ºMhario Lincoln
A mim me parece não haver nenhuma desmaneira ou plágio, quando uma poeta do calibre de Joema Carvalho, imortal da Academia Poéticas Brasileira, quer homenagear um ícone da MPB. Pois bem! Essa poeta da biolírica — termo cunhado por mim, para definir essa escrita intensamente verde e orgânica, claro, além de espiritualizada — apresenta em "Ramos da Espinha" uma homenagem, sim, a Milton Nascimento, sem roubar-lhe a essência, mas sim, acrescentar outras essências do cheiro romântico da pena de Joema. Ou seja, vida e memória. Isso porque esse lindo poema quer uma conversa direta com algo transcendente, assumindo-se como um ciclo de nascimento, dissolução e reconexão. A espinha, cais da alma, é também caminho de retorno à consciência, lugar simbólico onde a poeta "volta lúcida" e se reinventa ninfa no "ciclo do vento". (Lindo isso, não é?).
Daí, em minha perspicácia, copnseguir ouvir a musicalidade do poema — inspirada na canção "Cais", de Nascimento. Isso imediatamente me levou a uma travessia minha mesmo, entre tempo e ausência, corporeidade e espírito. é tão maravilhoso poder se colocar no lugar de quem escreve e sentir a mesma sensação (no poema) de desmanch e de reagrupação. Por isso que reafirmo que a biopoética de Joema é marcada por mutação; para reconstrução.
Parabéns. Amei ler mais esse poema que faz parte da série de homenagens que você está prestando a Milton Nascimento.
(Abaixo, a íntegra do poema):
RAMOS DA ESPINHA
(Joema Carvalho, inspirada pela música "Cais", de Milton Nascimento)
minha espinha dorsal
cais
donde brotam copas
o mar
que me conectam ao céu
donde brotam minerais
minha espinha dorsal
cais
me ancora
nos princípios
de minha geração
me quebra
caos
quando me solto
mar
volto ao Cais
através
de minha espinha dorsal
uma flor
sobre a copa que já existia
sem folhas
outra coisa
caos
acontece no cais
eu mesma reagrupada
depois que me soltei
para além da solidão
um fruto da espinha dorsal
se solta
no bico duma ave
se expande para além de mim
eu mesma
minha sombra
que não tenho controle
invento um espaço
entre a poesia que aflorou
na superfície da paisagem
e da espinha dorsal
que me resgata
do tempo sem som
donde inconsciente
estive
lúcida voltei
através do Cais
que invento
quando preciso ser ninfa
no ciclo do vento
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