Em menos de 3 minutos, a poeta ALCINA AZEVEDO consegue expor toda uma nudez de alma, quando o relacionamento amoroso está por fio. E seu dom aflora quando usa a metáfora do "mar" como uma amplificação de uma possível traição (Da maneira como entendi). Essa mtáfora, também do "barco furado" a mim me pareceu simbolizar uma relação com aparência de salvação que na verdade leva à ruína. O "fundo do mar" representa o ponto final da esperança, uma queda emocional irreversível. Por essa razão é que decidi musicalizar esse poema através de um fado. Sentimental fado — melancolia, destino e saudade — para transformar uma decepção amorosa pessoal em expressão universal. Prendo-me, ainda, na imagem do "barco furado". Chamou-me bem a atenção o uso dela porque reforça 'o caráter ilusório da promessa romântica'. O uso de uma linguagem simples, porém simbólica, permite que a letra funcione como um poema cantado de altíssimo nível de entendimento lírico.
Concluo, destarte, que a letra curta de Alcina Maria Azevedo é um microcosmo de dor, beleza, destino e poesia que resumi numa linha melódica do fato triste de Lisboa, a fim de tentar conduzir o ouvinte a reflexões profundas sobre as promessas feitas e não cumpridas, e sobre os sentimentos que naufragam no silêncio. Em tempos onde a brevidade impera, Alcina Maria Azevedo esculpe com palavras o que muitos não conseguem dizer com discursos inteiros. Apesar dela não interpretar a música, a autora da letra, é uma 'arquiteta do sentimento', que se afoga devagar. Sua letra, lançada ao mundo como um fado comprimido em menos de 3 minutos, só pode (e vai) ecoar como uma onda que se quebra, mas nunca se extingue.
Parabéns confreira Alcina. Mais uma vez você me orgulha.
Mhario Lincoln, presidente da Academia Poética Brasileira.
VÍDEO-BÔNUS
ALCINA E O FADO