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Universidade: algumas considerações Renata Barcellos (BarcellArtes)

Renata Barcellos é convidada da Plataforma Nacional do Facetubes.

22/09/2025 às 10h38 Atualizada em 22/09/2025 às 22h38
Por: Mhario Lincoln Fonte: Renata Barcellos (BarcellArtes)
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Renata Barcellos
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Renata Barcellos (BarcellArtes)


A palavra "universidade" vem do latim “universitas” cujo significado é "universalidade", "totalidade" ou "corporação". Inicialmente, “universitas” referia-se à comunidade de mestres e estudantes reunidos em uma instituição com interesses comuns. Segundo o professor de História Reginaldo Dias, a transmissão do conhecimento na humanidade “nos leva a pensar que isso advém desde os primórdios dela mesma. O desenvolvimento da fala humana, a capacidade da escrita, seja ela através de símbolos, imagens, letras foi um passo muito significativo. As escolas como espaço de compartilhamento de ensino têm registros de surgimento milenares, os continentes foram diversos: Europa, Ásia, África: Egito cerca de 2000 A.C., China 1046 a 256 A.C. Roma Antiga século III. Com as universidades não foi diferente. A palavra "universidade" vem do latim “universitas” cujo significado é "universalidade", "totalidade" ou "corporação". Inicialmente, “universitas” referia-se à comunidade de mestres e estudantes reunidos em uma instituição com interesses comuns. As universidades surgiram em continentes diferentes: na África e na Europa medieval entre os séculos XI e XII. As mais antigas do mundo são a: Universidade de Al-Qarawiyyin (Fez, Marrocos, 859, fundada por Fatima Al-Fihri. Vale frisar o fato de ter sido a primeira na África e por uma mulher que utilizou a fortuna herdada de seu pai para construir a instituição com o objetivo de ser um espaço de aprendizado e oração), Universidade Al-Azhar (Cairo, Egito, por volta de 970 d.C., foi reconhecida como universidade no século XX). Universidade de Bolonha (Itália, 1088), e a Universidade de Oxford (Reino Unido, 1096), Universidade de Paris (França, 1150, a mais célebre da Idade Média), Universidade de Salamanca (Espanha, 1218), e Universidade de Coimbra (Portugal, 1290). Esta frequentada pelos filhos das famílias tradicionais brasileira”.        

  

As primeiras instituições se organizaram como corporações de mestres e estudantes, ganhando autonomia e desenvolvendo um currículo dividido em áreas como Direito, Medicina e Teologia. Surgiram como “templos da liberdade intelectual”, lugar de reflexão, debate, ideias contrárias serem discutidas ....  Entretanto, hoje... O que presenciamos nos diversos cursos universitários? Este “laboratório do pluralismo” tornou-se “amordaçador”? Abaixo à repressão!!! Diga SIM à LIBERDADE DE EXPRESSÃO!!! Universidade é lugar de REFLEXÃO, NÃO DE OPRESSÃO!!!


Quanto ao cancelamento cultural, urge considerar o contexto no qual a obra foi escrita. É preciso ler textos cujos temas sejam atuais e tabus ainda hoje como contos e romances de Lígia Fagundes Telles e Caio Fernando de Abreu. Em pleno século XXI, a universidade precisa estar de “portas abertas” sempre. Levar a sociedade para circular pelo campus, ter consciência de suas funções sociais. Ser ponte de diálogo entre diversas áreas do saber. É na interação que ocorre a construção do conhecimento.


Outro aspecto são os “guetos” onde só entra quem for “amigo do amigo”. De práticas realizadas, quando chegam ao meu conhecimento, sempre, digo: “quem tem padrinho não morre pagão”.  Sou a favor da meritocracia. Deve ganhar e ser reconhecido quem tem formação e competência e desempenha bem seu ofício. As ementas dos cursos devem ser cumpridas. E não ser a disciplina ofertada um espaço para “autopromoção” da pesquisa realizada ou em andamento.               

                                                                 

Cabe destacar ainda que os eventos acadêmicos (congressos, simpósios...) estão cada vez mais esvaziados. Cada um vai “no seu horário” (muitas vezes, não fica nem no horário completo), para sua apresentação e não participa das atividades propostas. Será que o caro pesquisador já atingiu o “auge do seu conhecimento”? Nada mais o interessa? As propostas online de comunicação estão extensas e com apresentações demasiadas.... Isso é produtivo? E o espaço de troca?       

                                                      

De acordo com o professor de História Reginaldo Dias, vale destacar a questão da ausência do negro, nas universidades, ao longo do tempo. Segundo o pesquisador, nos países que sofreram processo de colonização, o negro “de alguma forma, foi afastado do mundo acadêmico, da linha do conhecimento continuada. No Brasil, teve sua ausência por muitos anos, principalmente, no Período Colonial e no Pós-Reinado. Na República, foi preciso discussões de como inserir o negro na linha do conhecimento. A universidade surge no continente africano, mas o processo de “sequestro” leva à entrada no mundo acadêmica ser proibida por uma infinidade de regras provenientes do processo da colonização”.                

                                                                                                         

O número de negros nas universidades brasileiras aumentou significativamente, impulsionado pela lei de Cotas nº 12.711/2012. Em 2010, negros representavam 10,7% dos universitários, atingindo 38,2% em 2019, e as cotas raciais em universidades federais fizeram a proporção de estudantes negros saltar de 17% para 49% entre 2009 e 2022. No entanto, a proporção de negros no Ensino Superior ainda é inferior à de brancos e caiu para 48,3% em 2022, após tendência de crescimento.           

                   

Já, quanto ao ingresso de estudantes indígenas no Ensino Superior, no Brasil, aumentou significativamente, com cerca de 70 mil alunos matriculados em 2022. Esse crescimento é impulsionado pela Lei de Cotas (Lei Federal 12.711/2012), que reserva vagas em universidades federais e outras instituições e, por políticas específicas, como vestibulares indígenas e programas de permanência. Apesar do aumento no ingresso, os desafios na conclusão dos cursos e na permanência estudantil ainda são grandes, com taxas de evasão consideráveis em algumas instituições. Os motivos são diversos: falta de recurso financeiro, bullying (vale lembrar que este e o cyberbullying são crimes no Brasil desde a sanção da Lei 14.811/2024).                         

                                              

Muitas universidades criaram vestibulares indígenas específicos e programas como o Bolsa Permanência que oferecem auxílio financeiro para a permanência dos estudantes. Os indígenas universitários representam 3,3% dos mais de 1,4 milhão de pessoas que se identificam como indígenas no país, segundo dados parciais do Censo Demográfico de 2022. Em relação ao total de alunos no Ensino Superior, eles são 0,5%. Na população brasileira em geral, com cerca de 214 milhões de habitantes, o percentual de universitários era de 4,1% em 2021. No que se refere aos professores indígenas em universidades é muito pouco. Em 2021, apenas 428 dos mais de 483 mil professores de Ensino Superior eram indígenas. Em relação a esta pesquisa, são quase 1.693.535 indígenas declarados.    

                                                                                                         

Conforme Marina Miranda (professora da UFES, de pesquisas vinculadas à UFPA e no curso Pedagogia Intercultural Indígena, na UFES): “Em uma turma na universidade em  espaço educativo multilíngue com 4 ou mais povos é desafiante para o professor e para o coletivo de estudantes. Exemplo: uma aluna Xavante monolingue que ainda não é fluente na Língua Portuguesa com outros estudantes. Imagina o desafio deste processo intercultural... mas é fundamental para o processo de aprendizagem por ampliar as formas de pensar o mundo sendo intercultural e pluriepistêmico. Nestas distintas cosmologias aportam diferentes territórios étnicos educacionais. Trata-se de um potencial de conhecimento amplo para os estudantes de etnias diversas como para os professores. Nesta temporalidade, penso que é importante abrir vagas para docentes indígenas em concursos públicos é fundamental, para tal é que acessem mestrado e doutorado, porque ainda há muitos professores não indígenas que atuam nas Licenciaturas indígenas sem conhecer as realidades. Os estudantes indígenas tendo  acesso e permanência ao Ensino Superior qualificam a Educação Escolar Indígena diferenciada em seus territórios. Com esta formação, qualificam a Educação de Crianças e adolescentes indígenas, pois serão eles os professores licenciados a atuarem em seus aldeamentos”.

 

Vale destacar também a obrigatoriedade do estudo da história e da cultura afro-brasileira e indígena em todas as escolas do Brasil da Educação Básica e, na licenciatura de Letras e História, na Educação Superior, de acordo com a Lei nº 11.645. Infelizmente, a grande maioria não tem uma formação qualificada nesta área e, consequentemente, não orienta devidamente ao longo de todo Ensino Básico. Quando abordam estas temáticas, muitos se limitam a mencionar os clássicos escritores como nas africanas: Agualusa (Angola), Agostinho Neto (Angola), Mia Couto (Moçambique) e Pepetela (Angola). E o reconhecimento de contemporâneos como Abreu Paxé, AC Khamba, Agostinho Gonçalves João , Beni Dya Mbaxi, Benise Kalundu, Boaventura Cardoso, Edmar Leal, Edmira Manoel, Eliseu Banori, Énia Wa Ka Lipanga , Eurico Carmona, Heduardo Kiesse, Helder Simbad, Josina Viegas, Litera Munthu, Morgado Mbalate , Nelson Emilio, Vera Duarte...? E, especificamente, as mulheres escritoras? Nos últimos cinco anos, em destaque,  Chimamanda Ngozi Adichie (Nigéria) e muitas mais há e devem ser estudadas e reconhecidas como as citadas anteriormente.                                                                                                                          

E nas indígenas: Daniel Mundurucu, Eliana Potiguara e Ailton Krenak (o primeiro indígena a ingressar na Academia Brasileira de Letras – ABL, em 2024 – matéria disponível em (https://www.facetubes.com.br/noticia/5087/renata-barcellos-traz-com-exclusividade-para-a-mesa-de-discussao-do-facetubes-o-novo-imortal-ailton-krenac). Urge haver ensino das literaturas indígenas abordando a diversidade de autores clássicos e contemporâneos como Auritha Tabajara (primeira indígena a publicar cordéis no Brasil, utiliza os versos para transmitir a cultura do povo Tabajara). Julie Dorrico, da etnia Macuxi. Doutora em Teoria da Literatura, poeta, escritora, palestrante, pesquisadora de literatura indígena. Márcia Wayna Kambeba (geógrafa, escritora, poeta, compositora, atriz, roteirista e ativista indígena do povo Omágua/Kambeba). Porakê Munduruku (contador de estórias e histórias. Articulador no Pará da @kabiadip. Coordenador do @teko.artivismo. Pesquisador associado à @pavicpesquisadores.                  

 

Para finalizar, você, leitor e ou professor de literaturas, tinha conhecimento desses autores? Estão nos livros didáticos adotados pela instituição de ensino onde leciona?  Urge a historiografia das literaturas ser reescrita, a fim de reconhecer quem (de fato) contribui com as literaturas afro-brasileiras e indígenas.                                                                                                                                     

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JAIMEHá 2 meses BSB-DFParabéns pela magnífica explanação. Um texto muito explicativo.
Aguri TaxatiHá 2 meses Manaus AMExcelente texto professora Renata.
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