
*Joizacawpy Costa
JMC- Milanya, sei que sua escrita não se resume à literatura infantil, entretanto percebo um forte movimento que te leva a escrever livros para crianças. Qual o maior motivo dessa escolha?
MCS - A literatura infantil me escolheu. Sempre acreditei que a infância é o solo mais fértil para semear poesia, imaginação e valores humanos. Como educadora, convivo diariamente com crianças curiosas, inventivas, que veem o mundo com olhos de encantamento. Escrever para elas é um ato de amor, de escuta e de esperança, é acreditar que a leitura pode formar pessoas mais sensíveis e conscientes.
JMC- Como surgiu a literatura infantil na sua trajetória literária?
MCS-Surgiu de forma natural, dentro da escola. Minhas primeiras histórias nasceram de conversas com as crianças, das brincadeiras no pátio, das cores dos projetos pedagógicos e das expressões que ouvia nos corredores. A partir dessas vivências, percebi que podia transformar o cotidiano em narrativa, e que os livros infantis seriam a ponte entre a professora e a escritora.
JMC- Como acontece a receptividade das crianças em relação aos seus livros?
MCS - É sempre uma festa! As crianças se reconhecem nas personagens, nas situações, nas cores e nos cenários das histórias. Elas comentam, riem, perguntam, sugerem finais… e isso é mágico! Já tive momentos em que uma criança me disse: “Tia, parece comigo!”, e foi aí que percebi o verdadeiro sentido da representatividade na literatura. É um retorno afetuoso e inspirador.
JMC- Quais temáticas já foram abordadas em seus livros? E por quê?
MCS- Gosto de abordar temas ligados à cultura maranhense, à identidade, à diversidade e à infância em sua plenitude. Meu livro fala sobre a cultura popular maranhense, imaginação, tradições populares e afetos. Obra como “Aninha e a Dança do Bumba Meu Boi”, reflete meu desejo de unir o lúdico ao educativo, de modo que a criança aprenda brincando e se reconheça na sua própria cultura.
JMC- Como você percebe a importância e valorização da literatura infantil no contexto social?
MCS - A literatura infantil é uma poderosa ferramenta de formação humana. Ela ajuda a desenvolver empatia, criatividade e senso crítico desde cedo. No contexto social, ela atua como resistência, num mundo tão acelerado e tecnológico, o livro continua sendo um espaço de pausa, escuta e imaginação. Precisamos valorizá-la como um direito, não apenas como entretenimento.
JMC- Você acha que a literatura infantil já ganhou seu merecido espaço na sociedade? Como você enxerga esse aspecto?
MCS - Ainda não completamente. Avançamos muito, principalmente com políticas públicas, feiras literárias e o trabalho de educadores comprometidos. Mas ainda há um caminho a percorrer. É necessário que o livro infantil seja visto com o mesmo prestígio de qualquer outra literatura, e que autores, ilustradores e editoras tenham o reconhecimento que merecem. A infância precisa estar no centro das políticas culturais.
JMC- Fale um pouco sobre seu mais recente livro infantil já lançado.
MCS - Meu livro mais recente é “Aninha e a Dança do Bumba Meu Boi”, uma homenagem à cultura do Maranhão e à imaginação infantil. A obra traz uma menina sonhadora que transforma o São João em um cenário de fantasia e alegria. Através dela, busco mostrar às crianças que nossas tradições também são poesia — que o Bumba Meu Boi, as fitas coloridas e os sons das matracas fazem parte da nossa identidade e merecem ser celebrados desde cedo.
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A AUTORA
Milanya Caminha Silva, é Ludovicense, professora da educação infantil em São Luís - MA, pós graduada em psicopedagogia institucional, poeta, escritora de literatura infantil.
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