POR UM MINUTO APENAS
(Só queria um minuto apenas para me afogar na retina dos teus olhos e contemplar os lampejos do meu desejo e excitação nela refletidos)
Nauza Luza Martins
O novo ano logo chegará. Sigo postada na janela assistindo aos fogos de artifícios pipocarem no céu por toda parte até aonde minha vista alcança. Penso em ti. Queria apenas um minuto para estar contigo antes que o ano termine. Sentir teu cheiro, teu hálito quente sussurrando em meus ouvidos, teu beijo molhado com gosto de vinho e abraço apertado.
Só queria um minuto apenas para me afogar na retina dos teus olhos e contemplar os lampejos do meu desejo e excitação nela refletidos.
Te deixaria ficar um pouco mais apenas para devanear em teu olhar, descobrir os segredos e mistérios de tua mente viajante e fugidia. Sim, porque o tempo transcorreu, ele não espera, segue seu alucinante ritmo sem dó nem piedade. Ai de nós. Ai de mim. Faz tempo que nos perdemos numa curva acentuada do nosso caminhar juntos. Era uma curva sinuosa e cheia de empecilhos. Nos perdemos por nossos próprios motivos. Seguimos diferentes caminhos. Não vou culpar o destino e alegar que ele nos quis distantes. Fizemos escolhas. Saímos do rumo. Hoje percebo, que as poucas opções que tínhamos, não eram favoráveis a nenhum dos dois. Agora não importa mais. O que passou é passado.
Quem dera fosse simples assim. Nunca te esqueci. Tua imagem vagueou por meus pensamentos durante todos esses anos. O tempo é nosso inimigo. O destino nos prega peças dramáticas. Posso até fingir um sorriso meio amarelado, da cor das minhas lembranças e das cartas amarrotadas que te escrevi. Porém, negar minhas lembranças de ti isso não é possível. Nossos momentos juntos renderam memórias que alucinaram minhas noites de solidão por todos esses anos. Foram tantas as revivências que a minha boca ainda festeja o sabor intenso de vinho misturado ao néctar gotejante de tua espada em riste.
Saio do meu estado de autocomiseração ao ouvir o barulho ensurdecedor dos fogos de artifícios e contemplo a chuva de faíscas reluzentes que cortam o espaço. Penso ter visto uma estrela cadente abrindo brechas no céu, faço então um pedido - um minuto apenas contigo.
Ouça meu grito de saudade e solidão. Tenho o peito zunindo das dores do cupido que um dia me flechou me colocando em tenso perigo. Preciso de um minuto de abraço e acalanto para acalmar meu coração calejado e sofrido de tanto esperar por ti em eterno desencanto.
Te peço um minuto de licença poética. Dor e sentimento misturados com tinta, papel e lamento implorando clemência por minha paixão ardente, sem correspondência. Não importa. Agora o tempo passou. Sei disso. Perdi a noção de tudo por um minuto. Ouço a contagem de tempo. Logo iniciaremos um novo ano. Sigamos em frente. Somos como as águas de um rio corrente. Ficamos um em cada margem, aflição efervescente. Será que terei uma resposta? Tu chegarás aqui antes que o ano termine? Será que algum dia chegaremos juntos à nascente do rio que nos separa? Ainda preciso de um minuto do teu tempo.
Nauza Luza Martins/(Lua de Vênus)
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