana criminosa que faz que a gente vá progressivamente diminuindo a nossa capacidade de agenciamento social.” (Rima Awada)

 

A verdade nua e crua da guerra é a destruição de povos, de gente que tem direito de viver, são milhares de inocentes dizimados, dentre estes estão crianças e mulheres grávidas, não há nada que possa apagar essa mancha da história, mas a esperança de viver num mundo mais justo precisa estar constantemente acesa. Sumud!

 

O evento foi encerrado com o Sarau Para Palestina com a participação de vários poetas maranhenses. O acontecimento foi organizado pela Aliança Palestina-Maranhão, Academia Maranhense de Letras, Sarau Poético Ludovicense, Editora TABLA e participação especial do Coletivo de Escritores Maranhenses (CEM).


Um momento único de sentimentos, emoções, solidariedade e o grande aprendizado: SUMUD! (Resiliência!)


BILHETE DE IDENTIDADE*

Toma nota!
Sou árabe
O número do meu bilhete de identidade: cinquenta mil
Número de filhos: oito
E o nono… chegará depois do verão!
Será que ficas irritado?

Toma nota!
Sou árabe
Trabalho numa pedreira com os meus companheiros de fadiga
E tenho oito filhos
O seu pedaço de pão
As suas roupas, os seus cadernos
Arranco-os dos rochedos…
E não venho mendigar à tua porta
Nem me encolho no átrio do teu palácio.
Será que ficas irritado?

Toma nota!
Sou árabe
Sou o meu nome próprio – sem apelido
Infinitamente paciente num país onde todos
Vivem sobre as brasas da raiva.
As minhas raízes…
Foram lançadas antes do nascimento do tempo

Antes da efusão do que é duradouro
Antes do cipreste e da oliveira
Antes da eclosão da erva

O meu pai… é de uma família de lavradores
Nada tem a ver com as pessoas notáveis
O meu avô era camponês – um ser
Sem valor – nem ascendência.
A minha casa, uma cabana de guarda
Feita de troncos e ramos
Eis o que eu sou – Agrada-te?
Sou o meu nome próprio – sem apelido!

Toma nota!
Sou árabe
Os meus cabelos… da cor do carvão
Os meus olhos… da cor do café
Sinais particulares:
Na cabeça uma kufia com o cordão bem apertado
E a palma da minha mão é dura como uma pedra
… esfola quem a aperta
A minha morada:
Sou de uma aldeia isolada…
Onde as ruas já não têm nomes
E todos os homens… trabalham no campo e na pedreira.
Será que ficas irritado?

Toma nota!
Sou árabe
Tu saqueaste as vinhas dos meus pais
E a terra que eu cultivava
Eu e os meus filhos
Levaste-nos tudo excepto
Estas rochas
Para a sobrevivência dos meus netos
Mas o vosso governo vai também apoderar-se delas
… ao que dizem!
… Então

Toma nota!
Ao alto da primeira página
Eu não odeio os homens
E não ataco ninguém mas
Se tiver fome
Comerei a carne de quem violou os meus direitos
Cuidado! Cuidado
Com a minha fome e com a minha raiva!

Uimar Junior e sua performance.

 

 

Mahmoud Darwish, poeta palestino, nascido em 13 de março de 1941.
O poema acima foi interpretado pelo artista performático Uimar Gama Junior, que deu um show de interpretação e homenageou o poeta Mahmoud Darwish pela sua data de nascimento.


Joizacawpy Muniz Costa

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MARIA NAUZA LUZA MARTINSHá 2 semanas BrasíliaParabéns querida Joizacawpy. Muito orgulho de você amiga. Salve salve!
Raimunda Pinheiro de Souza FrazãoHá 2 semanas São José de Ribamar Parabéns Uimar Junior! Parabéns Joizacawpy! Parabéns a todos os participantes!
Ingrid Fróes Há 2 semanas São Luís Maranhão Maravilhosa matéria.
Marta Ferreira Há 2 semanas Cururupu MaParabéns, amiga! Sua descrição do evento é de uma qualidade e valia imensuráveis! Algo que entrega tal acontecimento ao leitor, dando-lhe a sensação de tempo real.
Uimar juniorHá 2 semanas Sao luisMaravilhosa poesia. Agredeço ao Mafra pelo convite para interpretar o grande poeta. Forte e de muitacemoção. A poesia vai ficar marcada para sempre nas minhas lembranças. Bravo.
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