A IDADE DA ARTE
Linda Barros, professora e atriz.
O tempo é voraz. Ele passa por nós sem pedir licença, sem nada dizer e, quando menos esperamos, já está a centenas de quilômetros de distância de nós. Ele é cruel, some das nossas vistas sem dó nem piedade, deixando-nos triste pela convicção de saber “que el reloj no da vuelta hacia atras”, como diz os versos da música “Minutos”, do guatemalteco Ricardo Arjona. O tempo sempre influenciou nas nossas vidas, nas nossas conquistas, como dizem por aí, “tudo a seu tempo”. E como sabemos, nada dura para sempre, mas, de uma forma ou de outra, temos que estar conectados com o passado. E, na história da vida, o passado e o presente são contrapartes que têm muito a dizer.
Na vida e na arte, a magia, o encantamento e o lúdico sempre estiveram presentes na vida das pessoas. Acostumamo-nos a ter nomes como Tarcísio Meira, Glória Menezes, Juca de Oliveira, Stênio Garcia, Fernanda Montenegro e tantos outros, não menos importante, todos os dias na televisão brasileira, mas de uma hora para outra, esses mesmos nomes escaparam das nossas vistas, das nossas telas de cinemas, dos nossos palcos, restando apenas resquícios para contar às futuras gerações o que foi e quem eram os grandes nomes das telenovelas.
Coincidentemente, todos esses artistas têm praticamente a mesma idade fisiológica e cronológica no mundo das artes, seja teatro, cinema ou televisão. Daí então, o tempo voa e traz consigo nomes de uma geração mais recente como Wagner Moura, Matheus Nachtergaele, Lázaro Ramos, Silvério Pereira, Thaís Araújo, Débora Falabella, Letícia Colin, Tatá Werneck e, com certeza todos eles guardam na memória todas essas referência como verdadeiras escolas de interpretação.
Chegamos ao nosso Estado. Aqui listamos nomes que estão no cenário nacional, como é o caso de Deo Garcez, ator brilhante que representa muito bem seu legado. Para quem não se recorda do ator, ele foi André em “A Escrava Isaura”, Xande de “Por Amor” e o senhor Morales em “Carrossel”. Recentemente, brilhou nos palcos, na peça “Luiz Gama, uma voz pela liberdade". Outro nome que também ficou conhecido no cinema nacional, com o longa “O Último Cine Drive-in”, foi Breno Nina, que atuou na novela “Éramos Seis” e uma teve breve participação em “Cheias de Charme”, ambas na Rede Globo, nessa emissora tivemos o também maranhense Rômulo Estrela que atuou nas novelas “Novo Mundo”, “Além do do Tempo”, “Deus Salve o Rei” entre outros trabalhos. Esses são só alguns jovens atores que acreditaram no sonho e buscaram um lugar ao sol.
E ainda nas terras férteis do Maranhão temos verdadeiros gigantes das artes, seja teatro, cinema ou artes visuais. Nomes que já percorreram um longo caminho e que o tempo mostrou o quão talentosos são, provando que idade está só no RG.
Arte é vida, arte é inspiração e a lista continua. Aqui nas terras de Ana Jansen, ou terras de Ferreira Gullar, atores veteranos mostram seu talento e brilham nos palcos ou no cinema, sem levar em consideração um número na identidade ou uma ruga a mais no rosto. São nomes colossais como Domingos Tourinho, Uimar Jr, Miguel Veiga, Urias de Oliveira, Lúcia e Leila Nascimento, Lúcia Gato, Fatima di Franco e tantos outros nomes que perpetuam seus talentos e continuam brilhando nos palcos reais e nos palcos da vida.
O talento é inerente a qualquer idade, nomes como o jovem Ruan do Vale, que brilhou nos palcos com “Rimbaudemonio”, ao lado de outro jovem talento, Luciano Fergar, “O Rapaz apressado”, ao lado do inesquecível e experiente Charles Melo, “O Casamento”, na companhia da jovem atriz russa, radicada no Maranhão, Maria Itskovich, entre outros igualmente belos trabalhos, como é o caso de Áurea Maranhão (que mesmo não sendo maranhense, carrega o Maranhão no sobrenome), que recentemente participou da primeira temporada da série Cidade Invisível. Al Danuzio, esse jovem e brilhante ator, diretor e roteirista. Para quem não se lembra, Al é o premiado diretor de Aquarela, curta-metragem ganhador de dois Kikitos no Festival de Gramado em 2018. Mais nomes aparecem nessa imensa lista de talentosíssimos artistas que representam a arte pulsante de nosso país.
A Arte é toda forma de expressar os sentimentos, a alegria, a magia, o encantamento. A arte por si só não existe, ela precisa de um corpo físico para tal. Em 2019, nossa cidade ferveu de tantas estrelas que brilharam e todas elas tiveram alguém em quem se espelhar, isso porque lá atrás, no passado, houve uma inspiração para impulsionar esses jovens a querer muito mais. Nomes como Tássia Dur, que encantou a todos no instigante espetáculo “Ensaio sobre a Memória”, da Pequena Companhia de Teatro; Lucas Diniz, prêmio de melhor ator de teatro de 2019 pelo espetáculo “Quase” da Cia Teatro Improviso; Annera Mourato, eleita melhor atriz comediante de 2019; Laura Neres que já viveu a Dorothy e O Homem de Lata, personagens de “O Mágico de Oz”, pela Cia Teatro Improviso.
Recentemente esteve em São Luís, um dos maiores ícones do humor brasileiro, Dedé Santana, ator/personagem de uma vida inteira no programa “Os Trapalhões”. Dedé esteve aqui a convite de outro jovem artista, o diretor, ator, roteirista e músico Erlanes Duarte, responsável pela franquia “Muleque Té Doido”, filme que chegou à quarta parte e terá participação, mais do que especial, do Trapalhão Manfried Sant’ana, o nosso eterno e admirado Dedé Santana. O ator, apresentador, diretor de cinema, dublador, humorista e roteirista brasileiro nos falou um pouco sobre como está a arte em tempos de pandemia. Segundo ele, “a arte está prejudicada em nosso país, com essa pandemia, não está sendo fácil para ninguém”.
Dedé contou também que um de seus projetos é levar para o Norte e Nordeste a tríade artística formada por circo, cinema e teatro, pois, segundo ele, com essas três artes misturadas, todos ganham em técnica, criatividade e talento. O artista, nesse projeto, dará uma atenção especial ao circo, considerado por ele como “a mãe de todas artes”.
Dedé Santana enfatizou também a importância de se valorizar e conhecer artistas mais experientes, que serviram também para seu crescimento intelectual e profissional, nomes como Lúcio Mauro e Jorge Dória, que para ele foram uma verdadeira escola, sem falar nos humoristas, como Oscarito, Grande Otelo, Tutuca, entre outros. Nos seus altos de seus 84 anos, Dedé deixou um recado para os mais jovens: “Essa garotada que faz teatro, faz cinema, tem que assistir um filme que se chama ‘Era uma vez Atlântida’, de Carlos Manga, que conta a verdadeira história de como era o nosso cinema, na comédia”.
O tempo passa, o tempo voa, mas nossa memória deve preservar intacta os nomes que fizeram a história desse país, seja no cinema, teatro ou televisão e independente de idade, cabelos brancos ou de algumas indisfarçáveis marcas do tempo no rosto, o talento não é medido por fases ou gerações, mas sim por um futuro que espera ansioso o tempo passar.
Enfim, dizer que a Arte não está na pele, não está na idade, pois não importa em que ciclo da vida você esteja, fazer teatro, cinema ou televisão, é levar entretenimento ao um país que chora por seus entes queridos, é levar alento àqueles desprovidos de condições emocionais ou psicológicas, pois a Arte está na essência do querer ser, do querer fazer. A verdadeira arte é eterna.
Mín. 11° Máx. 24°
Mín. 12° Máx. 26°
Tempo limpoMín. 14° Máx. 27°
Tempo limpo