Terça, 03 de Dezembro de 2024
20°

Tempo nublado

Curitiba, PR

Brasil Literatura

Maura Cançado: a vida e a obra de uma escritora atormentada que escreveu, “O Hospício é Deus”

“O Hospício É Deus” também deixa claro o sofrimento pessoal e a tragédia que permearam a vida de Maura Cançado.

13/11/2024 às 04h41 Atualizada em 13/11/2024 às 11h44
Por: Mhario Lincoln Fonte: Redação do Facetubes
Compartilhe:
Releitura (MHL/SESC)
Releitura (MHL/SESC)

Redação do Facetubes

No dia 27 de janeiro de 1929, nasceu em São Gonçalo do Abaeté, MG, Maura Lopes Cançado. Sua trajetória, marcada por desafios e tragédias, deixou um legado literário profundo e impactante na história da literatura brasileira.

Maura Cançado, apesar de pertencer a uma família abastada com ligações com política mineira, enfrentou uma infância difícil, repleta de crises de pânico e epilepsia, além de alegados abusos cometidos por empregados. Casou-se aos 14 anos, tornando-se mãe aos 15. Aos 18 anos, já separada do marido, tomou a decisão de internar-se voluntariamente em uma casa de saúde, onde recebeu o diagnóstico de esquizofrenia.

Aos 22 anos, Maura mudou-se para o Rio de Janeiro e começou a escrever contos e crônicas, que foram publicados em veículos como o Jornal do Brasil e o Correio da Manhã. Foi durante a década de 1960 que ela publicou suas obras mais notáveis, "O Hospício É Deus" (1965), a primeira parte de seu diário, que relata seu período de internação em um hospital psiquiátrico, e a coletânea de contos "O Sofredor do Ver" (1968). Ambos os livros foram recebidos com elogios pela crítica literária da época.

Box com as obras de Cançado.

No entanto, os anos finais de sua vida foram marcados por tragédias. Em 1972, Maura Cançado cometeu um ato chocante, assassinando uma paciente em uma das clínicas onde estava internada. Isso a levou a ser considerada inimputável e a ser confinada em um hospital penal, onde enfrentou condições degradantes de higiene, que contribuíram para a deterioração de sua saúde. Ela só foi libertada em 1980, mas passou por diversas outras clínicas nos 13 anos seguintes até seu falecimento, em 1993, quando estava doente, solitária e esquecida.

Após duas décadas de seu falecimento, a vida e a obra de Maura Lopes Cançado foram resgatadas, principalmente através de trabalhos acadêmicos. Seus livros foram relançados e sua escrita passou a ser incluída em coletâneas que discutem literatura produzida por mulheres e temas relacionados à loucura, destacando a importância de sua contribuição literária única.

 

Crítica: "O Hospício é Deus"

Uma das obras mais marcantes de Maura Lopes Cançado, "O Hospício É Deus", oferece uma visão íntima e perturbadora de sua experiência no hospital psiquiátrico. Sua escrita envolvente e visceral mergulha profundamente na mente da autora, revelando as complexidades da condição humana e as fronteiras tênues entre sanidade e loucura.

Cançado desafia as normas literárias tradicionais, utilizando uma prosa que oscila entre a lucidez e a confusão, dando ao leitor uma amostra genuína da luta interior que ela enfrentava. A narrativa é um testemunho corajoso da realidade brutal do tratamento psiquiátrico na época e da alienação que os pacientes enfrentavam.

No entanto, apesar da força de sua escrita, "O Hospício É Deus" também deixa claro o sofrimento pessoal e a tragédia que permearam a vida de Maura Cançado. Assim, sua obra continua a provocar reflexões profundas sobre a condição humana e a importância da empatia em nossa sociedade.

Que tal ler?

* O conteúdo de cada comentário é de responsabilidade de quem realizá-lo. Nos reservamos ao direito de reprovar ou eliminar comentários em desacordo com o propósito do site ou que contenham palavras ofensivas.
500 caracteres restantes.
Comentar
Olha isso, Mhario!Há 10 meses Jean Vital. Minas GeraisÉ do caos que surge a luz. É do caos que surge o novo. É necessário momentos de turbulência para o despertar da consciência. São nos piores momentos da vida que somos forçados a acordar para a realidade que está a nossa volta, para uma realidade que muitas vezes ignoramos e cobrimos com um véu. De Waan Oliver.
Renata da Silva de BarcelllosHá 10 meses Rio de JaneiroO tormento mental atravessa os tempos. Grandes gênios sofriam desta mal. São pessoas que veem além da normalidade. Saem do senso comum. São incompreendidas e com tratamento inadequado muitas vezes. O que faz agravaram seu quadro psiquiátrico. Ainda precisa os estudos avançarem muito no que tange à me te humana. Um mistério ainda a ser desvendado. A pergunta é: para quem acredita em Deus, por que estas pessoas apresentam este quadro de tormento? Os espíritas diriam que para pagar algo ...
alcina maria silva azevedoHá 10 meses Campinas- SPQuantas tragédias vividas pela autora! Quanta tristeza dentro de uma alma, que perambulou pela vida se atormentando em ódio, dor e sofrimento! Que ela tenha encontrado a paz depois que faleceu.
Chiquinho FiuzaHá 10 meses São Paulo/Lar da esquinaViva a Insanidade, enquanto Poesia!!!!!!! Viva Poe. Viva Baudelaire!!!!!!!!!!!
Luiza CaroneHá 10 meses São Paulo.Impressiona como a arte está vinculada, em muitas vezes, com a insanidade. Fiz uma oficina aqui em São Paulo, ano passado sobre ela. Sai completamente impressionada com o sofrimento. Mas também com o talento dela, apesar de todo sofrimento.
Mostrar mais comentários
Ele1 - Criar site de notícias