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Ensaio de Mhario Lincoln sobre “Ópera de Nãos”, de Salgado Maranhão, vai ganhar tons internacionais

Leia mensagem enviada pelo autor de “Ópera de Nãos” ao jornalista Mhario Lincoln

10/10/2024 às 16h10 Atualizada em 10/10/2024 às 16h18
Por: Mhario Lincoln Fonte: Orquídea santos
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algado Maranhão & Mhario LIncoln
algado Maranhão & Mhario LIncoln

"Meu caro amigo! Você foi o primeiro leitor altamente qualificado a mapear meus rastros literários. Suas reflexões são poderosas, tanto que, aquele ensaio que você escreveu em torno do 'ÓPERA DE NÃOS', foi escolhido por minha tradutora para o árabe, (Nadal Al Qadi), como prefácio da edição desse livro no Egito". (Salgado Maranhão).

"É com imensa emoção que recebo essa notícia que me deixa feliz em saber desse alto passo que dou nessa minha luta incessante em estudar muito, a fim de aprender cada vez mais e produzir trabalhos para minha participação 'beija-flor', no incendio da floresta da literatura nacional.  Porém, quero confessar sobre as entranhas de minha análise: mergulhei em teu livro de poesias. Com a certeza de que a tua lírica tem que ser entendida de forma inversamente proporcional ao tecnocrático, ao pirotécnico, sem analgia ou parcialidade.  Nesse caso específico, a leitura poética deixa de ser, unicamente, um padrão estético, para ser um instrumento lírico a interagir diretamente com nossos mais puros (ou impuros) sentimentos, tornando a mente equilibrada, o perispírito incorporado e o 'ruach' - o nosso espírito natural - cheio de energia...". Muito obrigado!". (Mhario LIncoln).

 

*ORQUÍDEA SANTOS

Abaixo, reproduzimos o trabalho do jornalista Mhario Lincoln, editor-sênior da Plataforma do Facetubes, sobre esse livro forte e convincente (SM virou ícone no Congresso Nacional americano), que, com certeza, é um marco na poética brasileira, assinado pelo poeta Salgado Maranhão, aplaudido merecidamente no Planeta.

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O PONTO - G - NA POÉTICA METAFÓRICA (Ou carta aberta a Salgado Maranhão)
Resenha de Mhario Lincoln sobre a obra "Ópera de Nãos", do premiado poeta e escritor Salgado Maranhão.
 
*Mhario Lincoln
 
“(…) Porque a chuva lava
o outono e a manhã
é somente um homem
no colo de um rio (...)”
 
 
Li ferozmente o teu “Ópera de Nãos”, caro Salgado Maranhão, (prêmio Jabuti-2016). Fui debulhando a obra e junto, levado pela ansiedade de terminá-la para reler quantas vezes fossem necessárias, acabei concluindo o que disse Fabrício Carpinejar: “A ansiedade é uma espécie de imaginação acelerada”. E eu complemento: meus 'ais' foram contaminados por intérminos gerúndios atemporais; impossíveis de controlar.
 
 
“(...) muito além do nada/ (…) de ser templo e carne;/ (…) que vence o estrume com seu perfume (…)”. Isso porque “vendemos as pupilas/ por um prato de sonhos/ e só temos lágrimas/ para o jantar (…)”. (Às págs. 55. e "Ladainha").
 
 
A primeira reação sistólica, me fez, então, me radicalizar de tal forma, que comecei a escrever este texto como sempre quis fazer e não me havia concedido coragem, desde quando li Hölderlin: vendo a poesia como parte integrante das entranhas do Homem, libertando-a de quaisquer proezas técnicas.
 
"Ópera de Nãos", produziu em mim, de imediato, um efeito façanhoso e eu também disse um 'não' quase eclesiástico: a partir de agora, não mais analiso obras literárias abissais, de 'fora para dentro', mas atentando para os enredos filigrânicos encontrados nas percepções convexas; de 'dentro para fora'. 
 
Nem precisei ir muito longe para entender a tua mágica lírico-metafórica, explicitamente livre de engrenagens amórficas. Neste livro, ipsis litteris:
 
“(…) O pôr do sol te nomeou/ para iluminar as dálias, mas/ venderam-te ao arbítrio/ e ao sermão das urtigas./ Bendita seja a chuva secreta/ que te incita a ordenhar palavras (…)”. Às págs. 75.
 
 
É assim que tu consegues caro Salgado, moldar a tradução literal da essência; a essência poética; lida, sentida e analisada, sendo árvore nevrálgica humana, com dor e êxtase nirvânico: deflúvios construtivos da tua lógica aédica. E só quem experimenta essa sensação convexa, consegue enxergar essas filigranas.
 
Porque, de uma forma ou de outra, olhando além do mito da Caverna 'dialódica' entre Platão e Glauco, tudo acaba virando grito, canto, repreensão, dilúvio, protesto, mergulho, rompante; ou uma lágrima de saudade... 
 
É esse o arômata provocador desse choque vivificante na compreensão do leitor, o qual responde de forma imediata a esses estímulos, como eu respondi, apressando-me a desamarrar minhas mãos da parede platônica, em busca do respiro de sombras reais.
 
 
Isso porque, caro Salgado, não há mais razão para se medir qualidade lírica de forma academicista, sob obras que explicitam o humano, não o humanoide das novas inteligências artificiais, frágeis aglutinadoras de retalhos pinçados de imensos relatórios técnicos, com meras conclusões mecânicas, presas a escolas, rimas, harmonias, métricas, tetrassílabos, pentassílabos ou hexassílabos. 
 
Havendo-me assim, doravante, me fez pensar: 'uau', eis o Milagre! Após “Ópera de Nãos” e dos paradoxos eclodidos de borboletas azuis, me senti livre para degustar o sabor único exalante, que empresta uma textura existencial aos teus versos contidos nessa bula intimista, até, com a “funcionalidade de palavras chaves, recorrentes (…) carregadoras de significância adicional (…)”, na escrita de Charles Perrone, da Universidade da Flórida, sobre esse teu livro.
 
Como se vê, há mágica no ar! Alguma coisa aconteceu quando atingi o ponto ‘G-Metafórico’ deste vade-mécum. Incitou-me a caminhar no limite dos lampejos sensoriais, "beirando a borda da tua língua", caro Salgado, “(...) nesse equilíbrio delicado em que um passo para trás é o lugar-comum e um passo para frente é o ininteligível (…)", bem como suscitou a professora Iracy Conceição de Souza, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), em posfácio.
 
Porque na "beirada de tua língua", há inquietas provocações: 
 
 “(…) E dormi sob o vento/ e a noite ferida de raios./ Havia um punhal entre as flores”. Às págs 70.
 
Só esses três versos podem levar a milhardárias interpretações introspectivas da essência, como, por exemplo, na filosofia existencialista: uma representação da angústia e incerteza que acompanham a existência humana?    
 
Por isso, insisto em proclamar aos ventos pré-alísios: poesia é muito mais essência, que técnicas enciclopédicas. O inimaginável Mário Quintana é muito claro quando aborda o tema: "(...) Tudo já está nas enciclopédias e todas dizem as mesmas coisas. Nenhuma delas nos pode dar uma visão inédita do mundo. Por isso é que leio os poetas. Só com os poetas se pode aprender algo novo (...)". Caderno H/São PauloGlobo/Pág. 165/1995.
 
E Martin Heidegger (1889-1976) sobre a poesia de Friedrich Hölderlin: “... o homem habita em poesia. (...) A poética hölderliniana está para além de ser  tomada como um mero estudo literário para fins especificamente críticos e/ou acadêmicos". 
 
Segundo Heidegger, "(...) Hölderlin não era um poeta qualquer, cuja obra se resume a um objeto de estudo para historiadores da literatura. Ele é o poeta que indica o futuro e que por isso não deve permanecer um simples objeto de estudos holderlinianos, preso a representações da história da literatura (...)". (o "...poeticamente o homem habita..."/Hölderlin-heideggeriano/roberto amaral/revista germina).
 
Destarte, não há mais porque vincular o ‘eu poético’ de Salgado Maranhão, apenas, - por hermenêutica - a definições curriculares, exacerbações ortográficas, linhagens pertinentes aos conceitos linguísticos. Mesmo que eu venha a respeitar, elogiosamente, quem o faça.
 
A poesia incrível desse Samurai e Mestre de Shiatsu, Salgado Maranhão, pulula, vibra, cria e recria algo biológico, que massageia e acalma. São princípios do “Karma”, que ainda molham os “Upanisads Védicos” - finalidade e essência. 
 
Por isso, digo que esta obra não é um monte de folhas escritas rigorosamente entupidas de regras específicas e cingida em capa dura. Este livro tem medula:  
 
“Em teu uivo há uma agonia/ de bicho rasgando a placenta. E/ há um cio devoluto que chama pra luta (…)”. Às págs. 75. 
 
Consagra-se pela grandeza lírica, feito sangue: 
 
“Que riso orgânico/ se dilata além/ do deserto?/ Além da orla da pupila/ e seus rubis?/ Poderia escandir a manhã/ em fatias/ e doá-la aos pássaros,/ mas estou cego de azuis/ e palavras que sangram (…)”. Às págs. 28.
 
Por existenciais orgânicos:
 
“Uma fenda se abriu/ nos lábios, ante/ o vaso partido/ e um desejo/ que nos chama/ a depor./ Fingi que meu cio/ fosse alimento/ aos teus leões domados;/ Sonhei que teu néctar fosse orvalho/ para a cidade em chamas (…)”. Às págs. 70. 
 
Explícita mensagem calórica, brotando de suspiros de nirvana; estado eterno de graça. 
 
Agora, confesso: essa minha ideia de mudança de foco nas análises lírico-artísticas vêm desde o momento em que assisti e ouvi a fala do professor John Keating, personagem de Robin Williams, no filme "Sociedade dos Poetas Mortos", diante do prefácio “Entendendo poesia”, do Dr. J. Evans Pritchard, Ph.D. 
 
De forma emocionante ele diz: "Não estamos abrindo valetas. Estamos falando de poesia. Como pode descrever a poesia como se fosse um concurso? (...) Quero que rasguem essa página. (...) adeus J. Evans Pritchard, esta é uma batalha. É guerra. Os feridos podem ser seus corações e almas (...) Não importa o que digam, não lemos, nem escrevemos poesia porque é bonitinho. Mas porque somos humanos, porque a raça humana está repleta de paixões (...)".
 
Ano passado (2022), trinta e dois anos depois do  lançamento do filme (1990), dou-me com "Ópera de Nãos" e isso robusteceu a minha coragem de mudar o foco, mesmo que alguéns ou ninguéns, viessem a interferir em minhas elucubrações.
 
Foi assim, mestre Salgado Maranhão, que mergulhei em teu livro de poesias. Com a certeza de que a tua lírica tem que ser entendida de forma inversamente proporcional ao tecnocrático, ao pirotécnico, sem analgia ou parcialidade. 
 
Nesse caso específico, a leitura poética deixa de ser, unicamente, um padrão estético, para ser um instrumento lírico a interagir diretamente com nossos mais puros (ou impuros) sentimentos, tornando a mente equilibrada, o perispírito incorporado e o “ruach” - o nosso espírito natural - cheio de energia.
 
Eis a mágica, portanto, conterrâneo. 
 
Xeque-mate!
 
 
 
Curitiba-PR
24.02.2023
Mhario Lincoln, Presidente da Academia Poética Brasileira.
 
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*A jornalista Orquídea Santos é chefe da ASCOM, da Academia Poética Brasileira.
 
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Meus mais sinceros agradecimentos ao feedback emprestado por Salgado Maranhão, após a leitura desta resenha:
 
Jose Salgado Maranhão. "(...) Meu estimado conterrâneo Mhario Lincoln.  Muito tem-se escrito acerca de minha poética, mas, você foi ao caroço da fruta.  Veja bem, minha inquietação estética remonta à longínqua tradição da poesia ocidental (Homero, Camões, Holderlin, Baudelaire, Gonçalves Dias, Cruz e Sousa, etc.), além das filosofias orientais (os Vedas foram minhas primeiras leituras nesse sentido). Tudo isso misturado com a poesia moderna brasileira, o cantar dos repentistas da nossa terra. E tantas coisas mais que não cabe elencar aqui nesta breve conversa. Porém, você foi o primeiro leitor altamente qualificado a mapear meus rastros literários.(...)". 

 

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Joema CarvalhoHá 1 ano CuritibaParabéns Mhario Lincoln e sucesso ao Salgado Maranhão!
José Claudio Pavão SantanaHá 1 ano Whats App/S.Luís-MAParabéns, meu amigo. Você nos orgulha. O Maranhão respira porque ainda há intelectuais como você.
Josiel UFMA LETRASHá 1 ano São Luís MaranhãoO maior poeta vivo do Maranhão, em seu gênero, e um grande resenhista literário nos últimos dois anos. Essa é a realidade!
Marta Alencar GomesHá 1 ano Fortaleza CEMhario Lincoln, Mhario Lincoln, Mhario Lincoln. Só felicidade.
Robert VoughanHá 1 ano NYorkSince you are in the American Congress, when will the English edition be released, Mr. Salgado?
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