Redação do Facetubes
No dia 27 de janeiro de 1929, nasceu em São Gonçalo do Abaeté, MG, Maura Lopes Cançado. Sua trajetória, marcada por desafios e tragédias, deixou um legado literário profundo e impactante na história da literatura brasileira.
Maura Cançado, apesar de pertencer a uma família abastada com ligações com política mineira, enfrentou uma infância difícil, repleta de crises de pânico e epilepsia, além de alegados abusos cometidos por empregados. Casou-se aos 14 anos, tornando-se mãe aos 15. Aos 18 anos, já separada do marido, tomou a decisão de internar-se voluntariamente em uma casa de saúde, onde recebeu o diagnóstico de esquizofrenia.
Aos 22 anos, Maura mudou-se para o Rio de Janeiro e começou a escrever contos e crônicas, que foram publicados em veículos como o Jornal do Brasil e o Correio da Manhã. Foi durante a década de 1960 que ela publicou suas obras mais notáveis, "O Hospício É Deus" (1965), a primeira parte de seu diário, que relata seu período de internação em um hospital psiquiátrico, e a coletânea de contos "O Sofredor do Ver" (1968). Ambos os livros foram recebidos com elogios pela crítica literária da época.
No entanto, os anos finais de sua vida foram marcados por tragédias. Em 1972, Maura Cançado cometeu um ato chocante, assassinando uma paciente em uma das clínicas onde estava internada. Isso a levou a ser considerada inimputável e a ser confinada em um hospital penal, onde enfrentou condições degradantes de higiene, que contribuíram para a deterioração de sua saúde. Ela só foi libertada em 1980, mas passou por diversas outras clínicas nos 13 anos seguintes até seu falecimento, em 1993, quando estava doente, solitária e esquecida.
Após duas décadas de seu falecimento, a vida e a obra de Maura Lopes Cançado foram resgatadas, principalmente através de trabalhos acadêmicos. Seus livros foram relançados e sua escrita passou a ser incluída em coletâneas que discutem literatura produzida por mulheres e temas relacionados à loucura, destacando a importância de sua contribuição literária única.
Crítica: "O Hospício é Deus"
Uma das obras mais marcantes de Maura Lopes Cançado, "O Hospício É Deus", oferece uma visão íntima e perturbadora de sua experiência no hospital psiquiátrico. Sua escrita envolvente e visceral mergulha profundamente na mente da autora, revelando as complexidades da condição humana e as fronteiras tênues entre sanidade e loucura.
Cançado desafia as normas literárias tradicionais, utilizando uma prosa que oscila entre a lucidez e a confusão, dando ao leitor uma amostra genuína da luta interior que ela enfrentava. A narrativa é um testemunho corajoso da realidade brutal do tratamento psiquiátrico na época e da alienação que os pacientes enfrentavam.
No entanto, apesar da força de sua escrita, "O Hospício É Deus" também deixa claro o sofrimento pessoal e a tragédia que permearam a vida de Maura Cançado. Assim, sua obra continua a provocar reflexões profundas sobre a condição humana e a importância da empatia em nossa sociedade.
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