Editoria-Geral da Plataforma Nacional do Facetubes/Ilustração: Ginai/mhl
Em uma fala envolvente, Marcelo Gleiser, físico teórico brasileiro, professor em Dartmouth College (EUA), membro e ex-conselheiro geral da American Physical Society, em entrevista ao jornalista Pedro Bial, defendeu uma tese que deve ter incomodado tanto dogmáticos da fé quanto os da ciência: a ideia de que o ser humano jamais terá acesso pleno às verdades últimas do universo.
A partir desse encontro, a Editoria da Plataforma Nacional do Facetubes, tirou algumas conclusões. Uma, a ciência é poderosa, mas limitada; é ferramenta, não revelação. E se existe um traço comum entre as religiões e a física teórica, é a tentativa desesperada — ainda que elegante — de entender o que está além da compreensão imediata.
O assunto tornou-se impactante quando Marcelo Gleiser defendeu que “a ciência não é o único caminho para a verdade” e estendeu o convite para que religião, filosofia, arte e tradições indígenas, estas, também, devem componhar o leque de narrativas capazes de revelar “quem nós somos no mais profundo sentido existencial”.
Segundo Gleiser, a ciência descreve sinapses e córtex pré-frontal, mas não responde por que alguém prefere um vinho ou se emociona com um poema — experiências que escapam de qualquer equação biológica. Essa postura de “visão mais espiritualizada da ciência, que não seja dona da verdade” foi muito forte, pois, segundo ele, “...é preciso olhar, sentir e ouvir o mundo para poder estudá-lo”.
Para o ganhador do Prêmio Templeton, o enigma humano exige pluralidade epistêmica: cada forma de saber—seja a poética, a ritualística ou a científica—oferece facetas distintas do mesmo mistério. “Você tem muitas maneiras de conhecer o mundo. Todas fazem parte de como a gente tenta entender o mistério do que significa ser um ser humano”, conclui Gleiser, lançando um desafio à arrogância reducionista que busca tratamento único para questões que são, na verdade, essência e emoção.
É interessante saber de Gleiser que ele reconhece que, por mais precisa que seja a ciência ao descrever mecanismos físicos e neurológicos, ela esbarra no imponderável quando confrontada com fenômenos estéticos e emocionais – a comoção suscitada por um poema ou as lágrimas diante de um adágio musical. Em seus textos e conferências, ele propõe que a arte (poesia, música, pintura) deve ocupar, sim, um território complementar, onde a razão perde terreno e brota o mistério que falta às equações.
Esse posicionamento, profundamente embebido de racionalismo e mística, aproxima-se do pensamento de Blaise Pascal, matemático e teólogo do século XVII, que escreveu: “O coração tem razões que a própria razão desconhece.” Para Gleiser, esse “coração” pode ser entendido como uma intuição metafísica — ou uma abertura para o sagrado que não cabe em fórmulas ou experimentos.
Vale observar, ainda, que o físico se recusa a cair na armadilha de colocar ciência contra religião. Para ele, o grande problema não é acreditar ou não em Deus, mas sim absolutizar qualquer forma de saber. “Quando você acredita que detém a verdade, você cala o outro. E o silêncio do outro é sempre um sintoma de tirania.”
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