Paulo Rodrigues
Professor e pesquisador. Doutorando em Letras - Estudos da Linguagem, pela Universidade Federal do Rio Grande-FURG, mestre em Letras - Estudos Linguísticos, pela Universidade Federal do Maranhão - UFMA, graduado em Letras, pela Universidade Estadual do Maranhão - UEMA , professor do departamento de Letras e Pedagogia da Universidade Estadual do Maranhão. Docente da rede municipal de ensino de Santa Inês e ex-secretário de educação de Santa Inês.
1 Paulo Rodrigues – Fagner Nascimento, o Darcy Ribeiro escreveu o livro A Universidade Necessária. Ele afirmava que a universidade deve pensar soluções para tirar o povo brasileiro do subdesenvolvimento. Como você observa essa afirmação do fundador da UNB?
Fagner Nascimento – A afirmação de Darcy Ribeiro ressoa fortemente com o papel transformador que a universidade deve ter na sociedade. Para ele, a universidade precisa ser um espaço de reflexão crítica, capaz de pensar soluções que atendam às necessidades da população, principalmente dos mais pobres, e combater as desigualdades. No contexto atual, essa visão se mantém essencial, especialmente em um país como o Brasil, onde as disparidades sociais e regionais ainda são muito profundas. A universidade não deve ser apenas um centro de formação acadêmica, mas também um espaço de inovação e de contribuição direta para a superação das desigualdades, seja por meio de pesquisa, extensão ou até mesmo na formação de cidadãos críticos e comprometidos com a transformação social. Na FURG, onde estou como doutorando, tenho a oportunidade de ver essa dimensão crítica da universidade e, como professor da UEMA, percebo como a formação de qualidade pode e deve ir além da sala de aula, impactando a comunidade de maneira direta.
2 Paulo Rodrigues – Quais são os autores de literatura preferidos do professor Fagner Nascimento?
Fagner Nascimento – (Risos) olha. Sou suspeito quando o tema é este, pois tenho a honra de conceder esta entrevista para um dos autores que mais leio ultimamente, o grande poeta e amigo Paulo Rodrigues, o qual suas obras estão na minha mochila de trabalho. A literatura contemporânea brasileira e maranhense ocupa um lugar especial no meu coração. Posso citar nomes dentre tantos que admiro, como Salgado Maranhão, Luiza Cantanhede, Evilásio Júnior, Ferreira Gullar, Conceição Evaristo, entre outros. A literatura local, especialmente, tem sido um espaço de reflexão sobre a identidade e os desafios sociais, o que é uma fonte constante de inspiração. Além disso, gosto de acompanhar a produção de jovens autores que estão trazendo novas perspectivas sobre o Brasil contemporâneo.
3 Paulo Rodrigues – A UEMA tem uma contribuição enorme na formação acadêmica no Vale do Pindaré. Você acha que ela precisa implantar novos cursos e contribuir mais?
Fagner Nascimento –. A UEMA tem, sem dúvida, desempenhado um papel fundamental na formação acadêmica do Vale do Pindaré, oferecendo a oportunidade de um ensino superior de qualidade em uma região que, historicamente, teve pouco acesso a ele. No entanto, acredito que há sempre espaço para ampliar e diversificar a oferta de cursos, especialmente nas áreas de tecnologia, ciências sociais aplicadas, saúde e educação. A necessidade de profissionais qualificados é crescente, e a universidade tem um papel essencial nesse processo de formação. Além disso, iniciativas voltadas para o ensino de curso regular, temos Programa de Formação de Professores (ENSINAR), Programa de formação Profissional Tecnológica (PROFITEC), Programa de Formação Docente para a Diversidade Étnica do Maranhão (PROETNOS), Universidade Aberta Intergeracional (UNABI), entres outros cursos de pós-graduação, que contribuem para a formação e construção social do povo maranhense.
4 Paulo Rodrigues – Fagner Nascimento, você foi um grande secretário de educação. Fez muito para ampliar a aprendizagem dos filhos dos trabalhadores e trabalhadoras. Qual foi sua maior alegria ao desempenhar a função de secretário de educação de Santa Inês?
Fagner Nascimento – A maior alegria foi, sem dúvida, ver a transformação que a educação pode gerar na vida das pessoas. Enfrentei a pandemia como muito força e coragem, com a esperança de um novo amanhecer, e consegui, como muito trabalho e parceria de uma equipe de referência da secretaria. Durante minha gestão como secretário de educação, tive o privilégio de trabalhar em projetos que impactaram diretamente a melhoria da qualidade de ensino, desde a estrutura física de nossas escolas, com a implantação e construção da primeira creche de Santa Inês, a Creche Professora Nazaré Barros, climatização e ampliação de escolas, ampliação na oferta de vagas, entre tantas ações, os quais os frutos estão sendo colhidos. Ver as crianças e jovens se apropriarem do conhecimento, observando seu crescimento acadêmico e suas perspectivas de futuro se ampliando, foi uma grande realização. Além disso, contribuir para a formação e valorização dos professores, ao lado de ações que visavam reduzir as desigualdades de acesso, também foram marcos importantes para mim.
5 Paulo Rodrigues – Você trabalha a literatura contemporânea brasileira e maranhense na UEMA?
Fagner Nascimento – Sim, a literatura contemporânea brasileira e maranhense tem sido um foco importante em meu trabalho na UEMA. Busco sempre trazer essas produções para a sala de aula, discutindo suas características, suas propostas estéticas e suas relações com os contextos sociais e históricos. A literatura do Maranhão, em especial, traz temas relevantes que dialogam com as questões da identidade e da memória, o que é essencial para a formação dos nossos estudantes. Além disso, acredito que discutir a literatura contemporânea permite aos alunos uma compreensão mais crítica e atual do cenário literário nacional.
6 Paulo Rodrigues – Fale um pouco sobre a atividade que acontecerá no dia (30/05) na UEMA? É importante dialogar com os autores contemporâneos?
Fagner Nascimento – O encontro literário do dia 30/05, é uma atividade extensionista junto com meus alunos do 5º período do curso de Letras. Logo, será uma excelente oportunidade para aproximar os estudantes e a comunidade acadêmica da produção literária contemporânea. O diálogo com autores contemporâneos é essencial porque ele amplia o horizonte de compreensão das dinâmicas culturais e sociais atuais. Além disso, é uma forma de valorizar a produção literária local e nacional, permitindo que os estudantes se sintam mais conectados com a literatura que está sendo feita no presente. Esse tipo de evento também estimula o pensamento crítico, o que é fundamental no contexto educacional. Estou muito honrado e feliz com a parceria dos poetas/escritores do “Poesia em Movimento” do Coletivo Vozes do Vale.
7 Paulo Rodrigues – O que você acha do projeto “Poesia em Movimento” do Coletivo Vozes do Vale?
Fagner Nascimento – O projeto “Poesia em Movimento” é uma ação fantástica, pois além de promover a poesia, contribui para a formação de um público leitor mais engajado. A poesia tem esse poder de transformar e sensibilizar, e iniciativas como essa são fundamentais para levar a literatura e a reflexão crítica para as comunidades. É um exemplo claro de como a arte pode ser um motor de mudança social e de construção de identidade. Acredito que esse tipo de projeto fortalece a literatura e a cultura local, criando um espaço de visibilidade para os poetas e escritores da nossa região. E desde já, convido a comunidade de Santa Inês a conhecer de perto.
8 Paulo Rodrigues - Deixe uma mensagem para os nossos leitores.
Fagner Nascimento – A princípio agradeço pelo convite em dialogar com uns dos grandes poetas da nossa literatura contemporânea. Registro meus sinceros votos de estima aos nobres escritores e escritoras da nossa terra e ao jornal AGORA, por disponibilizar o espaço para a literatura. Gostaria de deixar uma mensagem de valorização da leitura e da reflexão crítica. Em tempos de tantas transformações, a literatura se apresenta como um espaço de resistência, de questionamento e de fortalecimento da nossa identidade. Ler é uma forma de entender o mundo e de se posicionar diante dele. E, mais do que nunca, é importante apoiar e incentivar os autores contemporâneos, tanto os da nossa terra quanto os de fora, pois é por meio dessa troca de saberes e expressões que podemos construir uma sociedade mais justa e reflexiva. Abraço fraterno.