
Editor: Plataforma Nacional do Facetubes — Editoria de Carnaval c/ Mhario Lincoln.
#Bomdiafeliz — 26 de outubro. Em São Luís, a Favela do Samba sopra 74 velas com a convicção de quem moldou a identidade do carnaval maranhense. A escola nascida no Sacavém em 26/10/1950 coleciona façanhas raras: heptacampeã seguida entre 2006 e 2012 — marca que a igualou à Portela dos anos 1940 — e dona de uma galeria de títulos que a mantém no topo do imaginário popular.
Quando o assunto é recente, a Favela continua jogando alto. Nos últimos dez carnavais com apuração (2015–2025), a escola foi campeã em 2015, 2017 e 2019; dividiu o título de 2023 com a Flor do Samba; ficou em 4º em 2020; 6º em 2024; e vice-campeã em 2025 — um rendimento que a mantém entre as protagonistas da Passarela “Chico Coimbra”.
A engrenagem dessa longevidade tem rostos. Um deles é o professor, jornalista e gestor cultural Euclides Moreira Neto — hoje presidente e figura-pivô da Favela. Doutor em Comunicação e autor de pesquisas e documentários sobre a cultura popular; nos 70 anos da escola, assinou a série de filmes comemorativos e, agora, conduz o ciclo que escolheu homenagear “Nelinha do Babaçu”, para 2026. “Identidade cultural é o jeito de fazer o carnaval maranhense”, resumiu em entrevista recente.
Nelinha do Babaçu é mais que tema: é símbolo. Cornélia “Nelinha” Rodrigues nasceu em Palmeirândia, filha de quebradeira de coco, e transformou o saber em empreendedorismo e ativismo, chegando a embaixadora na Brazil Conference 2025. Ela encarna a potência feminina do babaçu, da economia da floresta e da dignidade do trabalho tradicional — a mesma matéria-prima que vibra nos surdos e tamborins da Favela.
A Favela conhece bem o peso de homenagens certeiras. Em 2010, a escola enfileirou o pentacampeonato com o enredo dedicado ao compositor maranhense César Teixeira — “A Favela se fez bandeira no planeta de César Teixeira” — um desfile-manisfesto que marcou época. A própria imprensa local registra: o ano foi dele, e a Favela, campeã.
Agora, o coração azul-amarelo bate no compasso de “Nelinha do Babaçu”, samba de Paulo Silva, Paulo Jr. e Raul Silva, na verdade, a verdadeira voz comunidade favelense. A letra é uma narrativa de resistência: abre com “do ventre da mata, moara floresceu”, crava o babaçu como ouro sagrado e desenha a menina de Santa Eulália que aprende com o coco a consciência; o refrão arma o cenário de trabalho (“farinha, artesanato, óleo pra cozinhar”), economia solidária e sonoridade do território (“o tambor do Sacavém faz cofo balançar”).
O segundo trecho ergue a mãe-palmeira como bandeira, semeia futuro, e costura pertencimento — “a preta é rainha dessa passarela”, amarrando fé, ancestralidade e favela como raiz. É um samba que não folcloriza. Mas, documenta saberes, nomeia ofícios, dá textura ao ritmo (“quebra o coco, favelense, ao som da minha carcará”) e usa imagens cranianas do Maranhão (palmeiras, cofo, carcará) para dizer que carnaval aqui é geografia social.
Assim, setenta e quatro anos depois, a Favela não desfila: (...) ela confirma que é, na verdade, um grande projeto cultural de cidade, pois igualou recordes históricos nessa área e formou gerações de ritmistas que, a meu ver, sempre trataram o desfile como linguagem e com rigor. Tudo, resultado de pesquisa, direção artística e o (importantíssimo) ‘pé no chão’, de toda da comunidade. É por isso que, quando a bateria Carcará desce, a ilha inteira aprende de novo a dançar”, completa o jornalista e poeta Mhario Lincoln.
Mín. 13° Máx. 18°